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05/09/2003 - 12h04

Políticos fogem de eleições na Colômbia com medo das Farc

VALQUÍRIA REYS
da BBC, em Bogotá

Os assassinatos de José Luciano Castillo, candidato à Prefeitura de Roberto Payán, no Estado de Nariño, e de dois aspirantes a vereador em Antioquia, ocorridos nesta semana, são exemplos mais recentes da situação que os políticos do país estão enfrentando.

O medo de ter o mesmo destino está fazendo com que vários candidatos a cargos públicos na Colômbia desistam de suas candidaturas para as eleições do dia 26 de outubro.

Em sete municípios, a pressão guerrilheira surtiu forte efeito e nenhum candidato se inscreveu para participar do processo eleitoral.

Mais de 20 cidades não têm aspirantes a vereador e, em outras 22, estão concorrendo à Prefeitura um único candidato. E a tendência é que a situação piore ainda mais com a proximidade das eleições.

Certeza

Giovani Anacona estava disputando sozinho o governo municipal de San Sebastián, um povoado indígena com 13 mil habitantes no sul do Estado de Cauca.

Há poucos dias, surpreendeu os eleitores ao apresentar formalmente sua renúncia.

"Eu sabia que já estava eleito", disse Anacona. "Mas, minha vida e a da minha família são muito mais importantes do que a Prefeitura."

Anacona foi abordado por cinco guerrilheiros, armados com fuzis e usando uniformes, quando fazia campanha em uma das ruas de San Sebastián.

"Eles disseram que eu 'precisava' renunciar. Foi o que fiz imediatamente, junto com todos os candidatos a vereador", lembra Anacona.

"Depois disso, fui obrigado a mostrar para eles o documento oficial da minha renúncia. Apesar do prefeito ser a autoridade máxima no município, são os grupos armados que impõem as condições."

Ao intimidar candidatos, as Farc dão continuidade à estratégia de acabar de uma vez com a política local.

Essa é uma diretriz emitida no ano passado pela direção guerrilheira, depois que terminaram os diálogos de paz com o governo do ex-presidente Andrés Pastrana.

Na ocasião, a guerrilha ameaçou todos os prefeitos e vereadores do país e disse que eles deveriam renunciar.

Abandono

Segundo informações da Defensoria do Povo, devido a essas pressões, 311 prefeitos e 611 vereadores abandonaram seus postos desde que as ameaças foram lançadas.

Hoje, mais de mil vereadores e cerca de cem prefeitos seguem trabalhando por suas cidades à distância, nas sedes dos governos estaduais.

Nenhum deles pensa em regressar antes do término de seus mandatos. Todos preferem o exílio diante da possibilidade de serem assassinados ou sequestrados.

O atual prefeito de San Sebastián, Herbey Rodrigo Ordoñez Muñoz, que já foi sequestrado pelas Farc, diz que a situação de seu município não é tranquila, porque a presença de policiais e militares é insuficiente.

"Não temos condições de evitar os incidentes", diz Ondoñez."E como as coisas não vão muito bem, todos os candidatos renunciaram."

Em Cabrera, a apenas 150 km de Bogotá, desde que o prefeito Gilberto Cruz Amaya foi assassinado, em fevereiro, ninguém quer governar a cidade.

Sem candidatos

Já foram convocadas eleições em quatro ocasiões, mas não apareceram candidatos à Prefeitura ou à Câmara de Vereadores.

Ricardo Quintero, encarregado há quatro meses para governar o município até que seja eleito o novo prefeito, esteve na cidade apenas em seis ocasiões.

Ele e a família moram em Fusa, a uma distância de uma hora de carro de Cabrera.

"É uma cidade normal como qualquer outra no mundo", diz Quintero, tentando amenizar a situação.

"Não temos candidatos por causa de uma ordem dos senhores da guerrilha. O medo é complicado de ser administrado."

Segundo o assessor agropecuário Hernando Medina, uma ou duas vezes por semana ocorrem confrontos entre militares e guerrilheiros.

"Devido a esses incidentes, a população fica atemorizada. Depois das 20 horas, as ruas da cidade ficam vazias.

Fantasma

Assassinatos de políticos são frequentes na Colômbia. Apenas um partido, a União Patriótica, conta em seus registros dois candidatos à Presidência, sete congressistas, 13 deputados estaduais, 11 prefeitos e 69 vereadores foram mortos, segundo eles, por paramilitares de extrema-direita.

Políticos de todas as linhas, porém, já foram ou estão sequestrados e muitos, como o presidente Álvaro Uribe, já sofreram atentados.

Segundo números da Federação Colombiana de Municípios (FCM), no ano passado, foram assassinados 12 prefeitos. Em 2003, juntando candidatos à Prefeitura e prefeitos, são nove os mortos.

A Federação Nacional de Vereadores conta 23 vereadores mortos apenas neste ano. A metade, de acordo com eles, foi assassinada por guerrilheiros das Farc.

No ano passado, foram 63 os mortos em diversos municípios colombianos.
"Os guerrilheiros sempre tentaram impedir a realização das eleições, ou obrigar os candidatos a renunciar", lembra Gilberto Toro, diretor-executivo da FCM.

"O diferente é que nas eleições anteriores sempre tivemos candidatos em todos os municípios do país. Agora, as pessoas realmente têm medo de serem assassinadas."

Segundo Toro, o objetivo da guerrilha é acabar com a governabilidade local e substituí-la por juntas populares de governo compostas por representantes escolhidos pela comunidade.

Em muitas cidades, as Farc apóiam candidatos inscritos em nome de movimentos cívicos ou comunitários.

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