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19/04/2003
-
08h52
da BBC, em Buenos Aires
A estratégia de campanha de Néstor Kirchner, candidato à Presidência da Argentina, é atacar o seu principal adversário nas eleições: o ex-presidente Carlos Menem.
Kirchner não fala o nome de Menem, a quem prefere referir-se publicamente como "aquele velho fantasma".
Ele também costuma dizer que representa a novidade na campanha e que seria incapaz de, por exemplo, pintar os cabelos -outra alfinetada no ex-presidente, que não abre mão do cabelereiro particular durante suas viagens de campanha.
Os cartazes de propaganda de Kirchner, espalhados por Buenos Aires, trazem as palavras: "Não podemos voltar ao passado. Vote por um país sério".
Ataques
Em um país sem horário eleitoral, a campanha de Kirchner na televisão também tem o objetivo de destruir a imagem do seu principal adversário na corrida eleitoral.
No entanto, para o analista Gustavo Martínez Pandiani, professor da Universidade del Salvador, a estratégia favorece mais a Menem do que a Kirchner.
"Todos os spots na TV parecem feitos para beneficiar o ex-presidente", afirma o professor. "Um diz 'ganhe ao passado' e o outro 'de um a um fomos ficando sem trabalho'. Mas se a pessoa estiver distraída ou se tirar o volume da TV, pensará que é propaganda para Menem", afirma.
"Um a um" foi como ficou conhecido o sistema econômico de conversibilidade, que atrelou o peso ao dólar durante as duas gestões de Menem, entre 1989 e 1999.
Corrupção
Nos últimos dias, na reta final para o pleito, que será realizado no próximo dia 27, Néstor Kirchner aumentou sua aposta, declarando em todos os comícios que Menem é corrupto.
"Ele simboliza o pior que já aconteceu neste país", afirma o candidato.
As denúncias de corrupção contra o ex-presidente são, segundo diferentes analistas políticos, o seu ponto fraco nesta corrida eleitoral.
Durante a semana, Kirchner lançou, junto com o sociólogo Torcuato Di Tella, o livro Depois da derrocada. Seu público-alvo é o mesmo que rejeita o ex-presidente: a classe média argentina.
Lavagna
Néstor Kirchner, 53, é governador da Província de Santa Cruz, na Patagônia, da qual não precisou afastar-se mesmo em campanha.
A legislação eleitoral argentina não prevê a desincompatibilização dos candidatos de seus cargos públicos.
Assim como Menem e o presidente Eduardo Duhalde, seu padrinho político nesta eleição, Kirchner integra o dividido Partido Justicialista (PJ, peronista).
A Justiça eleitoral proibiu que os presidenciáveis do peronismo - Kirchner, Menem e Adolfo Rodríguez Saá -utilizassem a marca do PJ na campanha. Por isso, Néstor Kirchner batizou sua chapa de Frente para a Vitória.
Acusado de ter um discurso imprevisível, ele anunciou que o atual ministro da Economia, Roberto Lavagna, continuará no cargo, caso seja eleito.
Lavagna, para surpresa de muitos, gravou um anúncio em que declara apoio ao presidenciável.
Aversão a Menem
Kirchner é casado com a senadora Cristina Kirchner, que, para muitos, era mais conhecida do que ele até pouco tempo atrás.
Cristina não resiste a uma câmera de televisão e costuma disparar críticas para diferentes setores. A parlamentar é o braço-direito do presidenciável na campanha.
Kirchner conta ainda com o apoio declarado do presidente argentino e da primeira-dama, Hilda "Chiche" Duhalde.
Em comum, os dois casais têm a aversão a Carlos Menem. Duhalde foi vice-presidente nos primeiros dois anos de gestão de Menem, em 1989, e Kirchner governador enquanto ele presidia o país.
Há dez dias, Duhalde vestiu uma camisa esporte, abraçou a primeira-dama, candidata às eleições legislativas de setembro, e pediu: "Queridos peronistas, devemos nos unir na reta final desta campanha e bater de casa em casa para conquistar o voto para nosso candidato".
As declarações de Duhalde foram ouvidas durante um comício em um palanque montado em um sítio que foi do ex-presidente Juan Domingo Perón (o "pai" do peronismo). Ao seu lado, sorridente, Kirchner aplaudia.
Para o analista político Joaquín Morales Solá, do jornal "La Nación", Kirchner tem dois defeitos: dificuldades em se comunicar e falta do que comunicar aos seus eleitores.
Inimigos próprios
De acordo com a última pesquisa de opinião, divulgada na quinta-feira pelo instituto Ipsos-Mora y Araujo, a candidatura de Néstor Kirchner para presidente caiu de 21,2%, em março, para 16,8%.
Para analistas como Manuel Mora y Araujo e Ricardo Rouvier, do instituto que leva o seu nome, a indefinição sobre as medidas que pretende adotar e as idas e vindas nos seus discursos são os principais "inimigos" da eleição de Kirchner.
O candidato já apareceu em primeiro lugar nas pesquisas de opinião. Agora, está em segundo, ainda dentro da margem de erro, atrás do ex-presidente Carlos Menem.
De acordo com o mesmo levantamento, Menem conta com 18,3% das intenções de voto.
No entanto, para Manuel Mora y Araujo, a única certeza é de que haverá segundo turno, e talvez entre Menem e Kirchner.
Seja como for, entende o analista político Joaquín Morales Solá, o futuro político de Duhalde depende do resultado de Kirchner nas urnas.
