No início da década de 1980, quando os primeiros computadores foram instalados na Redação da Folha, o engenheiro Pedro Pinciroli Júnior logo percebeu que um dos obstáculos que precisaria enfrentar era a resistência dos jornalistas que preferiam continuar com suas velhas máquinas de escrever.
Elas pareciam insubstituíveis para os veteranos. Na máquina de Cláudio Abramo, que chefiara a Redação nos anos 1970 e agora era colunista do jornal, havia uma tecla quebrada que ele martelava pensativo sempre que a inspiração fugia. "Não posso abrir mão da minha máquina", dizia o jornalista a Pedro.
Diretor-superintendente da Empresa Folha da Manhã, o engenheiro não tinha motivo para se surpreender. Em três décadas de trabalho na empresa que edita o jornal, ele acompanhou de perto a introdução de várias novas tecnologias e acreditava que as desconfianças iniciais acabariam superadas com o tempo.
"As pessoas sempre se assustam com a evolução tecnológica num primeiro momento, mas assimilam as novidades e logo se engajam no processo quando veem as vantagens que elas trazem para o seu trabalho e ganham autoconfiança para fazer as coisas de um jeito novo", afirma Pedro, hoje com 76 anos.
Ele começou a trabalhar na Folha assim que se formou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1967. Começou como engenheiro de manutenção das máquinas de uma gráfica comercial que pertencia à empresa, a Companhia Lithographica Ypiranga, e logo foi transferido para o jornal.
O empresário Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), que adquirira o controle da Folha cinco anos antes, o chamou para modernizar a área industrial. O plano era não só investir em maquinário novo, mas introduzir métodos de administração mais eficientes, incluindo metas para avaliação de resultados e controle de custos.
A renovação do parque gráfico era uma prioridade, para aumentar a qualidade da impressão do jornal e multiplicar sua circulação. No ano em que Pedro chegou à empresa, a Folha foi o primeiro jornal do país a ser impresso pelo sistema offset, que permitia alcançar tiragens maiores e imprimir a cores.
Em 1971, a empresa deu outro salto ao abandonar a composição das páginas com tipos de chumbo e adotar o sistema eletrônico de fotocomposição, ganhando agilidade. Operários especializados na composição manual das páginas foram substituídos por profissionais capazes de operar os computadores.
Três anos depois, o jornal resolveu acabar com os revisores que conferiam os textos antes da publicação. "Levamos algum tempo para convencer a Redação das vantagens do novo sistema, porque muitos jornalistas temiam que seus erros seriam expostos no jornal com a mudança", conta o engenheiro.
O crescimento da Folha nesses anos também tornou necessária a reorganização dos fluxos de produção do jornal, com a antecipação dos horários de fechamento e a definição de prazos diferentes para as várias seções, com o fim de evitar que o trabalho na gráfica se acumulasse nas últimas horas do dia.
"Era uma bagunça", lembra Pedro. "As páginas desciam para a gráfica todas ao mesmo tempo, sufocando o pessoal, e às vezes os jornalistas iam até lá para mexer nos textos na composição." Com os novos fluxos estabelecidos, foi possível organizar o trabalho de forma mais eficiente, reduzindo atrasos.
O engenheiro passou a integrar a diretoria corporativa do grupo em 1979 e deixou a empresa no fim de 1999, quando se aposentou. Pedro tinha sob sua responsabilidade como diretor-superintendente todas as áreas da empresa, incluindo o Datafolha e o banco de dados do jornal, com exceção da Redação.
Um episódio que marcou sua trajetória foi a invasão do prédio da Folha por agentes da Polícia Federal em março de 1990, poucos dias após a posse de Fernando Collor como presidente da República. Os agentes investigavam suspeitas de irregularidades no faturamento de anúncios publicitários do jornal.
Pedro e o então diretor financeiro da empresa, Renato Castanhari, foram levados à PF para depor. "Aquilo foi um golpe baixo, e a exposição indevida nos causou muita indignação", diz o engenheiro. "Nossos procedimentos eram os mesmos que outros jornais adotavam na época e não havia nada de errado".
Ele ainda estava na Folha quando a internet surgiu. Pouca gente vislumbrava a profundidade das transformações que ela provocaria nos jornais, mas Pedro foi um dos primeiros representantes da empresa a ter contato com o novo mundo que nascia, ao ser enviado numa missão aos Estados Unidos em 1995.
Junto com o jornalista Caio Túlio Costa e um engenheiro de sua equipe que conhecia a área, Pedro visitou algumas das maiores empresas de tecnologia da época, em busca de parceiros para desenvolver um novo negócio que explorasse as potencialidades da rede e a posição vantajosa da Folha no mercado.
O portal UOL foi criado em 1996, por iniciativa de Luiz Frias, atual publisher da Folha. Pedro foi o primeiro presidente do conselho de administração da nova empresa, acumulando a função com suas atividades no jornal, até se aposentar e deixar o grupo. A Folha tem participação minoritária e indireta no UOL.
PEDRO PINCIROLI JÚNIOR, 76
Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, começou a trabalhar na Folha em 1967. Responsável pela área industrial da empresa, passou a integrar a diretoria corporativa em 1979 e foi seu diretor-superintendente até 1999, quando se aposentou e deixou o grupo. Presidiu a Associação Nacional de Jornais e o conselho de administração do UOL. Jogou na seleção brasileira de polo aquático.
Este texto faz parte do projeto Humanos da Folha, que apresenta perfis de profissionais que fizeram história no jornal.
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