Reportagens exclusivas sobre a gestão da pandemia vencem Prêmio Folha de Jornalismo

Em uma edição com recorde de trabalhos inscritos, 398, premiação referente a 2021 destaca diversidade e didatismo

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São Paulo

No ano em que registrou um número recorde de trabalhos inscritos, o Prêmio Folha de Jornalismo de 2021 destacou iniciativas editoriais do jornal, com a publicação de informações exclusivas e estímulo à diversidade.

Em meio a 398 trabalhos jornalísticos avaliados, a Folha concedeu a dois furos de reportagem a maior premiação do concurso, realizado desde 1993.

Assim "Governo Bolsonaro distribuiu máscara imprópria, desviou cloroquina da malária e blindou hospitais militares", publicada em 17 de março de 2021, e "A revelação de que Pazuello negociou com intermediária de Coronavac pelo triplo do preço", de 16 de julho, conquistaram o Grande Prêmio.

Fora da agenda, o então ministro da Saúde Eduardo  Pazuello (de camisa branca e gravata) negocia Coronavac com intermediária e pelo triplo do preço
Fora da agenda, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello (de camisa branca e gravata) negocia Coronavac com intermediária e pelo triplo do preço - Reprodução

Segundo a comissão julgadora, as duas reportagens vencedoras "foram determinantes na principal cobertura de 2021 sobre a trágica, irresponsável e desonesta administração da pandemia pelo governo Jair Bolsonaro (PL)".

No ano em que as vacinas enfim chegaram aos braços dos brasileiros, os trabalhos dos repórteres Vinicius Sassine, Constança Rezende e Mateus Vargas anteciparam o que foi a tônica do debate público e das investigações da CPI da Covid.

"A partir de apuração própria e consistente, as reportagens trouxeram revelações sobre possíveis crimes e irregularidades do governo", diz Sassine.

Ele informou os leitores sobre "o desvio de cloroquina da malária para Covid; a maneira como o Exército agiu e garantiu o destravamento de dinheiro público para fabricação de cloroquina em seu laboratório; a distribuição de máscaras impróprias a profissionais de saúde, em contrato suspeito do Ministério da Saúde; as falhas no suprimento de sedativos nas UTIs; e a reserva de hospitais militares ociosos, bloqueados para civis".

As reportagens tiveram grande repercussão, pautaram a CPI da Covid e motivaram novas apurações do Ministério Público Federal e do Tribunal de Contas da União, além de provocarem discussão no Congresso sobre projeto de lei que reserva leitos militares a civis.

"Mostramos que o governo Bolsonaro abriu as portas para um mercado paralelo de vacinas, enquanto desdenhou por meses de farmacêuticas e distorceu dados sobre a eficácia e segurança das doses", diz Mateus Vargas.

"Fora das agendas oficiais, as reuniões envolveram desde policial militar que fazia bico de vendedor de milhões de vacinas que não existiam até o general Eduardo Pazuello, que prometeu, em vídeo que estava sob segredo, comprar o imunizante de empresários que não representavam indústria alguma."
Vargas, Sassine e Constança Rezende, ao lado de Julia Chaib e Renato Machado, assinaram outro texto premiado, "O furo da propina de US$ 1, e a revelação do caso Covaxin", na categoria Reportagem Exclusiva.

Para a comissão, esse trabalho, de 18 de junho, além de ter municiado a CPI da Covid, poderá contribuir para apurações e responsabilizações futuras relacionadas à ação de gestores públicos diante da escalada da Covid, que já matou mais de 640 mil pessoas no Brasil.

O mesmo se aplica à reportagem premiada na categoria Cobertura Quente, "Falta de oxigênio agrava crise na saúde de Manaus na pandemia", de Dhiego Maia, com coautoria de Cláudia Collucci, Fábio Zanini e João Pedro Pitombo.

"Esses textos levaram para o campo da corrupção o que antes só era explorado no campo do negacionismo do governo, em relação à demora na compra das vacinas e à recomendação e compra medicamentos ineficazes. Ministério Público Federal e Polícia Federal passaram a investigar se preços de vacinas e insumos contra a Covid foram inflacionados, se houve lobby, tentativas de superfaturamento e enriquecimento ilícito de políticos às custas da pandemia e da população, que, então, morria sem vacina", diz Constança.

Uma das razões para o recorde de inscritos foi a ampliação do Prêmio Folha, que agora tem sete categorias (Grande Prêmio, Reportagem Exclusiva, Cobertura Quente, Didatismo, Audiovisual, Serviço e Iniciativa Editorial). Antes eram seis. "As mudanças tiveram como objetivo atualizar o prêmio de modo a refletir melhor os objetivos do jornalismo tal como o produzimos hoje", diz Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

Dois exemplos da preocupação com leitor são vistos nas categorias Didatismo e Serviço.

