Descrição de chapéu Otavio Frias Filho

Folha e USP lançam cátedra Otavio Frias Filho

Centro de estudos sobre jornalismo, diversidade e democracia homenageia diretor de Redação do jornal entre 1984 e 2018

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São Paulo

A Folha e a Universidade de São Paulo (USP) lançam nesta sexta-feira (19), centenário do jornal, a cátedra Otavio Frias Filho de Estudos em Comunicação, Democracia e Diversidade, que será vinculada ao Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

O título da cátedra homenageia o diretor de Redação da Folha, que exerceu o cargo de 1984 a 2018, quando morreu em decorrência de um câncer. A parceria foi oficializada em evento virtual na quarta-feira (17) com Luiz Frias, publisher da Folha, e Vahan Agopyan, reitor da USP.

A iniciativa é uma resposta do jornal e da universidade ao cenário político nacional e internacional em que, se por um lado são comemoradas conquistas de direitos das minorias, por outro, práticas obscurantistas enfraquecem as instituições democráticas e ameaçam a sociedade diversa e o pensamento livre.

O diretor de Redação mais longevo da Folha, mentor do Projeto Folha e defensor do jornalismo crítico, apartidário e pluralista
O diretor de Redação mais longevo da Folha, mentor do Projeto Folha e defensor do jornalismo crítico, apartidário e pluralista - Lenise Pinheiro/Folhapress

“Otavio é o responsável pelo Projeto Folha, que transformou o jornalismo moderno no Brasil. Agradecemos à USP e esperamos ficar ainda mais próximos da universidade depois dessa iniciativa”, afirmou Luiz Frias.

Para Agopyan, a criação de cátedras é de suma importância para a universidade, pois trazem personalidades externas ao mundo acadêmico para discutir temas caros à sociedade. “A gênese de nossa instituição é a de ser um lócus de discussão de ideias, e a pandemia da Covid-19 nos mostrou a necessidade de os pesquisadores cada vez mais trabalharem em conjunto”, disse.

“Tenho certeza que a Cátedra Otavio Frias Filho, por seu caráter multidisciplinar, brevemente se tornará uma referência nos estudos sobre comunicação, democracia e diversidade. A USP se sente honrada em firmar esta parceria com a Folha, neste ano em que o jornal comemora 100 anos de existência.”

A cátedra é uma espécie de centro de pesquisa, com autonomia de gestão e definição de ações, além de estrutura e funcionamento próprios, cujas atividades são propostas e desenvolvidas pelas duas partes envolvidas, com o objetivo de avançar na compreensão das relações entre comunicação, democracia e diversidade, os três pilares da cátedra.

A iniciativa —com duração inicial de cinco anos, prorrogáveis pelo mesmo período ao fim de cada contrato— vai convidar anualmente uma pessoa responsável pela organização de ciclos temáticos de palestras mensais, que serão transformadas em artigos e livros. O catedrático pode ser brasileiro ou estrangeiro e será, preferencialmente, profissional atuante na defesa de direitos e contra a discriminação e o racismo.

A variedade de temas está refletida nos dez pesquisadores permanentes da cátedra, que não se restringem ao jornalismo e vêm de departamentos tão diversos quanto o Instituto de Biociências (IB) e a Escola Politécnica da USP.

Além disso, o plano de trabalho prevê a criação de uma disciplina de pós-graduação sobre comunicação, diversidade e democracia.

O projeto da cátedra será composto de três órgãos de gestão: um comitê de governança, outro executivo e um conselho consultivo, todos com participação tanto da Folha como da USP.

Os comitês se reúnem logo após a assinatura da parceria e devem definir o primeiro convidado para titular da cátedra em meados de 2021.

É parte da proposta a criação do Prêmio Otavio Frias Filho de Jornalismo, para trabalhos acadêmicos e de comunicação relacionados ao tema.

“Não é possível imaginarmos hoje sociedades democráticas sem uma imprensa livre e pulsante e sem respeito aos direitos humanos e à diversidade”, diz André Chaves de Melo, coordenador da cátedra e professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP.

“Otavio incentivava o caráter cultural dos repórteres e sempre queria trazer debates plurais, da esquerda ou da direita”, conta Cláudio Tognolli, que foi repórter da Folha e hoje é professor da ECA e coordenador da cátedra

Quando foi diretor de Redação, em parceria com o irmão, Luiz, e sob orientação do pai, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), Otavio Frias Filho (1957-2018) conduziu a implantação do Projeto Folha, série de diretrizes editoriais, técnicas e organizacionais que abriram caminho para um jornalismo crítico, apartidário, moderno e pluralista. Esse projeto levou a Folha à condição de maior jornal do país.

Quem foi Otavio Frias Filho (1957-2018)

Diretor de Redação da Folha por 34 anos, também era escritor, ensaísta e dramaturgo

1957

Em 7 de junho, nasce Otavio Frias Filho, primeiro filho de Octavio Frias de Oliveira e Dagmar de Arruda Camargo, em São Paulo

1962

Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), pai de Otavio, torna-se proprietário da Folha, em sociedade com Carlos Caldeira Filho (1913-1993)

1974

Otavio participa de reunião em que seu pai e o jornalista Cláudio Abramo, que dirigia a Redação, detalham a estratégia de abrir as páginas do jornal a articulistas de oposição à ditadura

1975

Entra na Faculdade de Direito da USP e passa a frequentar diariamente o jornal, tornando-se assistente de Cláudio Abramo. Em 1977, passa a fazer parte da equipe de editorialistas e, em 1978, assume a função de secretário do recém-criado Conselho Editorial do jornal

1980

Ingressa no curso de pós-graduação em ciências sociais da USP

1983

Lidera a campanha do jornal pelas Diretas Já. Completa os créditos do mestrado na área de antropologia

1984

Em 24 de maio, torna-se o diretor de Redação da Folha. Implanta o Projeto Folha, torna público o projeto editorial do jornal e o Manual da Redação

1990

É processado na Justiça Criminal, com outros três jornalistas da Folha, pelo então presidente Collor

1991

Publica seu primeiro livro, “Tutankáton”. É autor e coautor de mais de 10 livros, entre ensaios sobre cultura, peças teatrais (quatro delas encenadas), reportagens ensaísticas e obras infantojuvenis

Recebe o prêmio Maria Moors Cabot de jornalismo, da Universidade Columbia (EUA)

1992

Obtém vitória em processo movido pelo ex-presidente Collor. "Típico Romântico", peça de sua autoria, é encenada em São Paulo. Em 1993 seria encenada "Rancor" e, em 1995, "Don Juan"

1994

Torna-se colunista da página 2 do jornal, onde publica textos semanalmente até 1999

2010

Torna-se pai pela primeira vez, de Miranda. Sua segunda filha, Emilia, nasce em 2017

2016

Passa a escrever mensalmente no caderno Ilustríssima

2018

É encenada no teatro Oficina adaptação de seu texto “O Terceiro Sinal”. Morre em 21 de agosto, em decorrência de um câncer originado no pâncreas.​

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