Candidato de Duhalde busca eleição com críticas a Menem
MARCIA CARMOSda BBC, em Buenos Aires
A estratégia de campanha de Néstor Kirchner, candidato à Presidência da Argentina, é atacar o seu principal adversário nas eleições: o ex-presidente Carlos Menem.
Kirchner não fala o nome de Menem, a quem prefere referir-se publicamente como "aquele velho fantasma".
Ele também costuma dizer que representa a novidade na campanha e que seria incapaz de, por exemplo, pintar os cabelos -outra alfinetada no ex-presidente, que não abre mão do cabelereiro particular durante suas viagens de campanha.
Os cartazes de propaganda de Kirchner, espalhados por Buenos Aires, trazem as palavras: "Não podemos voltar ao passado. Vote por um país sério".
Ataques
Em um país sem horário eleitoral, a campanha de Kirchner na televisão também tem o objetivo de destruir a imagem do seu principal adversário na corrida eleitoral.
No entanto, para o analista Gustavo Martínez Pandiani, professor da Universidade del Salvador, a estratégia favorece mais a Menem do que a Kirchner.
"Todos os spots na TV parecem feitos para beneficiar o ex-presidente", afirma o professor. "Um diz 'ganhe ao passado' e o outro 'de um a um fomos ficando sem trabalho'. Mas se a pessoa estiver distraída ou se tirar o volume da TV, pensará que é propaganda para Menem", afirma.
"Um a um" foi como ficou conhecido o sistema econômico de conversibilidade, que atrelou o peso ao dólar durante as duas gestões de Menem, entre 1989 e 1999.
Corrupção
Nos últimos dias, na reta final para o pleito, que será realizado no próximo dia 27, Néstor Kirchner aumentou sua aposta, declarando em todos os comícios que Menem é corrupto.
"Ele simboliza o pior que já aconteceu neste país", afirma o candidato.
As denúncias de corrupção contra o ex-presidente são, segundo diferentes analistas políticos, o seu ponto fraco nesta corrida eleitoral.
Durante a semana, Kirchner lançou, junto com o sociólogo Torcuato Di Tella, o livro Depois da derrocada. Seu público-alvo é o mesmo que rejeita o ex-presidente: a classe média argentina.
Lavagna
Néstor Kirchner, 53, é governador da Província de Santa Cruz, na Patagônia, da qual não precisou afastar-se mesmo em campanha.
A legislação eleitoral argentina não prevê a desincompatibilização dos candidatos de seus cargos públicos.
Assim como Menem e o presidente Eduardo Duhalde, seu padrinho político nesta eleição, Kirchner integra o dividido Partido Justicialista (PJ, peronista).
A Justiça eleitoral proibiu que os presidenciáveis do peronismo - Kirchner, Menem e Adolfo Rodríguez Saá -utilizassem a marca do PJ na campanha. Por isso, Néstor Kirchner batizou sua chapa de Frente para a Vitória.
Acusado de ter um discurso imprevisível, ele anunciou que o atual ministro da Economia, Roberto Lavagna, continuará no cargo, caso seja eleito.
Lavagna, para surpresa de muitos, gravou um anúncio em que declara apoio ao presidenciável.
Aversão a Menem
Kirchner é casado com a senadora Cristina Kirchner, que, para muitos, era mais conhecida do que ele até pouco tempo atrás.
Cristina não resiste a uma câmera de televisão e costuma disparar críticas para diferentes setores. A parlamentar é o braço-direito do presidenciável na campanha.
Kirchner conta ainda com o apoio declarado do presidente argentino e da primeira-dama, Hilda "Chiche" Duhalde.
Em comum, os dois casais têm a aversão a Carlos Menem. Duhalde foi vice-presidente nos primeiros dois anos de gestão de Menem, em 1989, e Kirchner governador enquanto ele presidia o país.
Há dez dias, Duhalde vestiu uma camisa esporte, abraçou a primeira-dama, candidata às eleições legislativas de setembro, e pediu: "Queridos peronistas, devemos nos unir na reta final desta campanha e bater de casa em casa para conquistar o voto para nosso candidato".
As declarações de Duhalde foram ouvidas durante um comício em um palanque montado em um sítio que foi do ex-presidente Juan Domingo Perón (o "pai" do peronismo). Ao seu lado, sorridente, Kirchner aplaudia.
Para o analista político Joaquín Morales Solá, do jornal "La Nación", Kirchner tem dois defeitos: dificuldades em se comunicar e falta do que comunicar aos seus eleitores.
Inimigos próprios
De acordo com a última pesquisa de opinião, divulgada na quinta-feira pelo instituto Ipsos-Mora y Araujo, a candidatura de Néstor Kirchner para presidente caiu de 21,2%, em março, para 16,8%.
Para analistas como Manuel Mora y Araujo e Ricardo Rouvier, do instituto que leva o seu nome, a indefinição sobre as medidas que pretende adotar e as idas e vindas nos seus discursos são os principais "inimigos" da eleição de Kirchner.
O candidato já apareceu em primeiro lugar nas pesquisas de opinião. Agora, está em segundo, ainda dentro da margem de erro, atrás do ex-presidente Carlos Menem.
De acordo com o mesmo levantamento, Menem conta com 18,3% das intenções de voto.
No entanto, para Manuel Mora y Araujo, a única certeza é de que haverá segundo turno, e talvez entre Menem e Kirchner.
Seja como for, entende o analista político Joaquín Morales Solá, o futuro político de Duhalde depende do resultado de Kirchner nas urnas.
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