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13/01/2005 - 07h20

Guerra contra o "terror" perpetua a violência, diz ONG

DENIZE BACOCCINA
da BBC Brasil, em Washington

A guerra contra "o terror" pode estar perpetuando o ciclo de violência no mundo, segundo um relatório do Worldwatch Institute, organização não-governamental com sede em Washington.

Segundo o documento divulgado ontem, medidas militares tomadas para diminuir o risco de atentados estão de fato desviando a atenção mundial das causas principais da instabilidade social, como pobreza, doenças infecciosas, destruição do meio ambiente e a crescente competição por petróleo e outros recursos naturais.

A redefinição do conceito de segurança é o tema central do relatório State of the World 2005 (Estado do Mundo), publicado todo ano pela organização, que se dedica a estudar temas ligados ao desenvolvimento sustentado e ao aproveitamento dos recursos naturais.

O relatório também examina as ligações entre segurança e as mudanças no perfil da população (grande contingente de jovens desempregados, por exemplo), a falta de acesso a água e alimentos, a dependência dos países desenvolvidos do petróleo e o desarmamento nas sociedades que saíram recentemente de conflitos armados.

'Eixo do mal'

"Pobreza, doenças e degradação ambiental são o verdadeiro eixo do mal", afirma o presidente do Worldwatch, Christopher Flavin.

"A não ser que essas ameaças sejam reconhecidas e tratadas, o mundo corre o risco de ser surpreendido por novas forças de instabilidade, como os Estados Unidos foram surpreendidos pelos atentados terroristas de 11 de setembro."

O relatório destaca cinco pontos de pressão desestabilizadora, que precisariam ter prioridade na tentativa de construir um mundo mais pacífico: a dependência do mundo do petróleo, que alimenta guerras civis e cuja flutuação de preço causa instabilidade econômica entre produtores e importadores; a falta de água, que afeta 434 milhões de pessoas em todo o mundo; a falta de alimentos, que afeta quase 2 milhões de pessoas; as doenças infecciosas e o desemprego dos jovens, que acaba resultando no aumento da violência.

"A maneira tradicional de lidar com o problema da falta de segurança não é apropriada", afirma o diretor de projeto do Worldwatch, Michael Renner. "Armar-se não aumenta a segurança. É justamente o contrário", afirma. "É preciso lidar com as causas primárias e quebrar o ciclo de insegurança."

Para enfrentar esses problemas que considera de segurança mundial, o relatório defende o fortalecimento das instituições civis, com investimentos estratégicos em fontes de energia sustentáveis, saúde pública, proteção dos sistemas ecológicos, educação, empregos e programas de redução da pobreza durante um período de transição.

"A fixação atual na luta contra o terrorismo está ofuscando as ameaças mais graves que estão pairando sobre nós", afirmam os diretores de Projetos do State of the World 2005, Michael Renner e Hilary French.

"Um mundo mais sustentável e igualitário é um mundo mais seguro. Em vez de continuar a fortalecer seu braço militar, os governos precisam redobrar os esforços para garantir a segurança humana e do meio ambiente, incrementar o desarmamento e a reconstrução dos países pós-conflito e redesenhar as Nações Unidas para os desafios da segurança de hoje e de amanhã."

O relatório defende que os governos fortaleçam e ampliem a cooperação internacional, financiem e apóiem as Metas do Milênio e da cúpula de desenvolvimento sustentado da ONU e e incentivem iniciativas ambientais que promovam a paz.

O documento cita o Brasil como um dos países que estão a caminho de cumprir as Metas do Milênio para redução da fome e do número de pessoas sem acesso a água limpa. Cita também, como um exemplo positivo a ser seguido, o cancelamento da concorrência para os aviões militares no início do governo Lula.

"Em 2003 o Brasil adiou a compra de aviões militares no valor de US$ 760 milhões e reduziu o orçamento militar em 4% para financiar seu ambicioso programa contra a fome", afirma.

O relatório alerta que a pobreza intensa mata muito mais do que os conflitos armados. Em 2000, enquanto as guerras mataram 300 mil pessoas em todo o ano, um número equivalente morreu todos os meses por falta de água potável ou de condições sanitárias adequadas.

Cerca de 1,4 bilhão de pessoas, a maior parte em países subdesenvolvidos, vive em áreas com fragilidade ambiental. Destes, 500 milhões vivem em regiões áridas, 400 milhões têm que sobreviver plantando em solos pobres, 200 milhões vivem em áreas montanhosas e 130 milhões em regiões desmatadas.

São ações que, que na avaliação do instituto, enfraqueceram a cooperação internacional, as leis de direitos humanos e outras normas internacionais e podem fazer o jogo de extremistas que se beneficiam com a retórica do "choque de civilizações".

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