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10/09/2004
-
21h42
da BBC Brasil
Black President, uma exposição sobre o cantor nigeriano Fela Anikulapo Kuti --considerado por muitos o pai do gênero musical afrobeat e o maior artista africano de todos os tempos-- está em cartaz até o dia 24 de outubro no centro cultural Barbican, em Londres.
A exposição faz parte de um festival com várias atrações musicais e reúne os desenhos originais das capas criadas pelo artista gráfico Ghariokwu Lemi para vários álbuns de Fela Kuti, além de fotos documentando a trajetória do artista, um vídeo-documentário e --claro-- vários exemplos musicais dele e de pessoas influenciadas.
A mostra já passou por Nova York e São Francisco e apresenta obras de 34 artistas plásticos contemporâneos de várias nacionalidades, todas inspiradas no legado musical, espiritual, político e cultural de Fela Kuti.
Uma das preocupações do idealizador da mostra, Trevor Schoonmaker, foi que a exposição tivesse obras que abordassem todos os aspectos do legado do músico africano.
Entre essas obras está uma instalação de Yinka Shonibare --um dos finalistas do prestigiado prêmio britânico Turner de arte contemporânea--, que mostra 27 bonecas africanas sem cabeça, inspiradas na poligamia defendida pelo artista, que em uma única cerimônia se casou com 27 mulheres.
Aids
Fela Anikulapo Kuti, o auto-intitulado "presidente negro", morreu em 1997 por complicações decorrentes da Aids.
No entanto, ao longo dos seus 58 anos, a influência dele ultrapassou em muito as fronteiras da música.
Kuti enfrentou abertamente governos autoritários da Nigéria, produzindo discos de forte teor político e social, e chegou a se candidatar à presidência do país em 1979, mas teve a candidatura impugnada pelas autoridades.
O conteúdo político da obra de Kuti marcou fortemente a obra do chileno Alfredo Jaar, o único representante sul-americano na mostra Black President.
"Eu gostei muito da sua música, do seu conceito, mas também da sua posição política. Ele não tem medo de fazer críticas no seu trabalho. A crítica é a obra. Ele a faz com poesia e genialidade, mas a obra é crítica e a crítica é a obra", disse Jaar à BBC Brasil.
Para o chileno, foi a revelação de que o artista pode tomar uma posição política pessoalmente e artisticamente que lhe fascinou no trabalho de Fela Kuti.
A contribuição de Jaar para a mostra questiona a moral e a lógica de um memorando de Lawrence H. Summers, o então economista-chefe do Banco Mundial, vazado para a imprensa.
Jaar reproduz a íntegra da nota em que Summers --hoje reitor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, como lembra Jaar-- sugere ser mais lógico manter as indústrias poluidoras nos países em desenvolvimento.
'Faltou Brasil'
O curador da mostra, Trevor Schoonmaker, afirmou que a exposição apresentada no Barbican finalmente abrange todos os aspectos da obra de fela Kuti.
"Temos um grande festival de música acompanhando a exposição de arte e, além disso, temos a mostra cinematográfica. É bem maior e mais próximo daquilo que eu sonhei quando comecei esse projeto."
Schoonmaker admite, no entanto, ter uma grande frustração.
"Eu queria muito ter incluído uma obra de um artista brasileiro", lamentou o curador, que afirmou não ter conseguido encontrar artistas que tivessem sido genuinamente influenciados pelo cantor africano.
"Foi por pura falta de contatos, porque sei que Gilberto Gil e Caetano Veloso tiveram bastante contato com a música de Fela Kuti."
Ativismo
Fela Kuti chegou a declarar a sua mansão em Lagos, a então capital nigeriana, uma república independente, batizada de Kalakuta.
Na mansão, o músico desafiava abertamente o governo nigeriano, afirmando que as leis do país não prevaleciam na Kalakuta.
Insatisfeitas com as críticas políticas de Kuti e com a apologia à igbo --a maconha nigeriana-- as autoridades praticamente destruíram a casa em duas ocasiões.
Fela Kuti e os outros moradores da "república" foram espancados e presos. Em uma dessas operações de repressão, nada menos que mil militares foram envolvidos, e Kuti chegou a sofrer uma fratura craniana.
A mãe do músico, de oitenta e dois anos, quase morreu ao ser atirada do primeiro andar pelos soldados.
O lado sexual de Fela Kuti também é destacado em algumas obras na mostra. Uma delas transforma os signos do zodíaco em posições sexuais.
O ativismo anticolonialista de Kuti inspirou a série de miniaturas em ouro de colares de escravos, confeccionadas pelos artistas Klaus Bürgel e Kara Walker.
Já o artista Fred Wilson usa um vaso de cerâmica montado como uma armadilha que utiliza a música de Fela Kuti como isca.
A exposição Black President faz parte de um festival que vai trazer uma série de shows com grandes músicos inspirados por ele, como Manu Dibango e Tony Allen, além do filho de Kuti, Femi Kuti.
