Leitores contam as melhores lembranças e as maiores decepções com a Folha

Série Meu Caso com a Folha traz relatos de amor e ódio em relação ao jornal

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Ao chegar aos 100, a Folha convidou os leitores a indicarem suas melhores lembranças e suas grandes decepções com o jornal.

Entre mais de 300 mensagens, vieram comentários de tom nostálgico, como esperado de um jornal centenário. Recordações de infância com a Folhinha, que formou várias gerações de leitores, foram comuns. Mas as versões digitais também são citadas, prova de que o jornal soube se adaptar ao tempo.

As Diretas Já predominam como lembrança positiva de cobertura —a Folha passou a acompanhar o movimento antes da concorrência e se engajou com campanhas próprias.

Há críticas, como ao apoio dado ao golpe militar de 1964 —em editorial de 2014, o jornal reconheceu o erro. No mais, há inconformismo de todos os lados do espectro ideológico.

Leitores notaram que o jornal não cobria assuntos como diversidade da forma que seria adequada. A Folha tem tomado uma série de iniciativas nesse sentido, como um programa de treinamento destinado a profissionais negros.

Na impossibilidade de publicar todas as mensagens, eis aqui uma amostra delas. Pela grande quantidade de relatos, dividimos a publicação em três partes. Leia também a parte 2 e a parte 3.

Nos próximos meses, o jornal publicará na série Meu Caso com a Folha outras críticas e elogios de leitores anônimos e famosos —caso do prefeito de São Paulo, Bruno Covas.​

Muito obrigado a cada um de vocês.

No período de Cláudio Abramo, surgiu a coluna “Jornal dos Jornais”, na qual um combativo Alberto Dines criticava os erros da própria Folha e de seus concorrentes. “Criticá-la [a imprensa] seria uma forma de libertá-la”, ele dizia. Abramo foi sucedido por Boris Casoy, mas a Redação ganhou forma com Otavio Frias Filho, um dos maiores jornalistas do país. Foi uma honra entrevistá-lo. Uma honra ter contado com seu respeito —recebi vários agradecimentos de meus comentários sobre suas colunas.

Admiro a gestão Sérgio Dávila, a criação da editoria de Diversidade, a nomeação da primeira mulher negra a assumir o cargo de ombudsman. A seção Tendências / Debates, a liberdade que o jornal dá aos seus colunistas. Mas muito me chateia a Folha não mandar alguns de seus colunistas à editoria de Treinamento. Defender a destituição do presidente, que a PF, o STF e a PGR usem da autonomia constitucional para dar um basta a Bolsonaro é uma coisa; mas desejar sua morte, como fez Hélio Schwartsman e como fez Ruy Castro, ao adjetivar o presidente com nomes impublicáveis, são atitudes para as redes sociais.

Que o jornal continue respeitando os princípios do Projeto Folha. Mais 100 anos.

Diogo Molina Gois

jornalista, 37

Que saudades do Glauco, cresci com ele. Adorava ler seus quadrinhos na infância e adolescência. Eu engolia o caderno Folhinha e ainda possuo algumas cópias guardadas. Odiei o fim dela, do Folhateen e do caderno exclusivo sobre tecnologia. Ainda sinto muita falta, mas os tempos são outros.

José Gustavo Santiago Matias

31, Cuiabá (MT)

Melhor lembrança: a coluna de Paulo Francis, o Diário da Corte, que eu comecei a ler em 1985. Sou grata ao Francis por tantos ensinamentos sobre arte e cultura. Nunca esqueci o verso de Dorothy Parker, autora que conheci na coluna dele: "Men seldom make passes at girls who wear glasses". Eu tinha 18 anos, era meio dark, usava óculos e cultivava umas doses de tristeza e melancolia. Achei aquilo genial. Depois, descobri que não era bem assim.

Heloisa Fischer

54, Rio de Janeiro (RJ)

Em junho de 1947 fui mexer na Folha da Manhã e percebi que já conseguia lê-la. Comecei a ler a Folha todos os dias, mas de uma maneira inusitada, colocando-a no chão e lendo-a de bruços e de trás para frente. Assim continuei e quando me casei, em 1968, me tornei assinante. Portanto, sou leitor da Folha há 74 anos e sempre digo a todos que "a minha maior lembrança é a Folha ter participado da minha alfabetização".

Roberto Machado de Moraes

80, professor e pesquisador científico aposentado, Campinas (SP)

Fui "visitar" a gaveta da minha cômoda onde guardo os recortes de artigos que mais me tocaram: os que me explicaram coisas que não sabia, os que me mostraram novos ângulos de entendimento do mundo, os que me emocionaram, os sobre arte em todos os seus matizes. Foi emoção atrás de emoção manusear os recortes. Inclusive achei o artigo "Povos do Livro", de 2001, que esclareceu tantas coisas e que nem me lembrava que era do Otavio Frias Filho —de quem, aliás, eu senti a morte como se o conhecesse pessoalmente (assim como a do Clóvis Rossi e a do Gilberto Dimenstein).

