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06/05/2003 - 12h11

Acordo entre governo e Farc está mais distante na Colômbia

VALQUÍRIA REI
da BBC, em Bogotá

As dez mortes que ocorreram ontem na Colômbia, durante uma tentativa frustrada das autoridades militares de resgatar um grupo de 13 pessoas seqüestradas pela maior guerrilha em ação no país, não devem modificar a política de segurança do governo.

Em pronunciamento feito no final da noite de ontem, o presidente Álvaro Uribe deixou claro que não pretende negociar com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) num curto espaço de tempo.

Analistas consultados pela BBC Brasil destacam como positivo o fato do presidente assumir parte da culpa pelas mortes.

Mas dizem que o conteúdo do discurso, apesar de emotivo, afasta ainda mais as possibilidades do governo Uribe assinar um acordo com os rebeldes, que possibilite a libertação de personalidades políticas e militares que se encontram no cativeiro das Farc em troca de guerrilheiros presos.

Análise

Na opinião de Alfredo Rangel, um dos mais importantes analistas político e militar colombiano, o governo descartou por completo sua intenção de negociar.

O analista lembra que Uribe destacou, em inúmeras ocasiões de seu pronunciamento, a capacidade militar para derrotar a guerrilha e que seus homens não descansará enquanto não encontrarem membros da direção nacional das Farc.

Segundo Rangel, no mesmo momento em que chama os guerrilheiros de terroristas e matadores profissionais, o presidente diz que não pode desmotivar a força militar, colocando membros das Farc em liberdade.

"O governo deve dar seguimento à mesma política de segurança", afirmou Rangel, ao classificar a operação de resgate realizada ontem como o maior erro do período Uribe até o momento. "Mas, deverá ser mais duro na sua tentativa de vencer militarmente os grupos guerrilheiros."

Além da dor entre os familiares das vítimas e a consternação nacional que essas mortes provocaram, Rangel assinala que as repercussões serão ainda mais profundas.

Ele acredita que o ambiente para um acordo entre o governo e a guerrilha deve ficar mais distante, já que a margem de manobra ficou mais reduzida que a existente antes dessas mortes, quando o governo estava sendo pressionado para negociar.

Rangel acredita, no entanto, que as pressões dos familiares dos seqüestrados exercerão um papel muito importante daqui para a frente. "O trabalho deles será mais sistemático. Não permitirão qualquer ação de busca ou resgate e vão insistir com o acordo humanitário", disse.

O senador e ex-guerrilheiro Antonio Navarro Wolf classificou o incidente de ontem como mais um obstáculo à realização de um processo de paz na Colômbia.

Ele acredita que o país deve ficar ainda mais dividido, tendo, de um lado, os defensores da realização de uma acordo entre o governo e a guerrilha e, do outro, aqueles que vêem na força militar a única saída possível ao conflito interno.

Mais grave ainda, de acordo com ele, a polarização será entre uma guerrilha que prefere seus seqüestrados mortos antes de resgatados e um governo empenhado em quebrar as Farc militarmente, preferindo seguir com as operações de busca, em vez de negociar.

Golpe

Daniel García-Peña, ex-conselheiro de paz, disse que as dez mortes ocorridas ontem foram um duro golpe contra a paz na Colômbia e lamentou as demonstrações do governo de que seguirá acreditando na via militar como única saída para o conflito interno.

"Somente com diálogo vamos superar essa barbárie", afirmou García Peña. "O governo precisa abrir portas, ceder algumas exigências. Caso contrário, vamos seguir contando os mortos".

Os familiares dos seqüestrados assassinados e daqueles que ainda seguem no cativeiro da guerrilha temem que o governo siga com as operações de resgate para vingar as dez mortes.

"O discurso do presidente Álvaro Uribe indica esse caminho", assinalou Yolanda Pulecio, mãe da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, seqüestrada pelas Farc em fevereiro do ano passado.

"Não autorizo nenhuma dessas ações, porque sei que minha filha corre muitos riscos e pode ser assassinada. O governo deveria pensar em paz com a guerrilha e não falar em mais mortes."

A mesma opinião tem Fabíola Perdomo, da Fundação pela Vida e pela Liberdade, que busca a liberação de politicos seqüestrados pelas Farc.

"Estamos preocupados porque o governo ficou muito ressentindo com o que ocorreu", disse. "É preciso acreditar que a única maneira de nossos familiares regressarem com vida para a casa é por meio do diálogo. Qualquer outra saída pode ser nefasta para eles."

Yolanda Pinto, esposa do governo Guillermo Gavíria, assassinado ontem, ao dizer que perdoava os culpados pelo incidente, pediu ao presidente Uribe e ao líder guerrilheiro Manuel Marulanda que negociem um acordo, permitindo a liberação de todos os seqüestrados colombianos.

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