Descrição de chapéu tecnologia

Festival Tech inspira jovens de periferia para uso de tecnologia para impacto positivo

Evento realizado pela Recode e Fundação Tide Setubal nesta quinta-feira oferece painéis, workshops e experiências imersivas com as novidades tecnológicas do momento

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ana Paula Franzoia
São Paulo

O Galpão ZL, no Jardim Lapena, zona leste de São Paulo, começou a quinta-feira com cerca de 200 estudantes de 11 a 18 anos ocupando suas instalações. A movimentação foi causada pela abertura do Festival Tech, iniciativa da Fundação Tide Setúbal e da Recode, organização sem fins lucrativos dedicada à inclusão digital. O evento, que tem atividades até às 20h, pretende estimular os jovens a se apropriarem da tecnologia como ferramenta de transformação social.

Um homem, em pé, e uma mulher, sentada, estão no palco do evento. Ele veste blusa azul e calça preta, e ela blusa vermelha e calça preta
Abertura do Festival Tech, com Mariana Almeida, da Fundação Tide Setubal, e Rodrigo Baggio, da Recode, realizadores do evento no Galpão ZL - Eliane Trindade

Mariana Almeida, coordenadora da Fundação Tide Setúbal, e Rodrigo Baggio, da Recode, explicam que o principal objetivo é inspirar os participantes para que eles se apropriem das várias oportunidades que a área possibilita.

"É apenas o começo, queremos sentir como a tecnologia toca esses jovens e pensar em mais ações", diz Mariana.

Nossa intenção é que esse seja o primeiro passo, queremos sensibilizar e engajar, porque iniciativas como essa amplificam a perspectiva de entrada no mercado de trabalho, impactando diretamente a comunidade

Mariana Almeida

coordenadora da Fundação Tide Setúbal

A importância da inclusão e da diversidade na tecnologia foi tema da conversa que abriu o evento. Durante o bate-papo, mediado pela jornalista Flávia Lima, secretária-adjunta de redação da Folha de S. Paulo, os convidados ressaltaram que equipes diversas são mais criativas e mais produtivas.

"A multiplicidade se reflete em experiências melhores para uma gama maior de usuários", disse Felipe Oliveira, consultor sênior de relacionamento da ID_BR.

"Um exemplo da falta de representatividade nesse mercado são os programas de reconhecimento facial, que quase sempre não faz a leitura correta de pessoas pretas, pois foram testadas em homens brancos", conta Felipe.

Fundador de uma startup que inclui minorias no mercado de TI, a Carambola, Gustavo Glasser salientou que é urgente que os jovens periféricos se apropriem da tecnologia. "Não é mais opção saber de tecnologia, logo todas as profissões precisarão de conhecimento tecnológico", acredita ele, que emocionou a plateia com a própria experiência de homem trans nascido na periferia.

Mulher negra, Sulamita Brito é engenheira gerente de software do Ifood, contou como essa indústria ainda é predominantemente branca e masculina.

A potência das mulheres pretas ainda não ocupa esses espaços e precisamos mudar isso o quanto antes

Sulamita Brito

Engenheira Gerente de Software do Ifood

Já Wanderson Strock narrou a transformação que sofreu ao fazer seu primeiro curso da Recode, dentro de uma prisão, quando cumpria pena e aproveitou aquela oportunidade para mudar de vida. "É preciso aproveitar a chance quando ela aparece e esse evento é uma delas", disse ele, que é hoje o coordenador de projetos da Recode, que já o levou ao Vale do Silício.

O segundo painel refletiu sobre o papel da tecnologia na solução de problemas sociais. "É urgente que a tecnologia chegue nas periferias, pois ela não pode ser a próxima régua de desigualdade da nossa sociedade", afirma Flora Bitancourt, fundadora da Movimentarte e idealizadora do MAIS (Mapa do Impacto Social).

Para Allan Almeida, CEO do Parças, escola de tecnologia voltada para jovens periféricos ou em privação de liberdade, não faltam oportunidades a serem ocupadas. "Eventos como esse ajudam a despertar o interesse para a área, se eu tivesse tido a chance de participar de um desses não deixaria passar", garante ele. "O impacto social que a apropriação da tecnologia em locais periféricos pode trazer tem uma potência enorme."

Com 28 anos de experiência à frente da Recode, Rodrigo Baggio conta que a organização já impactou a vida de mais de 1.800 milhão de pessoas. "Temos uma metodologia própria, baseada na experiência do educador Paulo Freire e empregamos em mais de 700 jornadas de empoderamento digital. Há 28 anos eu me reprogramei e agora estamos reprogramando milhares de vidas", diz o empreendedor social.

A conversa, mediada pela Editora de Empreendedorismo da Folha de S. Paulo, Eliane Trindade, contou ainda com a participação de Ronaldo Stabile, fundador da Reurbe, parceira da Recode. A empresa monta computadores e equipamentos a partir de descarte eletrônico, aliando impacto social e ambiental na mesma iniciativa.

"O custo dos equipamentos é baixo e com isso conseguimos fornecer para quilombolas, aldeias indígenas, organizações sociais, como a Recode", conta o empreendedor que aposta no conhecimento tecnológico como uma poderosa ferramenta de inclusão social.

Após os painéis inspiracionais, o Festival Tech segue com a programação de palestras sobre empregabilidade, experiências de imersão no metaverso ou com realidade virtual e workshops sobre programação, marketing digital, criação de filtros para Instagram e roteirização.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.