Festival em Londres celebra Fela Kuti, o 'pai do afrobeat'
ERIC BRÜCHER CAMARAda BBC Brasil
Black President, uma exposição sobre o cantor nigeriano Fela Anikulapo Kuti --considerado por muitos o pai do gênero musical afrobeat e o maior artista africano de todos os tempos-- está em cartaz até o dia 24 de outubro no centro cultural Barbican, em Londres.
A exposição faz parte de um festival com várias atrações musicais e reúne os desenhos originais das capas criadas pelo artista gráfico Ghariokwu Lemi para vários álbuns de Fela Kuti, além de fotos documentando a trajetória do artista, um vídeo-documentário e --claro-- vários exemplos musicais dele e de pessoas influenciadas.
A mostra já passou por Nova York e São Francisco e apresenta obras de 34 artistas plásticos contemporâneos de várias nacionalidades, todas inspiradas no legado musical, espiritual, político e cultural de Fela Kuti.
Uma das preocupações do idealizador da mostra, Trevor Schoonmaker, foi que a exposição tivesse obras que abordassem todos os aspectos do legado do músico africano.
Entre essas obras está uma instalação de Yinka Shonibare --um dos finalistas do prestigiado prêmio britânico Turner de arte contemporânea--, que mostra 27 bonecas africanas sem cabeça, inspiradas na poligamia defendida pelo artista, que em uma única cerimônia se casou com 27 mulheres.
Aids
Fela Anikulapo Kuti, o auto-intitulado "presidente negro", morreu em 1997 por complicações decorrentes da Aids.
No entanto, ao longo dos seus 58 anos, a influência dele ultrapassou em muito as fronteiras da música.
Kuti enfrentou abertamente governos autoritários da Nigéria, produzindo discos de forte teor político e social, e chegou a se candidatar à presidência do país em 1979, mas teve a candidatura impugnada pelas autoridades.
O conteúdo político da obra de Kuti marcou fortemente a obra do chileno Alfredo Jaar, o único representante sul-americano na mostra Black President.
"Eu gostei muito da sua música, do seu conceito, mas também da sua posição política. Ele não tem medo de fazer críticas no seu trabalho. A crítica é a obra. Ele a faz com poesia e genialidade, mas a obra é crítica e a crítica é a obra", disse Jaar à BBC Brasil.
Para o chileno, foi a revelação de que o artista pode tomar uma posição política pessoalmente e artisticamente que lhe fascinou no trabalho de Fela Kuti.
A contribuição de Jaar para a mostra questiona a moral e a lógica de um memorando de Lawrence H. Summers, o então economista-chefe do Banco Mundial, vazado para a imprensa.
Jaar reproduz a íntegra da nota em que Summers --hoje reitor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, como lembra Jaar-- sugere ser mais lógico manter as indústrias poluidoras nos países em desenvolvimento.
'Faltou Brasil'
O curador da mostra, Trevor Schoonmaker, afirmou que a exposição apresentada no Barbican finalmente abrange todos os aspectos da obra de fela Kuti.
"Temos um grande festival de música acompanhando a exposição de arte e, além disso, temos a mostra cinematográfica. É bem maior e mais próximo daquilo que eu sonhei quando comecei esse projeto."
Schoonmaker admite, no entanto, ter uma grande frustração.
"Eu queria muito ter incluído uma obra de um artista brasileiro", lamentou o curador, que afirmou não ter conseguido encontrar artistas que tivessem sido genuinamente influenciados pelo cantor africano.
"Foi por pura falta de contatos, porque sei que Gilberto Gil e Caetano Veloso tiveram bastante contato com a música de Fela Kuti."
Ativismo
Fela Kuti chegou a declarar a sua mansão em Lagos, a então capital nigeriana, uma república independente, batizada de Kalakuta.
Na mansão, o músico desafiava abertamente o governo nigeriano, afirmando que as leis do país não prevaleciam na Kalakuta.
Insatisfeitas com as críticas políticas de Kuti e com a apologia à igbo --a maconha nigeriana-- as autoridades praticamente destruíram a casa em duas ocasiões.
Fela Kuti e os outros moradores da "república" foram espancados e presos. Em uma dessas operações de repressão, nada menos que mil militares foram envolvidos, e Kuti chegou a sofrer uma fratura craniana.
A mãe do músico, de oitenta e dois anos, quase morreu ao ser atirada do primeiro andar pelos soldados.
O lado sexual de Fela Kuti também é destacado em algumas obras na mostra. Uma delas transforma os signos do zodíaco em posições sexuais.
O ativismo anticolonialista de Kuti inspirou a série de miniaturas em ouro de colares de escravos, confeccionadas pelos artistas Klaus Bürgel e Kara Walker.
Já o artista Fred Wilson usa um vaso de cerâmica montado como uma armadilha que utiliza a música de Fela Kuti como isca.
A exposição Black President faz parte de um festival que vai trazer uma série de shows com grandes músicos inspirados por ele, como Manu Dibango e Tony Allen, além do filho de Kuti, Femi Kuti.
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