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Compra de porta-aviões intensifica debate interno na Marinha

RICARDO BONALUME NETO 11/04/2000 08h09
da Folha de São Paulo, no Rio de Janeiro

Se dependesse de alguns almirantes brasileiros, o porta-aviões francês "Foch" já teria sido comprado no final de semana passado. E nem precisaria ser entregue a domicílio, já que estava em visita ao Rio de Janeiro, de onde partiu nesta segunda-feira (10) de volta à França.

A passagem pelo país do "Foch" intensificou o debate interno na Marinha brasileira. Não há consenso sobre a necessidade da comprá-lo. Mas, havendo recursos disponíveis, é bem provável que o porta-aviões mude de dono.

Uma decisão terá de ser tomada nos próximos meses, pois a França pretende desativar o porta-aviões ainda este ano. Existem argumentos fortes pró e contra a compra, de ordem técnica e política.

Entre os almirantes ligados à aviação naval e à esquadra há praticamente uma unanimidade sobre a necessidade de comprar o navio francês para substituir o veterano ""Minas Gerais", construído em 1945 e comprado pelo Brasil em 1956.

Eles argumentam que, em poucos anos, o ""Minas" terá de ser desativado. E que nesse curto período de tempo é impossível projetar e construir um substituto, uma tarefa que levaria uma década partindo do zero, e custaria bem mais caro.

Para evitar a quebra de continuidade no desenvolvimento da aviação naval, o ""Foch" seria a solução mais prática, argumentam alguns almirantes ouvidos pela Folha.

São necessários anos para treinar satisfatoriamente os tripulantes de um navio tão especializado como um porta-aviões, notadamente os pilotos.

O "Minas Gerais" tem um deslocamento total de 19.890 toneladas, comprimento de 211 metros, pode levar a bordo 20 aviões e/ou helicópteros, e exige uma tripulação de 1.300 homens (incluindo o pessoal de aviação).

Já o "Foch" tem 32.780 toneladas, 265 metros de comprimento, pode levar 40 aeronaves e precisa de 2.200 marinheiros (embora em sua visita ao Rio de Janeiro estivesse apenas com 25 aeronaves embarcadas e 1.800 tripulantes).

Custos
O preço de venda do "Foch", estimado entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões, é menos da metade do que se pagaria hoje para construir um navio bem menor, como uma corveta ou fragata com deslocamento de 2.000 toneladas.

Mas o maior tamanho do navio francês traria várias dificuldades, como um custo de operação mais alto.

Além do maior número de tripulantes exigido, o gasto de combustível seria bem mais elevado -o "Foch" é mais pesado e navega mais rapidamente que o "Minas Gerais".

Como a Marinha não costuma ter todo o combustível que desejaria, ou o navio ficaria muito tempo parado, ou o treinamento dos outros navios seria afetado -com grave perda de capacidade operacional para a Marinha como um todo.

E ainda há dúvidas sobre a possibilidade do dique da Marinha na Ilhas das Cobras, centro do Rio, de abrigar um navio destas dimensões em prejuízo para as operações no porto.

Existem também argumentos ligados à doutrina operacional e à estratégia nacional. Há quem defenda que submarinos nucleares seriam mais eficazes para dissuadir um inimigo que quisesse atacar o Brasil ou suas rotas mercantes. E que ter apenas um porta-aviões é colocar todos os ovos em um cesto só.

Além disso, discute-se a conveniência de comprar um navio da França, país que está tentando aumentar sua participação no mercado de armas latino-americano, como indicaria por exemplo a participação acionária de um consórcio de empresas francesas na fábrica de aviões brasileira Embraer.

Haveria o risco de se criar uma dependência política e estrategicamente indesejável com a indústria bélica francesa.





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