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11/03/2008 - 14h42

Sul-americanos buscam reforçar seu poderio militar

CLAUDIA JARDIM
MARCIA CARMO
da BBC

A recente compra de armamentos realizada pela Venezuela fez soar os alarmes de uma possível corrida armamentista na América do Sul, com alguns vizinhos olhando com preocupação o interesse venezuelano em compras militares.

Mas o governo de Hugo Chávez não foi o único a ir às compras recentemente. Os gastos militares da América do Sul em 2006 foram de US$ 34 bilhões, o que representa um aumento de 30,54% nos últimos dez anos na região, de acordo com dados o Stockholm International Peace Research Institute (Sipri), destacados no estudo de janeiro de 2008 da Fundação Segurança e Democracia, com sede em Bogotá (Colômbia).

O líder em gastos militares na região nos últimos anos não foi a Venezuela, mas o Brasil, com US$ 127 bilhões durante os últimos dez anos. Segundo o Sipri, o Brasil é dono "da única força militar de projeção mundial" da América do Sul.

Apesar disso, entre 1997-2005, o investimento do Brasil no setor representou, em média, 1,78% do Produto Interno Bruto (PIB) quantidade inferior a média da região, calculada em 1,98%.

Apesar dos números, especialistas consultados pela BBC Brasil afirmam não acreditar em uma corrida armamentista na região, mas apenas em um reaparelhamento das Forças Armadas sul-americanas.

"Não existe corrida armamentista. As Forças Armadas estavam defasadas, eles estão adquirindo equipamentos um pouco mais sofisticados", explica Expedito Carlos Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora.

De acordo com o tenente-brigadeiro Sérgio Ferolla, o reaparelhamento das Forças Armadas se faz necessário como instrumento de dissuasão. "Especialmente para o Brasil, com ameaças na Amazônia e com reservas petrolíferas no litoral", afirma Ferolla.

Apesar da mais recente tensão envolvendo Equador, Colômbia e Venezuela, a América do Sul não tem um histórico de conflitos constantes.

Talvez por isso a América do Sul não tenha evoluído em termos de poderio militar como outras regiões do mundo. Segundo Bastos, por muito tempo o continente acabou não adquirindo equipamentos militares modernos nem desenvolvendo sua indústria de defesa.

Ele afirma que essa situação se agravou após o período de redemocratização do sub-continente. "Após o fim das ditaduras militares pouco se investiu em tecnologia e compras militares."

Equador x Colômbia

Caso a mais recente crise no continente, envolvendo Equador e Colômbia, com a participação da Venezuela, tivesse culminado em um conflito militar, as forças envolvidas seriam bastante desiguais, considerando os números de soldados.

Entre Exército, polícia, Força Aérea e Marinha, a Colômbia reúne cerca de 400 mil soldados, enquanto o Equador tem menos de 53 mil, segundo dados da Fundação Segurança e Democracia, de Bogotá. Já a Venezuela conta com um contingente de aproximadamente 46 mil soldados.

Mas o mesmo levantamento mostra que a Venezuela possui 190 tanques, o Equador 54, e a Colômbia nenhum. A Colômbia tem 164 aviões, a Venezuela 160, e o Equador 114.

De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute, o gasto militar da América do Sul está concentrado em seis países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela.

Juntos, eles somam US$ 30,6 bilhões em seus orçamentos militares. A maior parte é ocupada pelo Brasil com US$ 15,6 bilhões, que representaram 51,06% do gasto da América do Sul em 2006.

Alguns desses países têm se aproveitado dos recursos obtidos com suas riquezas naturais para financiar seus gastos militares.

A Venezuela conta com os recursos do aumento recorde do preço do petróleo. O Chile financia suas Forças Armadas há décadas com os recursos do cobre sua principal matéria-prima.

A Colômbia criou uma espécie de taxa, que faz parte do Plano Colômbia, destinada ao setor militar. A Bolívia, com uma dos menores contingentes de tropas e equipamentos da região, pretende destinar, como anunciou o presidente Evo Morales, parte dos recursos da nacionalização dos hidrocarbonetos às Forças Armadas.

Argumento venezuelano

A defasagem dos equipamentos e o medo de uma agressão externa são as razões que levaram a Venezuela a aumentar seus gastos militares, segundo Héctor Herrera, comandante da reserva das Forças Armadas da Venezuela.

"Tínhamos fuzis tipo FAL (de fabricação americana) há mais de 50 anos. Estavam obsoletos e já não poderiam ser consertados", afirma.

O mesmo teria acontecido com os 16 aviões F-16 que compunham a frota aérea. "Há três anos e meio os Estados Unidos deixaram de dar manutenção aos aviões adquiridos por nós há 25 anos, somente cinco deles funcionavam."

O comandante Héctor Herrera afirma que o presidente Hugo Chávez e ele próprio estão convencidos de que os Estados Unidos podem agredir seu país. "Temos duas coisas que eles necessitam muito. Os recursos energéticos e a biodiversidade", disse.

Os Estados Unidos impuseram um bloqueio proibindo a venda de armas à Venezuela, impedindo, inclusive, a venda de 24 Supertucanos da Embraer para as Forças Armadas do país.

Para substituir esses equipamentos a Venezuela tem investido US$ 4 bilhões desde 2004 e adquiriu 24 aviões de combate Sukhoi-30, 53 helicópteros de transporte e ataque e 100 mil fuzis de assalto 7,62 AK 103.

O governo venezuelano também firmou um contrato com a Rússia para a construção de duas fábricas de armamento e munição no país, que devem começar a operar em dois anos.

 

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