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Editorial: Cai a emenda, não nós
[publicado em 26 de abril de 1984]

Neste texto foi mantida a grafia original da época


Frustrou-se a esperança de milhões. Uma compacta minoria de maus parlamentares disse não à vontade que seu próprio povo soube expressar com transparência, firmeza e ordem. Nunca a sociedade brasileira se ergueu com tal vulto, nunca um movimento se irradiou de modo tão amplo nem o curso da história se apresentou assim palpitante e inconfundível. Em poucos meses a campanha pelas diretas-já dissolveu fronteiras de todo tipo para imantar o espírito dos brasileiros numa torrente serena, profunda, irrefreável. Um povo sempre acusado de abulia e de inaptidão para a vida pública ofereceu, ante a surpresa de observadores locais e estrangeiros, o espetáculo de seu próprio talento para se organizar e manifestar com responsabilidade, energia e imaginação.

A tudo isso, congressistas cujos nomes publicamos nesta mesma página disseram não. Evitemos insultar a memória do passado e as gerações de amanhã chamando-os congressistas: são representantes de si próprios, espectros de parlamentares, fiapos de homens públicos, fósseis da ditadura. Antes votar não a omitir-se covardemente, como muitos fizeram; melhor, porém, era renunciar ao mandato do qual não conseguiram mostrar-se à altura, devolvendo-o com um pedido de desculpas a sua fonte legítima de origem. Não foi o que fizeram e eles sabem o que fazem. Mas não sabem que o Brasil -felizmente!- mudou, que a sociedade civil resgatará seus compromissos, a população exigirá seus direitos tantas vezes postergados e os eleitores retribuirão na mesma moeda: não mais terá votos quem lhes negou o direito ao voto.

Esta Folha não foi a primeira nem a única a exigir diretas-já. Mas não mediu esforços, desde o início, para que a campanha se transformasse nesse grande festival de civilização política que vimos presenciando e estimulando. É nessa condição que dirigimos agora um apelo aos nossos leitores e a todos os brasileiros, cidadãos desta Pátria renascida. Neste momento de amargura é fundamental preservar aquilo que tem sido a força do movimento. Em lugar da violência, a participação; em lugar do tumulto, a tranquilidade; em lugar do desespero, a persistência; em lugar do desânimo, a vitalidade renovada a cada revés. De onde proveio a força moral e política desta campanha senão de seu caráter pacífico, de sua forma organizada, de sua natureza unitária, de sua amplitude social e geográfica, de seu propósito radicalmente democrático, de seu estilo generoso, de seu aspecto colorido? É preciso aprender com os erros, certamente; mais importante é não abandonar os acertos.

Acima de tudo é necessário manter a ordem, a paz e a tranquilidade. Não somos o primeiro povo a lutar por sua emancipação definitiva e a lição das experiências análogas é que a luta é sempre longa, difícil e penosa. A emenda Dante de Oliveira está derrotada, não nós. Ainda que já tivéssemos reconquistado as diretas haveria um extenso caminho a percorrer.

Continuemos com a mesma intransigência e com a mesma esperança.

Colocamos ontem mais um tijolo nesse edifício que os homens e as mulheres do futuro, diferentes por suas etnias, pensamentos e interesses, hão de contemplar e dizer: eis aí um belo lugar, eis aí onde queremos viver por muitos anos e onde queremos que nossos filhos cresçam, ao mesmo tempo trabalhando, aprendendo e divertindo-se.

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