Descrição de chapéu Meu caso com a Folha

Diretas Já e 'ditabranda' são algumas das melhores e piores lembranças dos leitores da Folha

Série Meu Caso com a Folha traz relatos de amor e ódio em relação ao jornal

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Para celebrar seus 100 anos, a Folha convidou seus leitores para dividirem suas melhores e piores lembranças do jornal. As respostas integram a nova série Meu Caso Com a Folha.

Foram recebidos mais de 300 relatos com memórias afetivas, histórias curiosas e, como não poderia deixar de ser, apontamentos críticos e decepções em relação ao jornal.

Leia abaixo uma seleção dos comentários recebidos. Pela grande quantidade, dividimos os comentários em três partes. Leia também a parte 1 e a parte 3.

Minha melhor lembrança se deu durante a época das Diretas Já. Foi quando escrevi uma longa carta explicando porque eu queria votar para presidente. Foi um desabafo de quem nunca havia votado, pois eu atravessara o período da ditadura. Mas qual não foi minha surpresa quando no dia seguinte ou dias depois, não me lembro, a carta fora publicada na íntegra e somente ela, tomando o espaço inteiro.

A emoção foi tanta que comecei a chorar, pois sabia que minha mensagem haveria de ser lida por muitos, sobretudo por aqueles que ainda defendiam o regime militar.

E a menos gratificante foi o fato de nunca mais ter tido uma carta sequer publicada sem entender o motivo, já que adquiri, desde então, o hábito de escrever para os fóruns de vários jornais. E muitas são publicadas até hoje, mas não pela Folha!

Eliana França Leme

psicóloga, Campinas (SP)

Como fato relevante, quero destacar que o jornal foi entregue sem um único atraso ou falha em 60 anos. Isto é algo de suma importância num país que não leva muito a sério disciplina e responsabilidade.

A minha decepção é que eu esperava que a Folha encabeçasse um movimento de massa para que o povo forçasse a queda do presidente incapaz. Parabéns!

Joambell Marques

79, engenheiro de produção, São Paulo (SP)

Minha maior decepção foi aquele editorial da "ditabrandra". Minha maior alegria foi o curso de 4 aulas sobre a ditadura. Fechou um ciclo. Se redimiu.

Edileuza Pimenta de Lima

36, servidora pública, São Paulo (SP)

Um devorador de notícias desde a 2ª Guerra Mundial que, quando ainda adolescente, acompanhava pelos jornais cada batalha, cada derrota, cada vitória, me viciou permanentemente na leitura diária de jornais. Quando finalmente a Folha passou a entregar também às segundas-feiras na década de 80, me tornei assinante.

A Folha tem promovido várias campanhas louváveis, como os quadros “Defender a liberdade da imprensa é defender a democracia”, “Sem liberdade de imprensa não tem democracia”, e a campanha #UseAmarelo pela Democracia. Quanto a esta última, isolado quase há um ano pela pandemia, procuro manter o tempo e a mente ocupados com meus hobbies preferidos, como praticar saxofone por exemplo, e de amarelo em homenagem à campanha.

Moisés Spiguel

90 anos, engenheiro civil, Campinas (SP)

O leitor Moisés Spiguel, 90, praticando saxofone e usando amarelo em homenagem à campanha da Folha pela democracia
O leitor Moisés Spiguel, 90, praticando saxofone e usando amarelo em homenagem à campanha da Folha pela democracia - Arquivo pessoal

De uma maneira geral, acho a Folha o melhor jornal do país. O que me chama a atenção são seções como “erramos" e denúncias de comentários. Como o jornal tem articulistas de vários matizes, nada se pode reclamar, ele é universal. Mas há um ponto que o jornal deixa a desejar: quando se refere às manifestações do ano passado como atos antidemocráticos. Aí peca infantilmente. Pois não são. O que tem acontecido faz parte do jogo democrático inerente à democracia. Coup d' Etat nunca será possível no estágio atual de nossa democracia.

Brízido Galeano

75, aposentado, Belo Horizonte (MG)

A Folha foi o veículo de imprensa que mais perseguiu o governo FHC. Isso foi confirmado pelo ex-presidente em um programa Roda Viva. Eu achava o presidente admirável. Ele conseguiu colocar o Brasil nos trilhos. Ficava sempre muito revoltada quando lia o jornal. Um dia mandei um email dizendo que a Folha era um jornal chato, repetitivo, pois, do princípio ao fim, todos seus editorialistas, jornalistas, comentaristas, repórteres (o jornal todo) falavam contra o presidente. E, para minha surpresa, no dia seguinte, em resposta a minha crítica, no Painel do Leitor, meu comentário foi publicado e ainda ilustrado com uma caricatura de FHC e muitas mãozinhas apontadas para ele.

Eni Maria Martin de Carvalho

Botucatu (SP)

Melhor lembrança: a Folhinha aos domingos.

