Impacto da Covid-19 nos sobreviventes não pode ser esquecido

Como serão as sequelas neurológicas, pulmonares, musculares, psicológicas e sociais?

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Maisa Kairalla

Médica geriatra, coordenadora da Comissão Especial Covid-19 da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e presidente da Comissão de Imunização da SBGG.

De 2021 a 2031, vivemos, paradoxalmente, a década do envelhecimento saudável.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) nos alerta sobre a importância de planejar o envelhecimento de maneira sustentável como a principal estratégia de vida. No entanto, fomos atropelados pela pandemia de Covid-19, que já nos tirou mais de três anos de expectativa de vida. Isso sem computar o que podemos ainda esperar de pior dos “estragos” causados pela infecção.

Como serão as sequelas neurológicas, pulmonares, musculares, psicológicas e sociais? Já podem ser mensuradas? Somos diariamente abalados pelas milhares de mortes, mas o impacto da doença nos sobreviventes não pode ser esquecido. Afinal, como seria hoje termos incontáveis idosos com sequelas pela poliomielite? Qual seria o impacto econômico e social?

Não é admissível negligenciarmos imunização ao mesmo tempo que corremos atrás de hábitos saudáveis, prevenção com rígidas metas das taxas de colesterol, glicemia, pressão arterial. Uso de suplementos alimentares para ganho de massa muscular e muitas outras medidas para conquistar a sonhada longevidade.

Como ainda ter anseios de crítica aos benefícios da imunização? Vacinas contra o infarto do miocárdio, depressão e Alzheimer? Quem nos dera tê-las para estes e outros males que diminuem nossa expectativa e qualidade de vida.

Puxemos pela memória sobre a varíola, um vírus que por milhares de anos contaminou um incontável número de pessoas e causou a morte de 300 milhões somente no século 20. Grande vitória da saúde: a erradicação da varíola, em 1980, pela vacinação.

Somem-se outros exemplos: tétano, meningite, sarampo, rubéola, gripe, cenários reais em que as vacinas nos deram mais anos e mais vida.

A imunização foi um dos fortes pilares para alcançarmos a longevidade. De 1940 a 1998, a expectativa de vida no Brasil aumentou cerca de 30 anos, devido sobretudo à redução de óbitos por doenças infecciosas. Portanto, é um grande equívoco negligenciar a prevenção através da imunização.

Como o Brasil, país que se orgulha do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, reconhecido mundo afora poderia questionar a imunização frente a uma pandemia? O que nos leva a não tomar a segunda dose da vacina provocando a ineficácia da imunização contra a Covid-19?

Sabemos que no Brasil a imunização está aquém do necessário em números de vacinados. Portanto, é indiscutível a necessidade de manter o uso das máscaras, o isolamento social e a higienização das mãos, até que possamos imunizar com eficiência grande parte da população.

A comprovação da eficácia da prevenção principalmente pelo uso das máscaras é absolutamente científica e inequívoca. Durante a gripe espanhola no século 20, as recomendações de prevenção já anunciavam o uso das máscaras como eficaz. Um século depois ainda há questionamentos?!

Muito além de discussões infundadas, colocações imprecisas, ausência de credibilidade na ciência, disseminação de fake news sobre os benefícios da imunização e as formas de prevenção, precisamos nos alertar e nos atentar para além da mortalidade. Sim, olhar adiante, entender os anos perdidos em qualidade de vida de quem adoeceu.

A resiliência funcional, psíquica e física, se esvaece face à propaganda negativa. O ceticismo passa a fazer parte do nosso dia, o pessimismo incorpora-se a nossa rotina. O controle desta epidemia vai se tornando distante do país, afugentando a saúde, amedrontando nosso futuro e prejudicando a qualidade de vida de todos, inclusive dos saudáveis.

Pensemos em como viver bem e viver melhor.

Pensemos que desde sempre viver bem é sinônimo de prevenção. Não hesite, imunize-se. E mesmo que esteja imunizado, neste momento em que a doença ainda é tão prevalente, use máscaras. Este é o único caminho para a sua longeva saúde.

Cuide-se ao lado da ciência. Traga para si a melhor saúde preventiva e duradoura, viver bem vai além de estar vivo.

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