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"República do pão de queijo" compõe secretariado de Itamar
 

AJB 29/12/98 21h15
De Belo Horizonte

O governador eleito de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), buscou nos antigos colaboradores, que ficaram conhecidos como integrantes da República do pão de queijo, a base de seu futuro governo. Ao anunciar o secretariado, nesta terça, o ex-presidente contemplou as esquerdas, mas os partidos ocuparão um espaço bem menor do que era esperado na formação do pretendido governo de centro-esquerda.

A principal surpresa ficou por conta da destituição do secretário de Fazenda, José Augusto Trópia Reis, antes
mesmo de ele tomar posse. Indicado por Itamar há menos de 10 dias, Reis foi substituído pelo ex-ministro da Fazenda, Alexandre Dupeyrat.

Na composição do secretariado, Itamar Franco privilegiou especialmente seus antigos companheiros. Além de Dupeyrat, estarão ao seu lado os ex-ministros Henrique Hargreaves (que acumulará as secretarias da Casa Civil e da Comunicação), Paulino Cícero (Minas e Energia), Murílio Hingel (Educação), os pefelista Raul Belém (Assuntos Municipais) e Israel Pinheiro Filho (que ficará com a representação de Minas em Brasília) e o ex-presidente de Furnas Marcelo Siqueira, que presidirá a Companhia de Saneamento do estado (Copasa).

O partido de Itamar contará com o maior número de secretarias. Sete peemedebistas assumirão o governo. Entre eles, estão a mulher do vice-governador Newton Cardoso
(PMDB), Maria Lúcia Cardoso (Assistência Social e Apoio à Criança e ao Adolescente), eleita deputada federal pela primeira vez, e o engenheiro Maurício Guedes (Transportes e Obras Públicas), também ligado a Newton.

A fatia que coube a ala de esquerda no primeiro escalão na formação do pretendido governo de centro-esquerda foi bem menor do que a esperada, não passando de uma
subsecretaria, a de Orçamento, que será assumida pelo petista Milton Tavares, e a Secretaria de Recursos Humanos e Administração com o vereador Sávio Souza Cruz (PSB). O deputado Ivair Nogueira será o novo secretário de Esportes, mas apesar de pertencer ao PDT não é considerado um político de esquerda.

O peemedebista e ex-deputado Manoel Costa, que chefiará a Secretaria de Planejamento, é um nome aplaudido pela esquerda, como o da procuradora-geral do estado, Misabel Devir. Itamar criará também o Conselho de Segurança Alimentar, provavelmente coordenado pelo bispo de Duque de Caxias (RJ), Dom Mauro Morelli.

O engenheiro José Augusto Trópia Reis dormiu secretário da Fazenda e acordou presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, do qual ele é funcionário de carreira. Ele havia sido anunciado para o cargo de secretário no dia 20 passado, causando surpresa, mas não vingou. Itamar Franco justificou a troca afirmando que há indefinições sobre o futuro dos bancos de fomento no país e, por isso, ele precisava na presidência da instituição alguém que possa "coordenar melhor o processo". O amigo, ex-ministro e advogado Alexandre Dupeyrat responderá pelo "coração do governo" - durante a transição, foi ele quem
coordenou os trabalhos junto à Fazenda. O presidente da Cemig, estatal que tem merecido a maior atenção de Itamar, não foi indicado.

Itamar Franco admitiu que não foi nada fácil compor um secretariado com o perfil pretendido de centro-esquerda. "Foi preciso fazer uma engenharia genética", destacou. Como
exemplo das dificuldades enfrentadas, o futuro governador contou que convidou um amigo próximo para participar do governo, mas ele, ao ver confirmado pessoas de esquerda no governo, preferiu não aceitar. Ainda assim, o ex-presidente disse que precisava "meditar" para saber se
foi mais difícil convencer conservadores a trabalharem com a esquerda ou o contrário.

Se o secretariado reflete uma composição acanhada com a esquerda, as declarações de Itamar Franco refletem sua disposição em ser pelo menos um incômodo para o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). O ex-presidente voltou a atacar a ordem política, econômica e social do país, "que está empobrecendo o país". Ele avisou que tentará mostrar ao Brasil, a partir de Minas, com a união dos chamados homens de esquerda e conservadores, que é possível "alterar os rumos".

Itamar Franco deixou claro também que não pretende procurar Fernando Henrique, mas ressalvou que, se convocado, não deixará de ir. "Convocado pelo presidente, nenhum
brasileiro pode deixar de atendê-lo. Ele é a figura que simboliza a instituição nacional, seja ele quem quer que seja. Se o presidente entender, amanhã, de conversar com o governador de Minas, o governador de Minas irá conversar com ele institucionalmente, mas se o presidente entender que não precisa conversar conosco, nós também não iremos conversar com o presidente", afirmou Itamar.

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