Hirao não sonegava informação, orientava e acolhia colegas de profissão

Jornalista trabalhou mais de quatro décadas no Grupo Folha

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São Paulo

"Este livro não tem pretensões acadêmicas. É apenas o relato das experiências de um ombudsman que não perdeu a alma", escreveu Roberto Junji Hirao (1944-2012) na apresentação de seu livro "70 Lições de Jonalismo" (Publifolha), de 2009.

A afirmação retrata perfeitamente uma das auspiciosas características de um jornalista autodidata, solícito, afável, culto, resiliente, corintiano, elegante no trato pessoal e que nunca perdeu a alma e o humor.

retrato de Roberto Hirao sentado em uma mesa à frente de um computador. ele veste terno e tem um crachá pendurado em seu pescoço. seus cabelos seus grisalhos e ele gesticula
Roberto Hirao na Redação do Jornal Agora, em São Paulo (SP) - Fabio Braga - 25.ago.2009/Folhapress

Estagiário, redator, repórter, editor-executivo e ombudsman foram funções exercidas no Grupo Folha por Roberto Hirao, que demonstrava paixão pelo jornalismo. "Ele era uma espécie de pré-Google. Um mentor, amigo, e consultor muito generoso. Era nosso esteio. Pegávamos as primeiras coordenadas de informação sempre com ele", diz a repórter e professora Magaly Prado, que trabalhou com Roberto Hirao na Folha da Tarde.

No Jornal da Tarde, Hirao foi estagiário, antes de ser repórter da Última Hora, onde trabalhou com o jornalista Samuel Wainer (1910-1980), mas foi nas redações dos jornais Folha de S.Paulo, Folha da Tarde e Agora que o jornalista passou boa parte de seus mais de 40 anos da carreira entre sua admissão, em 1969, e seu desligamento, em 2012.

Em 1973, foi editor de Cidades [atual Cotidiano] da Folha e dirigiu uma das primeiras editorias de emergência do jornal, criada para cobrir a greve dos metalúrgicos do ABC, em 1979. Na Folha da Tarde, jornal que antecedeu o extinto Agora, Hirao foi repórter, editor-executivo e ombudsman, além de secretário-adjunto de Redação.

"Quando foi editor de Cidades da Folha ele já se destacava pela objetividade e precisão do texto, realizando uma edição diferenciada, além de contribuir muito na orientação da edição e da pauta. Ele tinha um modo ‘Hirao’ de sugerir e dar dicas para tornar o texto e edição melhores, e um olho de lince incrível para captar erros de edição ou de texto", diz Luiz Carlos Duarte, 67, jornalista e escritor, que trabalhou 33 anos no Grupo Folha, tendo como última função a de editor geral do jornal Agora.

A dedicação de Roberto Hirao ao jornalismo foi plena. "O trabalho para meu pai vinha em primeiro lugar. Ele chegava tarde da noite e nós, que somos quatro irmãos, já estávamos dormindo, mas deixávamos os cobertores nos pés da cama para que ele nos cobrisse quando chegasse, o que sempre fazia", diz Silvia Eri Hirao, 43, filha do jornalista.

Demovida pelo pai, Silvia trocou o curso de jornalismo pelo de turismo, no qual se formou bacharel. "Eu tinha o sonho de ser jornalista, mas ele dizia que era uma profissão muito difícil, por conta dos horários, de trabalhar muito e viver em função do trabalho."

Bilhetinhos com elogios e observações sobre provas e trabalhos escolares dos filhos eram ansiosamente aguardados pelos filhos, assim como as críticas internas que Hirao redigia aos companheiros de trabalho. "No Agora, ele fazia críticas internas de maneira informal das edições. Era um alento para a Redação receber essas críticas feitas com muito humor, dando altas dicas. Era uma crítica amável, super bacana e edificante", disse Duarte.

Hirao sempre chegava na Redação com novidades sobre suas paixões, cinema, música e tecnologia para compartilhar com os colegas, com quem também dividia o espaço do Recanto dos Sabiás, uma chácara próxima à cidade de São Roque.

"Meus pais compraram esta chácara, em 1977, para que eu e meus irmãos tivéssemos nossas infâncias no mato, na natureza. Foram muitas festas juninas e de final de ano, com jornalistas e outros amigos do jornal. Ele adorava", disse Silvia sobre o local onde Hirao construiu uma sala de música, com vários discos de vinil, CDs, filmes super-8, fitas de VHS e DVDs para deleite próprio e dos convidados.

Grandes reveses mostram a força da alma desse dedicado jornalista. Diagnosticado com doença de Parkinson, nos anos 1980, até sua morte Roberto Hirao sofreu as consequências de seus sintomas sem nunca reclamar ou perder o humor. Submetido a exercícios de fonoaudiologia e solicitado a dizer uma única palavra falou, com dificuldade para emitir a voz, mas falou: "Corinthians!".

RAIO-X
ROBERTO JUNJI HIRAO (1944-2012)

Nascido em São Paulo, foi autodidata e trabalhou como estagiário, repórter, redator e diretor de Redação. Iniciou carreira no Última Hora, foi editor de Cidades da Folha de S.Paulo, além de editor-executivo e ombudsman da Folha da Tarde e do Agora. Era apaixonado pelo jornalismo e pelo Corinthians.

Este texto faz parte do projeto Humanos da Folha, que apresenta perfis de profissionais que fizeram história no jornal.

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