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Páginas da Folha consolidam novos termos e expressões

Sempre houve espaço para o lúdico como expressão crítica que desperta o prazer da reflexão

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Thaís Nicoleti De Camargo

Na Folha desde 2000, coordenou o Controle de Erros, assinou artigos e, desde 2012, assina blog sobre língua portuguesa. Autora de "Redação Linha a Linha" (Publifolha, 2004).

Tarefa inglória é a de tentar descobrir quando e onde surgem as palavras. São raríssimos os casos de paternidade conhecida, já que, em geral, elas brotam discretamente em algum lugar desconhecido, crescem e seguem independentes.

É fato, porém, que potentes meios de comunicação têm o poder de reverberá-las e, com isso, consagrá-las. A Folha foi pioneira na amplificação do vocabulário do universo LGBTQIA+ quando a imprensa ainda tinha certo ar sisudo. O fato de estar nas páginas do jornal dava à palavra um novo status, rumo à dicionarização. O uso do verbo “montar” na gíria gay, hoje registrado no dicionário “Houaiss”, é um claro exemplo disso.

Mais explícito é o registro do termo “papamóvel”, cuja datação está no “Houaiss” atribuída à Folha: foi na edição de 19 de junho de 1980, em reportagem sobre os preparativos para a primeira visita do papa João Paulo 2º ao Brasil, que a palavra estreou em página impressa.

Se é verdade que as palavras não costumam carregar carteira de identidade, há casos em que algumas expressões ganham sentido particular na voz de alguém. É por isso que apresentadores de televisão costumam criar bordões.

Na mídia impressa, nas páginas da Folha, foi o colunista José Simão, autointitulado “Macaco Simão”, quem transportou para o papel esse traço tão típico da oralidade. Todas as suas colunas começam com o indefectível “Buemba! Buemba!” e terminam com o impagável “Nóis sofre, mas nóis goza”, que, desde a grafia, imita a pronúncia do paulistano, além de suprimir a concordância verbal, como se faz na linguagem informal, e de acionar o duplo sentido da palavra “gozar”. Com isso, Simão ganha a cumplicidade do leitor.

As estripulias gráficas do colunista, no entanto, não param por aí. Mestre na arte do chiste (espécie de dito espirituoso por meio do qual um conteúdo crítico se reveste de uma forma cômica), entre suas técnicas favoritas está a de alterar nomes próprios (recentemente chamou Pazuello de Pazuerro, e a Casa Branca virou Casa da Supremacia Branca; em períodos eleitorais, costuma trazer as pesquisas do seu já famoso instituto Datapadaria, em alusão ao Datafolha).

Não foi à toa que se intitulou “esculhambador-geral da República”. A matéria-prima de seus textos é o noticiário; é lá, nas outras páginas da Folha, que Simão encontra a inspiração, às vezes na forma de “piada pronta”, expressão que ele celebrizou.

Das suas criações, a mais popular é o “picolé de chuchu”. A junção do gelado com o insípido, numa imagem quase infantil, sintetizou, à maneira de uma caricatura, o traço característico do ex-governador Geraldo Alckmin.

É esse poder de síntese, entre outros aspectos, que nos dá o prazer do chiste. Freud, que muito se interessou pelo seu estudo, explica que esse prazer pode ser mais efetivo na transmissão de uma mensagem do que o poder de argumentação. Na Folha, sempre houve espaço para o lúdico como expressão crítica que desperta no leitor o prazer da reflexão.

Expressões que nasceram ou se popularizaram na Folha

Buemba

José Simão

Substantivo feminino, usado como interjeição. 1. Versão latina do “Bomba” do jornalista Ibrahim Sued (1924-1995); 2. Aviso de notícia urgente. Convém repetir, “Buemba, Buemba”, para frisar o caráter extraordinário.


Colírio alucinógeno

José Simão

Expressão. Fórmula especial de colírio para aplicação exclusiva em solo brasileiro, diante de qualquer notícia considerada surreal.


Culturette

Joyce Pascowitch

Substantivo. Aquele que frequenta assiduamente exposições, concertos, balés e outras manifestações artísticas.


Dasluzette

Joyce Pascowitch

Substantivo. Nome aplicado àqueles que trabalham ou são clientes da antiga boutique Daslu.


Esculhambador-Geral da República

José Simão

Substantivo composto. Cargo oficial e autoproclamado do colunista José Simão na República do Brasil.


Ferver

Erika Palomino

Verbo intransitivo. 1. Divertir-se; 2. Sair à noite; 3. Aproveitar um evento social sem se preocupar com o amanhã.


Lasanha

Joyce Pascowitch

Substantivo masculino. Homem bonito.


Montada

Erika Palomino.

Adjetivo. Relativo à pessoa que se arrumou e/ou se maquiou com afinco, às vezes de maneira extravagante.


Milionette

Joyce Pascowitch

Substantivo. Pessoa rica.


Outro lado
​Expressão. Registro jornalístico dos argumentos da parte potencialmente afetada por uma reportagem.


Picolé de chuchu

José Simão

Locução substantiva. Forma como o colunista José Simão se refere ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.


Primeiro-filho

Joyce Pascowitch

Substantivo composto. Diz-se do filho de um presidente da República.


Primeiro-genro

Joyce Pascowitch

Substantivo composto. Diz-se do genro de um presidente da República.


Saia justa

Joyce Pascowitch

Expressão. Situação embaraçosa, constrangedora.


Sair do closet

Erika Palomino

Expressão. Ação de assumir publicamente a homossexualidade.


Teen
Substantivo (estrangeirismo). 1. Termo usado para se referir a adolescentes; 2. Na Folha, passou a ser usado com a criação do caderno Folhateen, em 1991.


Tombar

Erika Palomino

Verbo intransitivo ou transitivo direto. Destacar-se, humilhar adversários, impressionar os outros.


Erika Palomino

Adjetivo. Algo ou alguém insuportável, desagradável.


Waal

Paulo Francis

Interjeição. Modo de demonstrar assombro diante de fatos absurdos.

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