Na manhã de 30 de março de 1981, dia da festa do Oscar, o telefone da então editora da Ilustrada, Helô Machado, tocou e a despertou do sono tranquilo de quem havia tido um fim de semana de folga.
Do outro lado da linha, segundo o relato de Helô, estava um furioso Boris Casoy, à época editor-responsável da Folha: "Você está louca?! Quer acabar comigo?! Você viu o que fez? O mundo inteiro deu o Oscar, só você não deu!".
Enquanto seu chefe berrava ao telefone, ela correu para buscar a edição daquela segunda-feira para tentar entender o que havia acontecido. Afinal, deixara tudo combinado na semana anterior: o editor-adjunto da Ilustrada, Moacir Amâncio, responsável pelo fechamento de domingo, deveria buscar na casa do crítico de cinema Orlando Fassoni o texto sobre o Oscar.
Enquanto Helô desfrutava do descanso, aconteceu uma série de desencontros: o crítico que viajou e deixou com o vizinho a reportagem de capa da Ilustrada; um bilhete de aviso que se perdeu; um motoboy que tocou a campainha muitas vezes e voltou de mãos abanando; um editor que não tinha telefone.
E assim a Folha deixou de apresentar a cerimônia do Oscar naquela edição. No lugar do texto de Fassoni, uma reportagem sobre a poeta Olga Savary.
Envergonhada, Helô chegou à Redação decidida. "Vou resolver me demitindo e, antes, vou demitir o Moacir", lembra. Os dois concordaram em assumir o erro, sem desculpas. Mas antes de deixar o emprego, eles fechariam a edição do dia seguinte.
Foi então que o acaso sorriu para os editores da Ilustrada. Casoy se aproximou da mesa de Hêlo: "Mas você tem uma sorte... Você deve ter ligação com o FBI!".
O Oscar não aconteceria, pois o presidente Ronald Reagan fora baleado. "Helô, vai ser amanhã", comunicou o editor-responsável. No dia seguinte, o título da capa da Ilustrada era: "Atentado a Reagan adia para hoje a festa do Oscar".
"Hoje, enfim, o Oscar", resume Helô.
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