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24/10/2003 - 12h44

Presidente da Colômbia arrisca popularidade em referendo "complicado"

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Bogotá

O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, está arriscando seus níveis de popularidade de mais de 70% ao promover um referendo neste sábado que a maioria da população considera "complicado".

Defensores, adversários e até mesmo os institutos de pesquisa de opinião não estão certos se o número mínimo de 25% do total de colombianos aptos a votar, 6,3 milhões de pessoas, comparecerão às urnas.

O referendo vai apresentar 15 questões, entre elas a redução do número de assentos no Congresso em mais de 20%, a obrigação do voto nominal nas votações de deputados, o estabelecimento de um teto para a aposentadoria do funcionalismo, o congelamento dos salários dos 940 mil servidores públicos por dois anos e a demissão de outros 8.000.

Leonardo Carvajal, professor de Ciências Políticas da Universidade Externado, afirma que há inúmeras razões para os colombianos deixarem de votar, entre elas o número de questões a serem decididas e a extensão e a complexidade dos textos sobre os quais se vai votar.

Probabilidades

"A Colômbia é tradicionalmente um país abstencionista, 50% da população não costuma votar", diz Carvajal.

"Além disso, o referendo é um mecanismo sem antecedentes no país. Para agravar ainda mais a situação, os 15 pontos do referendo são muito difíceis de entender, os textos muito extensos e complexos para a população em geral."

Segundo Jorge Londoño, diretor do Instituto Ivamer-Gallup, a probabilidade de que o referendo seja aprovado é de 50%.

Ele diz que é impossível prever o que poderá ocorrer nas urnas, porque a maioria dos colombianos nem sabe em que vai votar.

Confusão

Na ruas de Bogotá, há muita desinformação, e as pessoas têm vergonha de dizer que não entendem o referendo.

O comerciante Luis Lozano diz que não vai votar porque os 15 pontos são confusos.

"O referendo tem coisas boas e ruins, mas prefiro não votar, porque é muito confuso", afirma. "Vou me esquecer disso, porque preciso trabalhar amanhã."

Janeth Aguirre, desenhista gráfica, diz que ainda não sabe se irá às urnas no sábado, porque não conseguiu entender a importância de votar.

Já a secretária Marcela Dueñas pretende aprovar apenas um dos 15 pontos do referendo.

"Votarei apenas no ponto de redução dos gastos públicos para respaldar o presidente, porque ele tem demonstrado ser uma pessoa trabalhadora", afirmou.

"Somente por isso, não mais que isso. Os outros 14 pontos, não entendo bem."

Desgaste

Quando Uribe ganhou as eleições, em maio do ano passado, não alcançou seis milhões de votos.

Hoje, com o desgate de mais de um ano de mandato, muitos analistas acreditam na impossibilidade de que ele ganhe o referendo fiscal, previsto no Fundo Monetário Internacional.

Outro fator desfavorável à consulta defendida por Uribe desde a campanha presidencial é a previsão da Registradoria Nacional (a autoridade eleitoral) de que cada eleitor demoraria em média 25 minutos para votar todos os pontos do referendo, o que causaria enormes filas e uma maior desistência de prováveis votantes.

"O referendo se converteu em um desafio muito pessoal do presidente Uribe, para consolidar seu poder e a perspectiva da reeleição", afirma o analista político Otty Patiño.

"Se o presidente perde, depois de ter apostado tanto nisso, seu prestígio se debilitaria um pouco, o que lhe obrigaria a fazer uma pausa e pensar em governar de maneira diferente."

Segundo Patiño, o presidente deixou de governar há mais de um mês apenas para se dedicar à campanha pelo referendo.

"Big Brother"

Com um índice de popularidade de mais de 70%, Uribe tem feito uma agressiva campanha nos meios de comunicação para animar os colombianos a votar massivamente.

Ele apareceu inclusive na versão colombiana do popular programa televisivo "Big Brother", no qual desafiou os concorrentes a escrever músicas sobre as qualidades do referendo.

Na quinta-feira, de um pequeno avião, foram jogados panfletos pelas principais ruas de Bogotá, defendendo o 'sim' no referendo.

"Votando o referendo, apoiamos Colômbia", foi a mensagem do texto assinada por Uribe, enviada a todos os usuário de celulares na Colômbia.

Apesar de nenhum dos 15 pontos se referir a temas de segurança, diante da possibilidade de perder a votação, o presidente endureceu seu discurso e tem dito que aprovar o referendo é, ao mesmo tempo, uma forma de combater a guerrilha e ajudar a governabilidade.

Oposição

Os integrantes do partido Liberal, o maior do país, afirmam que o referendo é uma enganação do governo para congelar salários, cortar direitos dos trabalhadores e aumentar o autoritarismo.

Como o voto não é obrigatório na Colômbia, eles fazem campanha pela abstenção e pedem para que os eleitores não se apresentem no domingo (26).

"O governo está seguro que poderá ganhar, se conseguir os mais de seis milhões de eleitores para validar a consulta", diz Patiño.

"Se sair vencedor, o presidente adotará medidas impopulares, mas terá o aval do povo".

Leonardo Carvajal diz que o resultado do referendo preocupa os mercados internacionais.

Segundo ele, a vitória do não ou da abstenção pode reproduzir uma imagem negativa da Colômbia e estimular uma desvalorização da moeda local frente ao dólar.

"Caso o referendo não seja aprovado, a Colômbia pode se somar à rebelião contra as políticas neoliberais de ajuste econômico na América Latina, cujos acontecimentos mais importantes foram as eleições de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil, de Lucio Gutiérrez, no Equador, de Hugo Chávez, na Venezuela, e a queda de Gonzalo Sánchez de Lozada, na Bolívia", afirma Carvajal.

"Derrotado, Uribe precisaria mudar alguns nomes de seu gabinete presidencial".

Segundo Carvajal, caso saia vencedor, Uribe teria mais possibilidades de fazer com que o Congresso aprove sua reeleição, depois de mudar a Constituição.

Também fortaleceria sua imagem internacional e a da Colômbia, como país estável em termos econômicos.

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