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Folha, 100 Como chegar bem aos 100

É preciso um plano nacional para a demência

São fundamentais estratégias para melhorar qualidade de vida de pessoas com demência e seus familiares

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Cleusa Ferri

Psiquiatra e epidemiologista, líder do projeto STRiDE no Brasil. Professora do departamento de psiquiatria da UNIFESP e médica no Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Mais de cinquenta milhões de pessoas vivem com demência no mundo e a previsão é que serão 150 milhões em 2050. Este aumento será mais acentuado em países mais pobres, como o Brasil, onde há cerca de 2 milhões delas, sendo uma das causas principais de incapacidade e dependência nos idosos.

mãos de mulher segurando peças de dominó
Moradores jogam dominó no Centro Dia, instituição de cuidado para idosos - Eduardo Knapp - 07.jul.2017/Folhapress

A demência afeta principalmente as pessoas mais velhas, embora não faça parte do envelhecimento normal. Tem como causa diversas doenças cerebrais, sendo a mais comum a doença de Alzheimer.

Cada pessoa vivencia a demência de forma diferente. Mas, em geral, devido a sua natureza progressiva e incapacitante, todas em algum momento vão precisar de ajuda para a realização das atividades da vida diária. O ônus do cuidado decorrente é sobretudo dos familiares, os principais cuidadores —com frequência eles têm sua própria saúde comprometida devido a esta responsabilidade.

Os custos financeiros da demência são mais altos em países ricos devido principalmente à composição etária e a maiores taxas de diagnóstico, tratamento e cuidado em geral. No entanto, a proporção do custo informal é mais alta em países mais pobres. No Brasil, quase dois terços dos custos totais advêm do cuidado informal realizado pelos familiares.

Apesar da sua importância, a demência é pouco conhecida pela população em geral e mesmo por profissionais de saúde, o que se traduz em falta de diagnóstico e tratamento oportuno. São fundamentais estratégias que contribuam para aumentar o conhecimento da sociedade e que garantam que as pessoas com demência e seus familiares possam ter melhor qualidade de vida.

Em 2017, a OMS ( Organização Mundial de Saúde) lançou o “Plano de Ação Global de respostas à Demência” que almejava ter, até 2025, 75% dos países com estratégias ou planos nacionais desenvolvidos ou atualizados. No próximo dia 26 de maio, durante a Assembleia Mundial de Saúde, será avaliado o progresso feito neste plano de ação.

No Brasil, diversas iniciativas surgiram nos últimos anos, mostrando o início de uma mobilização de vários setores. Diferentes projetos de lei estão em tramitação, com destaque para a aprovação recente de um projeto de lei (no. 769/19) para a criação, no âmbito da cidade São Paulo, de um programa de apoio às pessoas com demência e aos seus familiares, com o apoio do grupo GRAZ.

Destaco também o projeto STRiDE-Brasil, uma parceria internacional com apoio da OMS e da Alzheimer Disease International (ADI), que visa fortalecer respostas à demência no país com foco especial na redução do estigma e nas estimativas de necessidades e custos (atuais e futuros) da demência no país.

Em parceria com o Ministério da Saúde, será realizado o Primeiro Relatório Nacional sobre a Demência no país, que fornecerá um retrato detalhado sobre a situação atual da demência, além de elementos importantes para o planejamento do cuidado às pessoas com demência, seu reconhecimento e prevenção.

Urge que essas iniciativas, entre outras, sejam integradas de modo a contribuir para a construção de uma estratégia nacional que use os recursos já existentes, incorporando de forma efetiva novos elementos para garantir —além da prevenção— o cuidado e o suporte que as pessoas com demência e seus familiares necessitam.

Seção discute questões da longevidade

A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, celebrado neste ano de 2021. A curadoria da série é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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