A ideia de que erramos quando nos apressamos antes do tempo, bem como a de que erramos quando usamos da lentidão frente a uma oportunidade, é a retórica dos nossos dias do presente janeiro.
Época de medo e incertezas que nos assolam nas flutuações de esperanças e erros. Fortes eram a esperança e otimismo no final de 2021. Haviam sido trilhados com os passos firmes, na certeza do caminho seguro da imunização, pautados pela ciência. Pareciam nos mostrar uma clara e inequívoca verdade diante da expressiva queda da taxa de infecção e de casos graves entre os vacinados, principalmente após a dose de reforço.
Por conta disso, nos sentimos ainda mais fragilizados frente a um novo surto de coronavírus. Atendimentos de saúde superlotados, medo de reviver o cenário sombrio de 2021. Medo do medo.
Vivemos o momento atual de uma tragédia anunciada. Sabíamos que a falta de imunização global poderia semear celeiros para a mutação do vírus. Exatamente o que aconteceu na África com a variante ômicron, uma variante que nos preocupa pela alta taxa de transmissibilidade.
O esquecimento do distanciamento social, o abandono do uso das máscaras, a desigualdade das taxas de imunização entre os povos, a descentralização da coordenação de medidas bem como a desinformação populacional, impulsionaram a aparição de variantes.
Tais erros ainda estão por corrigir. Vivemos novas incertezas com o aumento do número de casos de coronavírus, momento recheado pela contundente explosão de uma variante do vírus Influenza A —a gripe, que sempre nos amedrontou, deixando-nos sua triste marca por tantas vezes. Falta de sorte?
A soma dos nossos sentimentos de angústia e esgotamento mental pela pandemia destes dois anos é abrandada pela energia que vem da vontade de viver novamente e melhor. Pesquisadores nos contam de um alento. Sim, há um alento. Sabemos que o caminho natural de muitos patógenos, principalmente de vírus respiratórios, é sua tendência a enfraquecer.
Neste momento presenciamos a variante ômicron menos letal em um país com taxa de vacinação de quase 70%. Uma verdadeira esperança de que o vírus tenha perdido parte da sua agressividade e cause menos mortes. Teríamos um perfil futuro de doença endêmica, claro, sempre a ser respeitada e compondo o leque de possibilidades diagnósticas.
Erramos quando nos apressamos em ter a liberdade frente a uma situação tão grave, erramos quando não usamos ou tardamos o benefício do uso de uma oportunidade que, no nosso caso, sem dúvida, é a imunização. Nesta fase, a dose do reforço para o maior número possível de pessoas, a nível mundial, e que não tardemos a oportunidade de imunizar as crianças.
Estamos no caminho correto com novas vacinas e medicamentos. No entanto, sem dúvida, cabe a cada soldado entender a guerra que vivemos e blindar-se com os escudos das máscaras e do distanciamento social.
Além disso, é preciso cobrar as autoridades por melhores políticas públicas para um maior alcance de imunizados, cobrar a testagem para diagnóstico, cobrar a informação séria e assim avistar, logo ali, a abertura das fronteiras, o sorriso aberto e a certeza de que com ciência e educação venceremos também essa guerra.
Isso tudo, claro, desde que a desigualdade na cobertura vacinal entre os países não continue a servir de celeiro de novas variantes.
SÉRIE DISCUTE QUESTÕES DA LONGEVIDADE
A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, celebrado em 2021. A curadoria da série é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).
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