Decepção: as manchetes direcionadas que induzem ao erro de interpretação, principalmente contra as pautas mais à esquerda, que vão contra a postura neoliberal do jornal. Exemplo é a manchete que induzia o leitor a achar que o então candidato Boulos [candidato à Prefeitura de São Paulo em 2020] era um sonegador de imposto de renda.

Oswaldo Soulé Junior

58, professor, São Paulo (SP)

A Folha é como uma droga leve. Em uma palestra na Flip de 2014, colunistas da Folha falaram como às vezes o dia precisa de uma droga, ou para acordar ou para dormir, lícita ou não: um café, um remédio, um baseado, um vinho. A Folha é minha droga leve diária, assim como o café. Sem eles eu acordo, mas não acordo direito. Fica faltando alguma coisa no dia. Às vezes é uma onda boa, outras vezes é um soco na cara. Dane-se que é tendenciosa, quem não? Escolho meus colunistas, leio outras opiniões dentro das próprias tendências do jornal. Às vezes guardo uma coisa para ler mais tarde, os artigos da Ilustríssima são longos e podem dar sono. Uma droga leve, para findar o dia.

Constança Costa d'Assunção Barros

64, arquiteta, Rio de Janeiro (RJ)

Sou leitor assíduo desde 1966. Melhor lembrança: ter o privilégio de ler as crônicas de Lourenço Diaféria, a coluna de Ali Khan, Gregorio Duvivier, o impagável José Simão e a imortal cartunista Laerte, além da cobertura do fim da ditadura e da volta da democracia. Maior decepção: a insistência da Folha em retratar o estádio do Corinthians como Itaquerão!

Flávio de Fávari

68, funcionário público aposentado, Cedral (SP)

Bom dia. As grandes decepções com a Folha foram o apoio deste jornal aos golpes de 64 e de 2016, abrindo espaço à ditadura militar e ao fascismo atual.

Gilson Cunha Figueredo

48, professor, Belo Horizonte (MG)

Este jornal não tem em suas raízes admiração ou afinidade política por grupos trabalhistas (desde 1930, com Getúlio Vargas). Será que é por isso que tenho muito poucas lembranças de capas da Folha com fotos de Leonel Brizola? Deve ser histórico.

O jornal me dá oportunidade de escolher qual notícia eu quero e preciso ler, seus colunistas são excelentes, tanto de esquerda quanto de direita. A edição digital da Folha está excelente também, profissional como sempre.

Fernanda Pacheco Lassance

66, professora aposentada da UEL, Londrina (PR)

A melhor lembrança era quando a Folha era um jornal que prezava pela imparcialidade e dava espaço para todos. Isso até 2015. A decepção foi um dos jornais mais tradicionais do Brasil se tornar um folhetim da esquerda, sem imparcialidade, e ter sido contaminado com uma redação militante. Ainda bem que assino outros jornais.

Jean Jacques dos Santos

39, trader, Taboão da Serra (SP)

Melhor lembrança: quando comecei a faculdade de jornalismo, em 1993, me tornei leitor assíduo da Folha e o que mais me impactava era a coluna do ombudsman. O modo como o jornal permitia a crítica a si mesmo, com política própria e um profissional com garantias para isso, era uma novidade para mim e me influenciou bastante. Anos depois, quando tive um jornal por dois anos, também tivemos uma coluna semelhante.

Maior decepção: Quando, no início dos anos 2000, o movimento blogueiro ainda era uma novidade, a Folha processou o blog Falha de São Paulo (sob pretexto mesquinho de uso indevido da marca). Na época eu era assinante e cancelei a assinatura, deixando claro o motivo. Considerei uma traição aos princípios de transparência e liberdade de expressão. O jornal que tinha até política de crítica interna se mostrava intolerante com a crítica em forma de sátira externa.

Vitor Menezes

46, jornalista, Campos dos Goytacazes (RJ)

Maior decepção: a cobertura parcial e acrítica do Jornal no caso da Escola de Base, em São Paulo, no ano de 1994. Os casais Shimada e Alvarenga foram massacrados pela Folha e outras mídias. Maior alegria: a cobertura das Diretas Já!

Walter Fagundes Morales

52, professor universitário, Ilhéus (BA).

Melhor lembrança: todos líamos a Folha na Unicamp, quem chegava com uma edição logo estava rodeado de amigos, cada um lendo um caderno.

Maior decepção: a Folha optou pela Dilma contra o Aécio Neves. A opção pelo PT continua desde então, o que me afastou da opinião política do jornal.

Marcus Duarte

Durante grande parte dos anos 1980, lia quase diariamente a Folha. Hoje, olhando em retrospecto, vejo um tema muito importante que a Folha quase não cobria: a invisibilidade da comunidade negra em áreas importantes do país, como na política, academia, no meio empresarial, nas redações dos grandes jornais (dentro da própria Folha) ou nas redes de televisão, etc.

Edson Cadette

60, jornalista, Nova York, Estados Unidos

Vejo pelo anúncio da programação de comemoração dos 100 anos e o que estão programando para o futuro da Folha que realmente estão promovendo uma mudança significativa, percebo que estão se voltando para um novo público. Como leitor assíduo de aproximadamente 30 anos, não me vejo contemplado nessa nova Folha. Momento para buscar outras fontes de informações, o que também é salutar.

