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16/07/2003
-
07h51
da BBC, em Bogotá
O anúncio da desmobilização do maior grupo paramilitar colombiano, as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), foi festejado com reservas no país.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que o documento assinado ontem pela AUC e o governo indica que, num primeiro momento, a intensidade do conflito interno possa ser reduzida.
No entanto, afirmam que o acordo não acabará com o paramilitarismo e deve afastar ainda mais os grupos guerrilheiros Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN) de um processo de negociação de paz.
"A divulgação desse documento é muito importante, porque agora podemos conhecer os procedimentos que serão tomados na desmobilização total das AUC", diz Daniel Garcia-Peña, ex-conselheiro de paz do governo.
Segundo Garcia-Peña, desmobilizar as AUC não basta para acabar com o fenômeno paramilitar.
De acordo com ele, seria necessária a criação de uma comissão de esclarecimento da verdade sobre as atrocidades cometidas pelo grupo e o grau de responsabilidade do governo no desenvolvimento e crescimento do paramilitarismo na Colômbia.
Algumas organizações defensoras de direitos humanos acusam as Forças Armadas Colombianas de envolvimento com os paramilitares.
Os ativistas afirmam também que o presidente Álvaro Uribe mantém vínculos com os mesmos grupos, porque, quando foi governador de Antióquia (1995-97), autorizou a formação de milícias armadas.
As AUC prometem desmobilizar todos os seus membros, num processo gradual que começa antes do final deste ano e deve estar concluído até dezembro de 2005.
De acordo com o documento, denominado "Acordo de Santa Fé de Ralito para contribuir com a paz da Colômbia", o governo se compromete a buscar alternativas para integrar os paramilitares à vida civil.
As partes também decidiram que os membros das AUC desmobilizados estarão concentrados em uma determina zona do país, com todas as garantias de segurança e presença policial.
Cessar-fogo
No acordo, o grupo de extrema direita se compromete a manter o cessar-fogo, decretado em dezembro do ano passado, e a trabalhar com o governo para acabar com o narcotráfico no país.
"Não sei se podemos confiar num grupo que anunciou um cessar-fogo, mas nunca deixou de matar civis inocentes", disse o senador Antonio Navarro Wolf, ex-integrante do grupo guerrilheiro M-19, reintegrado à sociedade numa negociação com o governo.
"Essa negociação apresenta inúmeros problemas. Mas o mais importante é que eles se comprometam a parar de matar gente".
Na avaliação de Navarro Wolf, o acordo com as AUC não pode ser considerado sério, porque descarta punições aos massacres cometidos pelo grupo e reparação às vítimas.
O governo do presidente Uribe e as AUC vêm mantendo contato desde o começo do ano.
Segundo o alto comissário para a paz do governo, Luis Carlos Restrepo, devem ser reinseridos à sociedade 13 mil membros do grupo ilegal, dentro do processo de negociação com o governo que se inicia em 90 dias.
"Há um compromisso das autodefesas de se desligarem das atividades relativas ao narcotráfico e do recrutamento de crianças" afirma Restrepo.
"Assim, conseguimos manter o apoio do governo americano nessa negociação", acrescentou.
Dinheiro dos EUA
De acordo com Restrepo, os Estados Unidos se comprometeram a financiar a desmobilização de 1,5 mil homens armados neste ano e o mesmo número em 2004 --uma ajuda avaliada em cerca de US$ 3 milhões.
Washington manterá, no entanto, os pedidos de extradição dos dois principais líderes das AUC, Carlos Castaño e Salvatore Mancuso, devido ao envolvimento deles com o narcotráfico.
Para o defensor público, Eduardo Cifuentes, o positivo dessa negociação é que, ao desmobilizar um dos grupos armados, ela vai reduzir a intensidade do conflito.
O analista político Alfredo Rangel é pessimista. Para ele, enquanto as guerrilhas não participarem do processo de paz, ou forem debilitadas de forma definitiva, o narcotráfico persistir e os narcotraficantes seguirem organizando exércitos privados, continuarão existindo paramilitares.