Maria Cecilia Leopardi Mello Canelada

69, bancária aposentada, Curitiba(PR)

A melhor lembrança

Quando o Collor chamou os brasileiros para vestir verde e amarelo e a Folha publicou uma faixa preta no topo da primeira página convocando a população a vestir preto.

A maior emoção

Quando a Folha atingiu 1 milhão de exemplares. Naquele dia a entrega do jornal atrasou, quase morri de ansiedade esperando o meu exemplar. Dia festivo.

O maior erro

Publicar a lista dos improdutivos da USP, mesmo reconhecendo na própria edição que a lista estava errada.

José Carlos Rothen

professor, São Carlos (SP) ​

Reprodução de página do jornal; "A lista dos improdutivos", reportagem publicada em 1988 que mostrou pesquisa interna da Universidade de São Paulo sobre improdutividade de parte de seus professores
"A lista dos improdutivos", reportagem publicada em 1988 que mostrou pesquisa interna da Universidade de São Paulo sobre improdutividade de parte de seus professores - Reprodução

Moradora do interior brasileiro, a Folhinha, aos domingos era, para mim, uma janela que se abria para o mundo. Era um ritual familiar ir à banca de jornal aos domingos, com papai, no Café Central, ponto tradicional de Goiânia, comprar a “Folha”. Quando ele se foi, prematuramente, estávamos colecionando os "pedaços” do Atlas Geográfico Mundial – The Times.

Em meio a tanta dor, seguir o ritual de ir à banca aos domingos, comprar a Folha e o encarte do Atlas, passou a ser, também, um encontro semanal com papai. Terminei a coleção, que, devidamente encadernada, passou a gozar de local de prestígio na biblioteca de papai, a qual carrego comigo, até hoje, pelo mundo. E foi também nesse mesmo Atlas da Folha que meus filhos se encantaram com tantas possibilidades do nosso planeta Terra. É isso, com sorte e enfim, que realmente herdamos e transmitimos.

Simone da Silva Kaadi Kurrle

46, servidora pública, Nova York, Estados Unidos

Se eu fechar os olhos e me concentrar, ainda posso lembrar do barulho do portão se abrindo e meu pai chegando em casa com a edição da Folha aos domingos. Ele, na cadeira de fios trançados lendo Cotidiano, eu, no chão junto aos seus pés, a Folhinha.

Juntos solucionamos inúmeras Palavras Cruzadas, lemos infinitos cartuns. Além do jornal semanal, meu pai e eu brincávamos de pegar uma lupa e tentar ler as pequenas reportagens no livro Primeira Página, que ele tinha há anos, guardado com todo o carinho. Hoje em dia, fico pensando se esse foi o passo inicial para meu interesse pela História.

Parabéns pelo centenário e não posso deixar de dizer: Oi, pai! Tô na Folha!

Iasmin Penariol

22, professora de história, Assis (SP)

A Foto da primeira página de um ato pela anistia que mostra uma pomba branca que pousou sobre a faixa dos manifestantes. Jamais me esquecerei, eu estava presente. Das coisas inesquecíveis da nossa vida!

Cesar Augusto Caetano

61 anos, gestor de condomínio, Carapicuíba (SP)

Primeira página da Folha de 22 de agosto de 1979; na foto principal, vencedora de Prêmio Esso, uma pomba pousa sobre faixa durante ato com 5.000 pessoas em defesa da anistia a exilados e presos políticos, na praça da Sé, em São Paulo
Primeira página da Folha de 22 de agosto de 1979; na foto principal, vencedora de Prêmio Esso, uma pomba pousa sobre faixa durante ato com 5.000 pessoas em defesa da anistia a exilados e presos políticos, na praça da Sé, em São Paulo - Reprodução

O meu melhor momento foi há 25 anos. Ao ler o jornal, encontrei o anúncio de uma vaga e consegui o emprego no qual trabalho ainda hoje. Morava à época em Goianésia (GO). A Folha teve papel importante na minha carreira profissional. Obrigado a todos.

Luiz Donizeti Ribeiro

Olímpia (SP)

Não tenho boas lembranças da Folha. A pior, no entanto, sem dúvida foi o editorial recente comparando a ex-presidente Dilma, que atravessou o golpe transbordando de dignidade, com esse canalha genocida miliciano.

