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20/12/2002 - 23h44

Possibilidade de guerra afasta ocidentais da Jordânia

SILVIA SALEK
da BBC, em Amã

O setor de turismo da Jordânia teme que uma guerra contra o Iraque seja fatal para a maioria dos empreendimentos turísticos do país, já prejudicados pela situação política no Oriente Médio nos últimos anos.

Desde o início da atual Intifada palestina, em setembro de 2000, o número de turistas europeus e americanos na Jordânia não pára de cair.

O conflito entre Israel e palestinos fez com que o total de europeus registrasse uma redução de 53% nos primeiros nove meses de 2002, em comparação com o mesmo período de 2000.

"Eles têm medo de vir para cá", disse Marwan Khoury, diretor-geral do Comitê de Turismo da Jordânia à BBC Brasil. "Se um conflito em um dos lados da nossa fronteira já foi capaz de causar tal estrago, imagine o que pode acontecer se começar uma guerra no Iraque".

Novo perfil
Mas, se ocidentais têm se afastado do país, o mesmo não tem acontecido com visitantes de países árabes.

Apesar da queda no número de turistas europeus e americanos dos últimos dois anos, o total de visitantes na Jordânia aumentou 5% ao longo dos nove primeiros meses de 2002.

"Da mesma forma que os ocidentais têm medo de vir para cá, o turista árabe tem medo de ir para a Europa e para os Estados Unidos, por receio de sofrer discriminação. Isso está trazendo esses turistas para destinos como a Jordânia", explicou Khoury.

O número de turistas árabes na Jordânia, principalmente vindos dos países do Golfo Pérsico, aumentou 18% neste ano.

Apesar desse aumento, cidades históricas, como Jerash, Petra e Madaba, continuam praticamente vazias.

Isso porque o visitante árabe, diferentemente do europeu e do americano, não tem tanto interesse pelos monumentos históricos da Jordânia, como a cidade de Petra, esculpida em uma rocha há 2000 mil anos.

"Eles vêem Amã como a Paris do mundo árabe. Vêm fazer compras e aproveitar nossas cafeterias e restaurantes", disse Khalda Rahman, funcionária de uma loja de roupas em um shopping center da capital.

Apesar do alívio provocado pela chegada dos turistas árabes, o setor teme os efeitos de uma possível guerra no Iraque, que afastaria qualquer tipo de visitante da Jordânia.

Essa perspectiva de um conflito no Iraque, que para muitos analistas deve acontecer no início de 2003, já está prejudicando empreendimentos como o hotel Arena, em Amã.

A taxa de ocupação no hotel, de três estrelas, nunca foi tão baixa. Dos 73 quartos, apenas três estavam ocupados, em média, no mês de dezembro.

"Nessa época já deveríamos ter quase 90% dos quartos reservados para o inverno, quando os turistas americanos e europeus costumavam chegar em massa. Não temos uma reserva sequer. Ninguém quer se arriscar a estar aqui quando uma guerra começar", disse o gerente do hotel, Omar Tagik.

"Estamos operando no prejuízo e só não vamos fechar as portas porque a família proprietária tem outros negócios que sustentam o hotel", disse o gerente.

Acordos de paz
Desde que a Jordânia assinou o acordo de paz com o vizinho Israel, em 1994, os investimentos em turismo no país não pararam de crescer.

Desde então, foram gastos cerca de US$ 600 milhões na construção de hotéis e em investimentos de infra-estrutura para o turista.

"Pensamos que uma era de paz estivesse começando, mas não imaginamos que estaríamos tão suscetíveis aos acontecimentos em Israel e em outras partes do Oriente Médio", disse Khoury.

Segundo ele, a imprensa, mesmo sem querer, acaba prejudicando a imagem do país ao falar em crise no Oriente Médio.

"Esse tipo de generalização afasta o turista. Não há crise no Oriente Médio, há crise em Israel e no Iraque. Não temos problemas no nosso país, mas levamos a fama. Imagine se, por causa dos rebeldes bascos na Espanha, começássemos a falar em crise na Europa? Ninguém aceitaria", concluiu.
 

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