Há um lugar onde Winston Churchill e Adolf Hitler, antagonistas durante a Segunda Guerra Mundial, estão próximos um do outro. Nesse espaço, pouca distância separa John Kennedy de Nikita Khruschov, inimigos durante o período mais tenso da Guerra Fria.
Getúlio Vargas está perto do seu principal opositor, Carlos Lacerda. E Dilma Rousseff aparece ao lado do sucessor e eterno rival, Michel Temer.
É também onde Didi, Pelé, Romário e Ronaldo Fenômeno, craques de diferentes gerações da seleção de futebol, se avizinham, assim como Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna, dois dos campeões brasileiros da F1.
Esse lugar —repleto de nomes que, cada um ao seu modo, mudaram o Brasil e o mundo— é um livro, a nova edição de "Primeira Página - 100 Anos de História nas Capas Mais Importantes da Folha".
Para encerrar as comemorações do seu centenário, ao chegar aos 101 anos neste sábado (19), a Folha lança a nona versão desta publicação. A primeira saiu em 1985.
A seleção é composta por 225 capas. A primeira das primeiras páginas, publicada em 19 de fevereiro de 1921, abordava as eleições para o Congresso Nacional, que aconteceriam no dia seguinte, e o protesto de "funccionarios municipaes" (grafia da época), entre outros assuntos.
O livro vai da deflagração da Segunda Guerra, em 1939, ao início da pandemia do coronavírus, em 2020; da quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, à crise financeira de 2008; do movimento armado que levou Getúlio ao poder, em 1930, à vitória de Jair Bolsonaro na disputa presidencial de 2018, entre tantos outros registros para a posteridade.
Essa nova edição foi revista e ampliada. Pela primeira vez, há pequenos textos ou infográficos publicados ao lado da reprodução de cada primeira página, que permitem ao leitor compreender melhor a relevância das principais notícias da edição.
O livro traz outras novidades, como textos inéditos de Luiz Frias, publisher da Folha, e de Ruy Castro, jornalista, escritor e colunista do jornal.
"Em um processo semelhante ao da seleção natural, que determina a escolha do que ‘vale’ e do que ‘não vale’ estar na capa, a primeira página é a rainha da edição", escreve Frias na contracapa.
"O tempo dirá quais serão seus sucedâneos no formato online e qual sua periodicidade. Mas o espírito da primeira página, desta seleção que mobilizou jornalistas por gerações, terá papel de destaque no futuro do jornalismo profissional dentro da rede", complementa o publisher.
"Por onde andava o mundo antes de existir a primeira página? Por aí, mas meio às cegas. Era um aglomerado de burgos que não se conheciam, cada qual em sua paliçada, autossuficiente em seus limites. Um fato podia levar séculos para se comunicar com outro. A primeira página os conectou", escreve Ruy Castro na orelha da edição.
Outra inovação do livro está no verso da sobrecapa. Uma linha do tempo, boa fonte de pesquisa para estudantes, indica alguns dos principais acontecimentos desses últimos 100 anos. Essa cronologia pode ser destacada do livro e usada como pôster.
Há ainda uma nova capa, criada pelo designer Fernando Sciarra, e um painel que mostra como o jornal era feito em 1921 e como a Redação trabalha hoje, um trabalho do também designer Marcelo Pliger.
Publicados nas edições anteriores do livro, o texto de apresentação de Otavio Frias Filho (1957-2018), ex-diretor de Redação, e o ensaio do historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014) foram mantidos nessa nova versão.
Aliás, pela primeira vez, uma edição deste livro foi preparada sem a supervisão de Otavio, a quem a obra é dedicada.
A coordenação editorial e visual desta edição é de Naief Haddad e Thea Severino. Colaboraram como redatores Guilherme Botacini e Naná DeLuca.
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