Descrição de chapéu Primeira vez réveillon

Réveillon na praia de Copacabana apareceu pela 1ª vez na Folha há meio século

Festa de fim de ano na av. Paulista estreou nas páginas do jornal em 1996

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São Paulo

Embora o desejo de grande parte dos brasileiros seja deixar o catastrófico ano de 2020 para trás em uma rápida contagem regressiva, o dia da virada e o começo de 2021 serão tão atípicos como o resto do ano: sem grandes eventos e reuniões, ao menos oficiais, em decorrência do aumento de casos e mortes pela Covid-19.

A data não será diferente para a cobertura jornalística, que costuma noticiar as novas cifras e os velhos rituais das grandes festas que, neste ano, não vão acontecer. Os shows na avenida Paulista estão cancelados; o famoso Réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, também.

Vista da praia de Copacabana no Réveillon, quando os fogos de artifício ainda eram lançados da areia de praia
Praia de Copacabana no Réveillon, quando os fogos de artifício ainda eram lançados da areia de praia; na virada do milênio, um acidente deixou um morto e dezenas de feridos, e o show pirotécnico foi transferido para balsas no mar em 2001 - Julio Pereira/Reuters

Nas páginas da Folha, os dois eventos foram noticiados pela primeira vez em datas diferentes e de formas bastante distintas.

Em 1965, as festividades de Iemanjá ao longo da “orla marítima da Guanabara” foram noticiadas em uma pequena nota, que também registrava o Réveillon do hoje quase centenário Copacabana Palace, com “dez orquestras” e “escolas de samba com cabrochas, passistas e ritmistas contratados da Mangueira, Salgueiro e Império Serrano”.

A praia de Copacabana, no entanto, não é citada.

As festividades voltam a aparecer em 1966 em linhas muito semelhantes, inclusive com menção à festa do hotel.

Mistura de tradição pública de fé e festas privadas em hotéis de luxo, o Réveillon no bairro e na praia de Copacabana foi, aos poucos, tomando o formato que conhecemos hoje, com shows nas areias da praia e fogos de artifício disparados do mar.

Em 1970, a praia já é descrita como a mais procurada da capital fluminense. Um pequeno texto da página 9 de 31 de dezembro daquele ano anunciava a previsão de mais de um milhão de pessoas nas praias do Rio “para assistir a Festa de Iemanjá, Rainha do Mar”.

Nota publicada no dia 31 de dezembro de 1970 com primeira menção às festas de ano novo em Copacabana
Texto publicado no dia 31 de dezembro de 1970 com primeira menção às festas de ano novo em Copacabana - Reprodução

Naquele ano, a previsão da reportagem era de que Copacabana, “que nos anos anteriores era a recordista de presença de público, devido às obras de alargamento da avenida Atlântica deverá ceder seu lugar ao Leme, Ipanema e Leblon”.

Estava aí a primeira menção do jornal às festividades nas areias de Copacabana, ironicamente no ano em que a festa não seria lá grande coisa por conta das reformas em curso.

Já a primeira aparição do Réveillon na avenida Paulista teve data oficial e cara de futuro: “Avenida Paulista tem festa high-tech”, diz texto de 29 de dezembro de 1996.

Texto publicado em 29 de dezembro de 1996 sobre a primeira festa de Réveillon na avenida Paulista
Texto publicado em 29 de dezembro de 1996 sobre a primeira festa de Réveillon na avenida Paulista - Reprodução

Era o primeiro ano da festa, que teve transmissão da TV Bandeirantes. O Réveillon fez com que o fechamento da avenida fosse prolongado. Durante o dia, a Paulista estaria bloqueada para a corrida de São Silvestre (em tempos de pandemia, a prova foi adiada para julho de 2021).

A alta tecnologia, na ocasião, hoje pode parecer trivial. Eram 12 minutos de luzes e fogos de artifício, um telão de 120 metros quadrados para a contagem regressiva e outros quatro, de 30 metros quadrados cada, para transmissão dos shows da noite, com Lulu Santos como atração principal. No topo do palco, uma pirâmide de 18 metros de altura.

Foram cerca de 200 mil pessoas, segundo reportagens da época, aglomeradas pela primeira vez na avenida mais famosa da cidade para a virada do ano. O copo de cerveja custava R$ 1 –corrigindo pela inflação do período, a gelada sairia por R$ 7,48.

*

"Reveillon" e oferendas a Iemanjá no Ano Bom carioca (2 de janeiro de 1965)

O carioca comemorou a passagem do ano 4º Centenário do Rio comparecendo em massa às praias para oferecer presentes a Iemanjá e pedir-lhe sua proteção e nos principais clubes e boates da cidade.

A exemplo do que ocorreu em São Paulo, no início das festividades comemorativas do seu 4º Centenário, aviões da Força Aérea Brasileira, à zero hora, lançaram sobre toda a orla marítima da cidade cinco toneladas de papel laminado, numa "chuva de prata".

O exército saudou o 4º Centenário com o troar dos canhões de suas fortalezas e vasculhando o céu com seus holofotes. A marinha colocou os navios iluminados ao largo de todas as praias da Zona Sul.

O papel prateado foi trazido de Cumbica, em São Paulo e a chuva foi vista até do subúrbio do Méier.

Nas praias
Até pela manhã populares ainda permaneciam nas praias jogando presentes ao mar e acendendo velas na areia.

Durante toda a noite, os adeptos de Iemanjá cantaram pontos de macumbá e pediram à divindade um novo ano mais generoso que aquele que se findara. Champanhe, vinhos finos, jóias, pratarias luxuosas, toalhas e peças de linho eram sucessivamente lançadas às águas.

Reveillon
Mil e quinhentas pessoas comemoraram a passagem de ano no réveillon do Copacabana Palace ao som de 10 orquestras e pagando 30 mil cruzeiros de ingresso.

Escolas de samba com cabrochas, passistas e ritmistas contratados da Mangueira, Salgueiro e Império Serrano se exibiram nos palcos do Copacabana.

Este texto faz parte da série Primeira Vez, que mostra quando temas e personagens estrearam nas páginas do jornal

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