Nascido em Portugal, Fernando Rodrigues dos Santos chegou ao Brasil em 1951 com a família e se estabeleceu em uma fazenda em Catanduva, no interior paulista.
Mas a vida rural não combinava com a inquietude dele. Veio a São Paulo para estudar química e, por meio de um convênio de sua faculdade com a empresa Gessy Lever, arranjou o primeiro emprego.
Sua química, porém, se voltou para a fotografia, e não para os cosméticos. Um colega engenheiro, amante da fotografia, presenteou Santos com uma câmera Rolleiflex.
“Era uma coqueluche na época. Com a Rolleiflex, comecei a fotografar tudo dentro da fábrica. Peguei gosto.”
Com a câmera, passou a frequentar as várzeas do rio Tietê, onde hoje ficam as pistas marginais. “A alegria do povão era ver os jogos de várzea, e eu fotografava quase todos. Além do futebol, fazia fotos das festas promovidas pelos clubes, com desfiles de misses.”
Em uma dessas celebrações, observou um fotógrafo que enfrentava problemas com a câmera dele. Santos tirou o seu equipamento do ombro e deu ao colega.
Esse fotógrafo na várzea, cujo nome ele não se recorda, era do jornal Última Hora. Diante do gesto que salvou a cobertura dele, esse colega indicou Santos para integrar a equipe do jornal que, mais tarde, foi adquirido pela empresa Folha da Manhã, que edita a Folha de S.Paulo.
Começava assim uma carreira de mais de 50 anos, 44 deles passados na Folha, de onde só saiu em 2011.
Por causa do golpe de 1964, Santos deixou o Última Hora e, ao longo de três anos, viajou o mundo fotografando cruzeiros marítimos para uma agência de fotografias. Depois desse período, retornou à Folha.
Sua experiência com a várzea e a paixão por futebol o levaram a duas Copas: em 1974, na Alemanha, e em 1978, na Argentina. Para essa última, percorreu mais de 2.700 km de São Paulo a Mar del Plata. “Fomos eu, o repórter Ricardo Kotscho, o fotógrafo Antonio Pirozelli e o Ferreirinha, motorista. Era uma perua Chevrolet, que levava os equipamentos”, lembra.
A experiência bem-sucedida de viajar com um carro de apoio com laboratório fotográfico levou Santos a projetar um furgão especialmente para esse fim. Era uma ideia que acalentava havia quatro anos.
“Na Copa da Alemanha, vi um furgão cheio de equipamentos de televisão. Com o apoio do Caldeira [Carlos Caldeira Filho, sócio de Octávio Frias de Oliveira], pegamos uma caminhonete Ford, aumentamos o chassi e fizemos nosso furgão com laboratório, ampliador, gerador e telefoto. Tinha até caixa d’água. Por causa dessa corcunda, [a caixa d´água] ganhou o apelido de Camelo. Viajamos pelo Brasil inteiro com esse carro”.
Não foi só no futebol que mostrou talento. Também acompanhou os movimentos estudantis nos anos 60 e a vida e a morte de Tancredo Neves.
Cobriu ainda as 'Diretas-Já', em 1984. Em um helicóptero, fotografou a Catedral da Sé emoldurando uma massa humana que gritava por democracia. Com a imagem ampliada nas mãos, foi ao secretário de Redação Caio Túlio Costa. “Ele gritou: ‘Para tudo! Vamos mudar a Primeira Página’.”
Hoje, aos 84 anos, Santos fotografa por prazer e ajuda a esposa a administrar o condomínio onde moram, a pouco mais de 100 m da Barão de Limeira, 425, sede da Folha.
Este texto faz parte do projeto Humanos da Folha, que apresenta perfis de profissionais que fizeram história no jornal.
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