José Marco Barbizan

Maringá (PR)

Demorei 58 anos para ter a maior decepção com a Folha, ao ser desvendado, através do próprio comportamento desta Folha, o quanto não praticam jornalismo. A Folha pratica política, em interesse próprio, em busca de dinheiro fácil do governo, que aconteceu por anos e anos e nós, os leitores e assinantes desavisados como eu, por inocência e estupidez, por falta de desconfiar, por boa fé, acreditávamos nessa farsa. Enquanto não ocorre a falência financeira, que pode ser postergada por aporte de recursos vindos de outras entidades do mesmo estilo, continuarei com o sentimento triste de ter sido enganado por tantos anos.

Claudio Ramalhoso

59, comerciante, São Paulo (SP)

Minha maior decepção com a Folha foi ela ter contribuído para o caos que o Brasil está hoje. Vocês têm que fazer muita autocrítica ainda para fazer um jornalismo independente e democrático, e não apenas um agente da mídia burguesa.

Enzo Abreu Randi

assistente de advogado, 21, Ribeirão Preto (SP)

Fui uma criança introvertida, que gostava muito de ler. Um dia tomei a liberdade de mandar uma cartinha pra Folhinha, com algumas estorinhas, e tive a grata surpresa de receber uma carta em resposta. Carta gentil e que acertou fundo no meu coração. Para uma criança introvertida, de poucos amigos, que ousava escrever de vez em quando, aquela carta em resposta significou muito, muito mesmo. Me lembro muito bem da minha mãe me parabenizando, e da energia que senti. Um gesto pequeno para quem a escreveu, mas um carinho que significou muito para mim. Adoraria nesse momento agradecer pelo carinho dessa resposta, e dada a impossibilidade de nomear a pessoa, agradeço a todos que um dia fizeram parte da Folha e aos que ainda fazem.

Alexandre Carnevali da Silva

45, advogado, São Paulo (SP)

Melhor lembrança é a Folha dos anos 1990 e início dos anos 2000. A Folha de Otavio Frias Filho, Clóvis Rossi, Carlos Heitor Cony. A Folha realmente plural, que incomodava o poder, que propunha, que ouvia e debatia.

Maior decepção é no que a Folha se transformou após 2017, especialmente após o falecimento de Otavio Frias Filho. A Folha é apenas um jornal a serviço de uma ideologia política, que esconde informações que não interessam ao projeto de retomada do poder, que deixou de lado o pluralismo para apostar numa ideologia que defende exatamente tudo o que criticava nos anos 1980, 1990, 2000.

Luigi Fernandes

50, jornalista e historiador, São José dos Campos (SP)

Minha maior lembrança com a Folha é o comercial do ratinho cantando ópera, o número falado (224-4000) não sai da cabeça até hoje. Cheguei a pedir pra minha mãe comprar o boneco, mas acho que não existia, eu simplesmente decorei a música de tanto que escutei —chegava a ser um pouco irritante na verdade, mas foi inesquecível.

João Paulo da Silva Quirino

39, gestor tecnologia da informação, Bauru (SP)

Ratinho cinza do comercial da Folha
Ratinho cinza do comercial da Folha - Luiz Miranda/Acervo Pessoal

A Folha se faz digna quando publica cartas de leitores discordando de seu conteúdo.

Isso é o retrato do mais nobre jornalismo. Por fim, nutro um carinho muito especial pelo veículo, pois a coluna obituário publicou a história de minha mãe, por ocasião de seu falecimento. A notícia foi engraçada e curiosa. Ficou acalentadora.

Miguel Angelo Napolitano

51, funcionário público federal, Bauru (SP)

Sou assinante há aproximadamente 3 anos, é o meu jornal favorito por conta da qualidade dos colunistas que escrevem para vocês. Eu sou de esquerda, mas acho interessantíssimo entender diferentes pontos de vista. Por outro lado, a minha percepção é que depois da eleição do atual presidente, vocês diminuíram muito o espaço para os progressistas e aumentaram para pessoas de direita. Fica essa solicitação para mais espaço a pessoas à esquerda e também o elogio pela qualidade do trabalho.

Pedro Carlos Xavier de Moraes

29, engenheiro de petróleo, Caieiras, (SP)

Eu me lembro de quando minha mãe assinava o jornal no final dos anos 90. Eu adorava ler o caderno Folhateen. Foi o meu primeiro contato com o jornal, que sigo lendo até hoje.

A decepção/crítica tenho em relação a cobertura da jornalista Mônica Bergamo. A profissional presta serviço de assessora da família Lula. Chegou ao ponto de fazer propaganda dos ovos de páscoa vendidos por um integrante da família. Esse tipo de cobertura não é digna de um jornal tão importante ao país.

Luiz Fernando de Camargo Junior

35, advogado, São Paulo (SP)

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