Especial
Leia mais sobre o conflito na Colômbia
Analistas vêem com cautela acordo na Colômbia
VALQUIRIA REYda BBC, em Bogotá
O anúncio da desmobilização do maior grupo paramilitar colombiano, as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), foi festejado com reservas no país.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que o documento assinado ontem pela AUC e o governo indica que, num primeiro momento, a intensidade do conflito interno possa ser reduzida.
No entanto, afirmam que o acordo não acabará com o paramilitarismo e deve afastar ainda mais os grupos guerrilheiros Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN) de um processo de negociação de paz.
"A divulgação desse documento é muito importante, porque agora podemos conhecer os procedimentos que serão tomados na desmobilização total das AUC", diz Daniel Garcia-Peña, ex-conselheiro de paz do governo.
Reuters - 27.mai.2002 |
Alvaro Uribe, presidente da Colômbia |
De acordo com ele, seria necessária a criação de uma comissão de esclarecimento da verdade sobre as atrocidades cometidas pelo grupo e o grau de responsabilidade do governo no desenvolvimento e crescimento do paramilitarismo na Colômbia.
Algumas organizações defensoras de direitos humanos acusam as Forças Armadas Colombianas de envolvimento com os paramilitares.
Os ativistas afirmam também que o presidente Álvaro Uribe mantém vínculos com os mesmos grupos, porque, quando foi governador de Antióquia (1995-97), autorizou a formação de milícias armadas.
As AUC prometem desmobilizar todos os seus membros, num processo gradual que começa antes do final deste ano e deve estar concluído até dezembro de 2005.
De acordo com o documento, denominado "Acordo de Santa Fé de Ralito para contribuir com a paz da Colômbia", o governo se compromete a buscar alternativas para integrar os paramilitares à vida civil.
As partes também decidiram que os membros das AUC desmobilizados estarão concentrados em uma determina zona do país, com todas as garantias de segurança e presença policial.
Cessar-fogo
No acordo, o grupo de extrema direita se compromete a manter o cessar-fogo, decretado em dezembro do ano passado, e a trabalhar com o governo para acabar com o narcotráfico no país.
"Não sei se podemos confiar num grupo que anunciou um cessar-fogo, mas nunca deixou de matar civis inocentes", disse o senador Antonio Navarro Wolf, ex-integrante do grupo guerrilheiro M-19, reintegrado à sociedade numa negociação com o governo.
"Essa negociação apresenta inúmeros problemas. Mas o mais importante é que eles se comprometam a parar de matar gente".
Na avaliação de Navarro Wolf, o acordo com as AUC não pode ser considerado sério, porque descarta punições aos massacres cometidos pelo grupo e reparação às vítimas.
O governo do presidente Uribe e as AUC vêm mantendo contato desde o começo do ano.
Segundo o alto comissário para a paz do governo, Luis Carlos Restrepo, devem ser reinseridos à sociedade 13 mil membros do grupo ilegal, dentro do processo de negociação com o governo que se inicia em 90 dias.
"Há um compromisso das autodefesas de se desligarem das atividades relativas ao narcotráfico e do recrutamento de crianças" afirma Restrepo.
"Assim, conseguimos manter o apoio do governo americano nessa negociação", acrescentou.
Dinheiro dos EUA
De acordo com Restrepo, os Estados Unidos se comprometeram a financiar a desmobilização de 1,5 mil homens armados neste ano e o mesmo número em 2004 --uma ajuda avaliada em cerca de US$ 3 milhões.
Washington manterá, no entanto, os pedidos de extradição dos dois principais líderes das AUC, Carlos Castaño e Salvatore Mancuso, devido ao envolvimento deles com o narcotráfico.
Para o defensor público, Eduardo Cifuentes, o positivo dessa negociação é que, ao desmobilizar um dos grupos armados, ela vai reduzir a intensidade do conflito.
O analista político Alfredo Rangel é pessimista. Para ele, enquanto as guerrilhas não participarem do processo de paz, ou forem debilitadas de forma definitiva, o narcotráfico persistir e os narcotraficantes seguirem organizando exércitos privados, continuarão existindo paramilitares.
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