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24/10/2003 - 20h53

"Lula colombiano" tenta vitória histórica em Bogotá

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Bogotá

As eleições deste domingo (26) podem levar a esquerda colombiana à sua maior vitória de todos os tempos: Luis Eduardo Garzón, conhecido como o Lula colombiano, lidera as pesquisas de opinião para a Prefeitura de Bogotá, o segundo cargo mais importante no país, depois da Presidência da República.

Se vencer as eleições, Lucho Garzón poderá conseguir algo inédito no país, onde a violência de quatro décadas de conflito interno segue matando milhares por ano, e muitos dos candidatos vinculados com um discurso de esquerda costumam ser assassinados.

Principal opositor do presidente Álvaro Uribe, Lucho aparece no último levantamento de intenção de voto do instituto de pesquisas Napoleón Franco com 44,6% da preferência dos eleitores, quatro pontos percentuais a mais do que Juan Lozano, o segundo colocado.

"O desempenho de Lucho nesta campanha é a prova concreta de que é possível chegar ao poder na Colômbia com um discurso de esquerda por vias distintas à da violência", assinala o senador e ex-guerrilheiro Antonio Navarro Wolf, que pertence ao mesmo partido de Lucho, o Polo Democrático Independente (PDI).

"Ele é um exemplo vivo da vitória da democracia no país", disse Wolf.

Fome Zero

Quando concorreu às eleições presidenciais no ano passado, Lucho foi a Luiz Inácio Lula da Silva, devido às semelhanças com o presidente brasileiro em seu passado sindical, a infância pobre e a defesa dos direitos dos trabalhadores.

Ele gostou das comparações. Na campanha deste ano, fez inúmeras referências à gestão do brasileiro em seus discursos e adotou como uma de suas principais bandeiras o projeto Fome Zero para a capital colombiana.

O Lula colombiano também defende para Bogotá uma outra iniciativa do Partido dos Trabalhadores (PT), surgida em Porto Alegre, na gestão do ex-prefeito Tarso Genro e adotada por várias prefeituras brasileiras: o orçamento participativo.

"Bogotá é uma espécie de prévia para as eleições presidenciais. Se Lucho conseguir ser prefeito, tem possibilidades reais de chegar à Presidência", diz o cientista político Ernesto Martínez.

"Muitos o vêem como uma espécie de reprodução do fenômeno Lula, alguém que vem da esquerda, mas que está se dirigindo um pouco ao centro para conseguir governabilidade. Lucho está abrindo um grande espaço para a esquerda democrática colombiana participar do jogo eleitoral e não apenas da atividade guerrilheira no campo".

Apoios

Assim como o PT de Lula, que chegou ao poder através de gestões bem-sucedidas em governos locais, o PDI e Lucho fazem a mesma aposta.

Divertido, conversador e extremamente simpático, Lucho foi, aos poucos, conquistando importantes apoios.

O último foi o do Partido Liberal, ao qual Uribe foi filiado, liderado pelo ex-presidente Ernesto Samper.

Os liberais desistiram da candidatura própria na semana passada e optaram por apoiar o candidato da esquerda.

Lucho aceitou o apoio. Quando é criticado por seu principal concorrente por ter Samper como aliado, responde com ironia. Diz que tem de samperista o mesmo que Lozano tem de astronauta.

Durante os primeiros meses de campanha, as pesquisas davam a Lozano o dobro dos votos de Lucho. Uma vantagem, que até então parecia extremamente difícil de ser revertida.

Candidato oficial

O jornalista independente, que adotou um discurso identificado com o presidente Uribe, foi aos poucos perdendo os pontos que lhe davam como certa a chegada à Prefeitura de Bogotá.

"Lozano não é um homem de partido e, por isso, também deve ser considerado um fenômeno político", afirma Martínez.

"Começou a campanha sozinho e foi conquistando, ao poucos, apoios muito importantes, como o do presidente Uribe, e dos dois últimos prefeitos de Bogotá, Enrique Peñalosa e Antanas Mockus, os três governantes mais populares da recente história colombiana".

Segundo o analista político Antonio Sanguino, são duas propostas distintas, dois modelos diferentes de cidade em disputa na capital colombiana.

"O grande desafio que está em jogo em Bogotá será a opção dos cidadãos por dois projetos políticos diferentes: um de centro-direita, encabeçado pelo presidente Uribe, seus amigos e Lozano, e outro de centro-esquerda, que se expressa no PDI e conta com a liderança de Garzón, entre outros", afirma Sanguino.

"Bogotá é muito importante. É uma cidade com 7 milhões de habitantes, que significa muito para o país. O que ocorrer no domingo vai ser muito importante para a reconfiguração do marco político colombiano".

Sanguino também assinala que a vitória de Lucho significará um golpe duro ao projeto de Uribe, justamente no coração do país.

Para ele, é uma derrota das políticas neoliberais, que têm como principal opositor o presidente brasileiro.

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