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Garotinho afasta presidente da Cehab

da Folha de S.Paulo 10/04/2000 18h42
no Rio de Janeiro

A crise no governo do Rio provocou nesta segunda-feira (10) a segunda demissão em três dias. O governador Anthony Garotinho (PDT) aceitou o pedido de afastamento de Eduardo Cunha, presidente da Cehab (Companhia Estadual de Habitação), alvo de denúncias de irregularidades.

O pedido não foi feito por Cunha, mas pelo deputado federal Francisco Silva (PST), dono da rádio evangélica Melodia, que o indicou para o cargo. Em carta ao governador, Silva pede: "Se, após concluídas as apurações, nada ficar comprovado contra ele, o senhor, que sempre se pautou pela justiça, o reconduza ao cargo que agora lhe devolvo".

A Secretaria de Comunicação do governo do Estado divulgou duas notas sobre o caso. Na primeira, informava que Cunha tinha sido demitido. Na segunda, que foi afastado. Mesmo aceitando o pedido _como fizera sábado com o secretário de Justiça, Antônio Oliboni_, Garotinho saiu nesta segunda em defesa dos colaboradores, em entrevista à TV.

"Não foi punição porque, até prova em contrário, o trabalho deles merece minha confiança. Eles estão apenas deixando o governador à vontade para aguardar o fim das apurações", disse.

Até o fim da tarde desta segunda-feira, o governador não havia anunciado o nome do sucessor de Cunha na Cehab. Mas afirmou à Folha que "será um técnico e não será da quota de Francisco Silva".

Na carta a Garotinho, que chama de "meu irmão querido", o deputado Francisco Silva, que já foi secretário de Habitação, diz que a permanência de Cunha à frente da Cehab estava sendo motivo para que "os aproveitadores e caluniadores" continuassem a "apedrejá-lo (a Garotinho), a fim de que o sonho do povo de Deus não se concretize, para levá-lo à Presidência da República".

Silva, que tem sido o anfitrião de Garotinho em encontros evangélicos em todo o país, afirma querer evitar "qualquer espécie de especulação maldosa, que diga que o irmão Eduardo Cunha está sendo protegido pelo fato de ser evangélico". "É sempre assim, quando alguém se levanta para fazer o bem, as forças do mal se unem para combatê-lo, mas Deus está contigo", diz ao governador.

Segundo o deputado, enquanto estiver sendo investigado, Eduardo Cunha ficará trabalhando em seu gabinete. Em nota oficial, Eduardo Cunha afirma que "não pediu demissão nem foi demitido" e que espera voltar ao cargo assim que ficar comprovada sua inocência. "Por decisão do grupo político que me apóia ficou decidido meu afastamento", diz a nota. Cunha promete processar os que o acusaram.

Cunha, que pertenceu ao PRN do ex-presidente Fernando Collor de Mello, é acusado de favorecer a construtora paranaense Grande Piso, do também ex-collorido Roberto Sass, em quatro licitações do conjunto Nova Sepetiba, o maior projeto habitacional do Estado. As obras do conjunto foram paralisadas pela Justiça depois que a Folha revelou, em março, a falta de licença ambiental.

Na nota que divulgou, Cunha afirma que não favoreceu a Grande Piso e que já provou sua inocência "de forma cabal e contundente" nos documentos que o governador encaminhou nesta segunda de manhã ao Ministério Público.

Outra razão que levou os dirigentes do PDT e do PT a pedirem a demissão de Cunha, nos últimos dias, foram suas relações com o argentino Jorge La Salvia, ex-procurador de Paulo César Farias.

Representando a empresa Caci, La Salvia ganhou duas licitações para prestar serviços de informática à Cehab _uma delas está sendo questionada judicialmente.

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