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Vice de Itamar quer acabar com crise entre governador e FHC
 

AJB 16/01/99 17h16
De Belo Horizonte

Adepto de uma boa polêmica, o vice-governador Newton Cardoso (PMDB) contrariou a sua índole para assumir o papel de bombeiro na crise entre o governador Itamar Franco e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde o início da briga, Newton tem se esforçado para achar uma solução conciliatória e envolveu os ministros do PMDB no governo FH,
Renan Calheiros e Eliseu Padilha, na tentativa de reatar o relacionamento entre os palácios da Liberdade e do Planalto. "Estou fazendo o papel de sapa", disse Newton na sexta-feira, usando um jargão do Exército que designa os responsáveis pela tarefa de limpeza de terreno.

O vice-governador, porém, não é o único integrante do grupo de Itamar que vem atuando para tentar apagar o incêndio desencadeado pela moratória estadual. Também estão batalhando nos bastidores o deputado federal Raul Belém, que há alguns anos filiou-se ao PFL por sugestão de Fh, e
o deputado federal eleito Hélio Costa, também do PFL. O deputado Ronaldo Perin, do PMDB, foi eleito pela bancada mineira na Câmara dos Deputados alinhada com Itamar como o interlocutor oficial das negociações com Fernando Henrique. A idéia é iniciar esses entendimentos nesta semana.

"Vou esperar até o fim da semana. Se não acontecer nada, vou pegar o telefone e ligar para Fernando Henrique", diz Hélio Costa, para quem a saída da crise passa obrigatoriamente por um convite do presidente a Itamar para um
encontro em Brasília. "Este é o único caminho", afirma o deputado. "O presidente, num ato de humildade, deveria convidá-lo. Itamar não poderia tomar a iniciativa senão iria parecer uma capitulação".

Trombada - As gestões de Newton Cardoso já o levaram a uma trombada com um colega do governo. Na semana passada, o secretário da Fazenda, Alexandre Dupeyrat, negou a afirmação de Newton de que o governo já teria assegurado os recursos para o pagamento da parcela de US$ 108 milhões dos títulos da dívida externa emitidos pelo governo estadual em 1994. "Na verdade, parte dos recursos já estão provisionados. Mas com a desvalorização do real tudo se complicou um pouco", disse Newton no fim da semana, tentando consertar a desafinação com Dupeyrat.

Esse desencontro não significa divergência entre Newton Cardoso e o governador Itamar Franco. No mesmo dia em que Dupeyrat desautorizava o vice sobre a questão dos eurobônus, Itamar Franco anunciava a decisão de nomear a mulher do vice, Maria Lúcia Cardoso, para chefiar
o Servas, órgão de assistência social do governo mineiro tradicionalmente comandado pela primeira dama do estado. Itamar, que é divorciado, preferiu demonstrar uma deferência especial por Newton ao escolher sua esposa para o cargo.

A direção do Servas é o segundo posto ocupado pela senhora Cardoso no governo estadual. Eleita deputada federal com mais de 100 mil votos nas eleições passadas, Maria Lúcia integra a equipe de Itamar como secretária do Trabalho. Na distribuição dos cargos, o governador também reservou
para Newton a indicação dos titulares dos órgãos ligados ao setor de obras públicas. "Fui prestigiado por Itamar além das minhas expectativas", disse Newton a um deputado. "O Itamar tem sido de uma correção absoluta com ele", assinala o embaixador José Aparecido de Oliveira, um dos principais auxiliares do governador.

Moratória - O vice-governador concorda sem ressalvas com a moratória decretada por Itamar e retira o apoio de seu grupo a Fernando Henrique se o governo federal não encontrar uma solução satisfatória para Minas. Isto significará a retirada da bancada governista na Câmara Deputados dos quase 15 parlamentares que seguem a liderança do vice-governador. Além dos integrantes do PMDB, garante Newton, também deputados federais de outros partidos abandonariam a aliança governista na Câmara Federal caso o conflito
se agrave. "Minas não pode ser tratada com tanta frieza pela equipe econômica", protesta o vice-governador.

"Que vingança é esta contra Minas? O que fizemos de mal contra Fernando Henrique?" prossegue Newton, cobrando o reconhecimento do presidente por ele ter aceito os apelos de seus emissários especiais, no ano passado, para desistir da candidatura ao governo de Minas em favor de Itamar Franco. Os
emissários de 1998 os mesmos que Newton está mobilizando agora para acalmar os ânimos: Renan Calheiros e Eliseu Padilha.

Extintor de incêndio - As investidas do deputado Raul Belém incluíram apelos ao embaixador José Aparecido para que ele integre o movimento de pacificação. "Pegue o extintor de incêndio", pediu-lhe. Aparecido vem exercendo a tarefa com discrição. Belém não foi reeleito para mais um mais um mandato na Câmara mas ganhou o posto de secretário do Interior de Itamar e está em busca de uma fórmula para acabar com o impasse.

A principal preocupação de Hélio Costa é fazer deslanchar logo o processo de negociações entre o governo federal e o mineiro. "A negociação está emperrada hoje por um problema de comunicação, exclusivamente", diz Hélio, referindo-se à falta de iniciativa para a realização do encontro FH-Itamar. "Está nas mãos de Fernando Henrique. Basta ele pegar o telefone e dizer: "Itamar, vamos conversar".





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