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Crianças devem aprender a se autoproteger, diz vítima de pedofilia

Depois de lançar livro para denunciar padre, o empresário Marcelo Ribeiro se engaja no movimento #AgoraVcSabe para levar o debate a famílias e escolas

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Eliane Trindade Giovanna Balogh
São Paulo

Oito anos após escrever o livro "Sem Medo de Falar - Relato de uma Vítima de Pedofilia" (ed. Paralela, 195 págs.), em que tornou público ter sido vítima de abusos sexuais praticado por um padre, o empresário Marcelo Ribeiro, 56, diz que a insegurança quanto à pedofilia só aumentou após se tornar pai.

"Não sinto que meu filho está seguro em nenhum lugar. O abuso acontece em todos os lugares, inclusive em casa", diz Ribeiro, pai de um menino de 4 anos.

homem branco de camiseta azul sentado em frente a lareira
O empresário Marcelo Ribeiro, contou em livro como foi ser vítima de pedofilia e conseguiu prisão do acusado - Marlene Bergamo/Folhapress

Abusado sexualmente entre os 12 e os 15 anos, quando participava do coral de uma igreja católica, Ribeiro personifica as estatísticas de que 86% das violências sexuais são praticadas por conhecidos, segundo os dados de 2021 do Anuário de Violências do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Após ter denunciado o caso em uma série de reportagens na Folha em 2014, que levaram o então bispo João Marcos Porto Maciel à prisão, Ribeiro sente-se orgulhoso por ter rompido o silêncio e exposto o abusador.

"Demorei 30 anos para conseguir falar e isso ajudou outras vítimas a falarem e conseguimos condenar e prender ele, que abusou de crianças e adolescentes por mais de 50 anos."

Ribeiro é um dos participantes da passeata virtual #AgoraVcSabe, puxada pelo Instituto Liberta. O levante virtual vai reunir vítimas de violência sexual na infância e na adolescência em 18 de Maio para dar visibilidade a um problema que é uma realidade em todas as classes sociais no país.

Na perspectiva de pai, o empresário diz que seu foco mudou para a luta para levar a informação sobre o que é abuso sexual e o que é consentimento justamente para a parcela mais vulnerável a esse tipo de violência, que não escolhe gênero, classe ou raça.

A maioria das vítimas, 75,7%, tem menos de 18 anos quando são abusadas ou violentadas. "Que a nossa geração seja a última que tenha sido abusada e, para isso, precisamos informar as crianças desde cedo", comenta.

Segundo ele, além de os pais falarem sobre esse assunto, as escolas também precisam abordar esse tema desde a educação infantil.

Que a nossa geração seja a última que tenha sido abusada e, para isso, precisamos informar as crianças desde cedo

Marcelo Ribeiro

empresário e vítima de pedofilia

Ribeiro diz que a violência sexual na infância e adolescência deve ser uma pauta no programa de governo dos candidatos nas próximas eleições, para que o tema se transforma em política pública e seja tratado nas escolas de todo o país.

"Como as políticas públicas demoram, as escolas devem começar desde já a abordar esse assunto para que as crianças possam se defender", afirma. "A prevenção possível é na proteção da criança e no ensinamento da autoproteção para que elas identifiquem o que é um abuso."

Um passo importante para evitar que outras gerações sejam abusadas. "Na minha geração, quem não foi abusado é exceção", lamenta.

Para o empresário, a sociedade está doente, por fazer vistas grossas ou não enfrentar de frente situações que levam a abusos.

Silêncio que acaba protegendo pedófilos e tornando cada vez mais difícil para as vítimas falarem sobre os abusos sofridos.

Como no próprio caso, denunciado quando o crime havia prescrito. Ele ressalta que o abusador só foi preso porque tinham vítimas mais recentes que tiveram coragem de denunciar também.

Ribeiro conta que o apoio da sua mulher e de terapia têm sido fundamentais. "É preciso ajuda para compreender tudo e encarar esse mundo difícil. Quanto mais você fala, mais a memória volta", relata Ribeiro, após um longo trabalho para compreender tudo que viveu.

"A vítima se sente muito culpada, mas a culpa não é da criança e do adolescente", conclui.

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