Na primeira, foi premiada a série "Estado da Democracia", de Géssica Brandino, Renata Galf e Fábio Zanini. "Mostramos como a democracia brasileira tem sido impactada por diferentes atitudes do governo Bolsonaro. Após quase um ano da publicação, essas ações persistem, e nosso compromisso é continuar jogando luz sobre esses fatos. Ficamos honrados com o prêmio", diz Géssica.

Em Serviço, Paulo Saldaña, Daniel Mariani, Diana Yukari e Flávia Faria foram premiados por "Questões do Enem na mira de Bolsonaro são eficientes em testar conhecimento", que desmontou, com sofisticada análise estatística, o discurso de Bolsonaro e aliados contra o Enem e contra determinadas abordagens, como questões de gênero e ditadura.

"Ficamos muito felizes de ver que o resultado tenha sido um serviço consistente tanto para estudiosos do tema quanto para os participantes do exame", diz Saldaña.

Já a categoria Audiovisual premiou "Histeria, gripezinha e mimimi: o discurso de Bolsonaro após um ano de pandemia", da TV Folha, produzido por Henrique Santana, Victor Parolin e Jasmin Endo Tran e veiculado em 15 de março.

"A ideia do vídeo nasceu sob a tensão do aumento dos casos no país, que contrastava com o desdém do presidente. Com um ano de pandemia e a segunda onda, o conteúdo ganhou novas declarações de Bolsonaro e um gráfico com a escalada das mortes no país. O audiovisual é uma ferramenta que permite maior alcance de audiência, sobretudo nas redes sociais", diz Santana.

Já o treinamento exclusivo para profissionais negros, investimento da Folha para estimular a diversidade nas pautas e nas equipes, foi premiado em Iniciativa Editorial. Conduzida pelas editoras Suzana Singer (Treinamento) e Flavia Lima (Diversidade), a ação teve 18 trainees autodeclarados negros em 2021, e 15 deles —todos os que quiseram— trabalham hoje no jornal.

A segunda edição desse programa de trainees acontece neste ano e tem inscrições abertas até o próximo dia 25.

"Com o segundo programa de treinamento voltado para profissionais negros, o jornal envia mais um sinal importante de que os esforços para tornar a Redação um ambiente mais plural e diverso —um reflexo da nossa sociedade— são parte de um movimento orgânico e de um compromisso real", afirma Flavia Lima.

A comissão julgadora foi formada por Judith Brito, superintendente do Grupo Folha, Solange Srour, colunista, José Henrique Mariante, ombudsman, e Roberto de Oliveira, editor de Projetos e Parcerias.

Os premiados

GRANDE PRÊMIO FOLHA DE JORNALISMO
"Governo Bolsonaro distribuiu máscara imprópria, desviou cloroquina da malária e blindou hospitais militares"
Autor Vinicius Sassine
Data 17.mar.2021

"A revelação de que Pazuello negociou com intermediária de Coronavac pelo triplo do preço"
Autores Constança Rezende e Mateus Vargas
Data 16.jul.2021

REPORTAGEM EXCLUSIVA
"O furo da propina de US$ 1 e a revelação do caso Covaxin"
Autores Constança Rezende, Julia Chaib, Renato Machado, Vinicius Sassine e Mateus Vargas
Data 18.jun.2021

COBERTURA QUENTE
"Falta de oxigênio agrava crise na saúde de Manaus na pandemia"
Autor Dhiego Maia
Coautores Cláudia Collucci, Fábio Zanini e João Pedro Pitombo
Data 15.jan.2021

DIDATISMO
Série "Estado da Democracia"
Autores Géssica Brandino, Renata Galf e Fábio Zanini
Data 1º.mar.2021

AUDIOVISUAL
"Histeria, gripezinha e mimimi: o discurso de Bolsonaro após um ano de pandemia"
Autor Henrique Santana
Coautores Victor Parolin e Jasmin Endo Tran
Data 15.mar.2021

SERVIÇO
"Questões do Enem na mira de Bolsonaro são eficientes em testar conhecimento"
Autores Paulo Saldaña, Daniel Mariani, Diana Yukari e Flávia Faria
Data 20.nov.2021

INICIATIVA EDITORIAL
Treinamento exclusivo para profissionais negros
Autores Flavia Lima e Suzana Singer
Data 9.jun.2021

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