Eduardo Moura

32 aos, psicólogo, Florianópolis (SC)

A Folha de S.Paulo é uma experiência única de jornalismo. Mas também já briguei com a Folha, mandei mensagens desaforadas algumas vezes, principalmente quando acabaram com o Caderno Mais!, que eu amava! Aprendi muito ali. Eu era estudante de filosofia da Universidade Católica de Brasília e ia todo garboso pra universidade com o caderno Mais! no ônibus.

Flávio Gomes da Silva

49, professor, Rio de Janeiro (RJ)

Melhor da Folha: seu passado

Pior da Folha: seu presente

Sergio Fernandes

São Paulo (SP)

Minha lembrança mais marcante da Folha aconteceu na Flip de 2014, durante uma palestra de Clóvis Rossi. Enquanto ele conversava com o moderador Sérgio Dávila, alguém se aproximou discretamente da janela do pequeno e lotado auditório da Casa Folha onde ocorria o evento, e ali ficou anônimo até o final. Era ninguém menos do que Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, que poderia estar confortavelmente sentado num lugar especial dentro do recinto, mas se contentou em assistir de pé, pela janela do auditório e sob o sol quente de Paraty, a fala do repórter. Registrei a cena, que guardo com carinho.

Márcio Augustus Ribeiro

64, engenheiro aposentado, Vinhedo (SP)

Clóvis Rossi (direita) e Sérvio Dávila em evento na Casa Folha, durante a Festa Literária Internacional de Paraty, 2014
Clóvis Rossi (direita) e Sérvio Dávila em evento na Casa Folha, durante a Festa Literária Internacional de Paraty, 2014 - Arquivo pessoal
Otavio Frias Filho (1957-2018) assistindo à palestra com Clóvis Rossi e Sérgio Dávila em Paraty (RJ), em 2014
Otavio Frias Filho (1957-2018) assistindo à palestra com Clóvis Rossi e Sérgio Dávila em Paraty (RJ), em 2014 - Arquivo pessoal

A pior lembrança que tenho da Folha é o fato de ter contribuído para enaltecer a Lava Jato e ajudar a transformar Moro em um (falso) herói. Faltou uma postura mais crítica em relação à "República de Curitiba". A melhor lembrança são as publicações da vaza jato que a Folha passou a publicar. Achei a atitude corajosa.

Beatriz Telles

65, educadora aposentada, São Paulo (SP)

Ter quase duas centenas de comentários acolhidos e publicados no Painel do Leitor e minhas ponderações terem sido referências em algumas colunas dos ombudsmans da Folha constituem a minha melhor lembrança como leitora contumaz do jornal; os comentários publicados foram práticas exemplares estimulantes aos meus alunos de redação, que passaram a enviar suas opiniões às diversas editorias como funcionais exercícios de leitura e escrita.

Doralice Araújo

professora, 60, Curitiba (PR)

A Folha me pergunta o que decepcionou. Fácil: o empobrecimento cultural que decorre da diminuição de conteúdo, como o da Ilustríssima, ou a perda de cadernos e especiais, como a Serafina. Entendo que em boa parte dessa redução está associada à pandemia, entretanto, parte dela já era claramente sentida mesmo antes, como a gradual e triste morte (ou quase) da Revista São Paulo.

Parabéns para a Folha!

Rogério Colombini Medeiros

58, engenheiro, São Paulo (SP)

Links da Ilustríssima guardados por leitor
Links da Ilustríssima guardados por leitor - Arquivo pessoal

Pior: Quando colocou na primeira página do jornal que Odete Roitman ia morrer naquele dia, numa clara demonstração de que vender jornal importa mais que o conteúdo. Escrevi uma carta para o jornal por causa disso que foi publicada no Painel do Leitor. Pelo menos isso. Aberta para críticas. Aprecio muito.

José Carlos Duarte

56, engenheiro de software, El Dorado Hills, Califórnia, Estados Unidos

Quando era pequena, no colo de meu pai, eu olhava as fotos enquanto ele lia o jornal. Sem dúvida nascia aí a minha paixão pela leitura. A segunda memória foi quando o homem pisou na Lua pela primeira vez. Ainda tenho essa edição. Faz tempo que leio a Folha, deu para perceber? Hoje a encontro de manhã no meu e-mail. Críticas? Vamos deixar para depois porque estamos em festa. Parabéns pelos 100! Que venham muitos anos mais!

Andrea M. Sheppard

63, publicitária, Avaré (SP)

Estive na redação da Folha em junho de 2019 para o encontro da ombudsman com os leitores. Quando recebi o email com o comunicado fiquei muito feliz, ainda mais como estudante de jornalismo. Quando cheguei, na calçada estava Daniela Lima [então editora] do Painel, coluna que leio todos os dias. Porém, o que me marca até hoje foi ter conhecido a redação do jornal, ver os diagramadores finalizando as páginas e os inúmeros monitores de audiência. A jornalista Ana Estela de Sousa Pinto estava lá e nos acolheu. Ter estado ali foi a certeza de que escolhi a profissão certa para minha vida.

Calebe Bernardes

23, estudante, Mogi das Cruzes (SP)

Redação da Folha
Foto tirada pelo leitor Calebe Bernardes em visita à Redação da Folha - Arquivo pessoal

A minha relação com a Folha é de 56 anos: em 10 de outubro de 1965 a Folhinha publicou na seção "Meu bicho predileto" um desenho meu, uma cigarra tocando violão. Fiquei triste, pois meu nome saiu errado. Na comemoração dos 50 anos da Folhinha, porém, eu tive a honra do meu nome ser corrigido, mostrando a preocupação que o jornal tem com seus leitores.

Claudir José Mandelli

64, engenheiro civil, Tupã (SP)

O jornal deve particularmente desculpas ao presidente Lula, que passou por 580 dias de cadeia de forma absolutamente injusta, sequestrado por uma quadrilha ambiciosa que teve apoio irrestrito desse e de outros veículos de comunicação. Não adianta agora ser "anti-bostonaro", se o jornal não tiver a capacidade de entender e admitir que seu ativismo político misturado no fazer jornalístico é em parte responsável por termos chegado ao nível tão baixo onde chegamos.

Vocês são o melhor que há no Brasil, em termos de grande mídia. Então, por favor, entrem de vez no século 21.

Tendo dito tudo isso, tenho consciência que uma tal crítica contundente jamais será aceita pelos editores da Folha, o que não me impede de perder meu tempo escrevendo-a.

Filipo Studzinski Perotto

41, professor universitário, Toulouse, França.

Comparado com o Estadão, que também assino, atualmente o conteúdo da Folha deixa a desejar. A Folha preferiu optar por matérias e colunas mais curtas e diversas, em detrimento de profundidade e qualidade. Uma característica apreciável do jornal é sua abertura para a pluralidade de opiniões. Porém, estas são muitas vezes rasas, repetitivas, muitos colunistas escrevem sobre os mesmos assuntos, emitem opiniões bastante similares, o que torna o jornal de leitura rápida, mas com a sensação de que está faltando algo.

De seu fiel leitor,

Roberto G. S. Berlinck

59, professor do Instituto de Química da USP de São Carlos

Minha bicicleta e eu já havíamos deixado Roma e estávamos de volta à estrada. Fazia dois meses que iniciara em Amsterdam o que seria uma viagem de um ano pedalando pelo mundo.

O silêncio embaixo daquela sombra naquele dia quente de verão foi quebrado pelo SMS que chegou do Brasil: você está na capa da Folha de hoje.

Se no dia anterior ter me encontrado com o Papa havia sido algo muito legal, no dia seguinte a manchete era que o Papa, que chegaria ao Brasil naqueles dias, havia decidido se locomover em carro aberto, mesmo sob a onda de protestos que o Brasil vivia naquele 2013.

E para ilustrar a matéria o jornal usou a foto em que o Papa deixava uma mensagem de boa sorte na minha bandeira. Não sei se digo que caí de paraquedas ou de bicicleta na capa da Folha, o que sei é que posso dizer que já estive lá.

Leandro Martins

37, professor, Shanghai, China

Capa da Folha do dia 20 de julho de 2013, em que leitor aparece ao lado do Papa Francisco
Capa da Folha do dia 20 de julho de 2013, em que leitor aparece ao lado do Papa Francisco - Reprodução

A melhor lembrança tem nome e é personalizada na figura da ombudsman Flávia Lima. Ela sintetiza tudo o que a Folha é e os outros jornais no Brasil, ao menos, não são.

Valter Yoshida Junior

48, servidor público, São Paulo (SP)

Prezada Folha,

Como poderia expressar minha gratidão nesse casamento de 46 anos? Ainda me lembro em Ourinhos, nos anos 1970, sedenta por noticias, ia toda manhã na casa de meus tios para ler jornal. Queridos, me deixavam, desde que não tirasse os cadernos do lugar.

Em junho de 1976, eu faria 15 anos. Outras meninas pediam festas, anéis, eu, não, eu queria um ano de assinatura da Folha. Foi muita felicidade receber o primeiro exemplar e sujar os dedos de tintas dos jornais, folheando o meu jornal preferido. E esse foi o início de 46 felizes anos de informação e conhecimento, minha leitura diária, às vezes nas madrugadas.

Rosana Maria Gaio

61, funcionária federal aposentada, Florianópolis (SC)

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