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01/02/2005 - 01h28

Empresários pedem acordo entre União Européia e Mercosul

DANIELA FERNANDES
da BBC Brasil, em Luxemburgo

Empresários da União Européia e do Mercosul lançaram nesta segunda-feira em Luxemburgo um apelo para a retomada das negociações que visam a criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos econômicos.

Cerca de 200 empresários se reuniram na sede do grupo siderúrgico Arcelor durante a 5ª Conferência Anual do Fórum Empresarial Mercosul União Européia.

O grupo, criado em 1999, tem o objetivo de reforçar as relações econômicas entre os dois blocos. E vem propondo alternativas para o desbloqueio das negociações e funcionando também como um instrumento de pressão para que as discussões diplomáticas avancem.

Para os empresários, a demora nas discussões representa perda de oportunidades comerciais.

"A obtenção rápida de um acordo entre a União Européia e o Mercosul é importante para dar novo dinamismo a trocas comerciais e investimentos entre as duas regiões", afirmou o brasileiro Ingo Plöger, co-presidente do Fórum Empresarial como representante do Mercosul e presidente da Companhia Melhoramentos, de São Paulo.

'Perda' de US$ 5 bilhões

Segundo um estudo realizado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, a ausência de uma liberalização comercial completa entre os dois blocos custaria US$ 5 bilhões por ano.

Os mandatos dos co-presidentes do Fórum expiram nesta segunda-feira. A partir de terça eles serão substituídos por Luís Mira Amaral, da Associação da Indústria Portuguesa, e pelo argentino Antônio Estrany y Gendre, presidente do Conselho Interamericano de Comércio.

Os empresários divulgaram durante o encontro a "Declaração de Luxemburgo", na qual eles pedem aos governos envolvidos para "procurar corajosamente soluções para os desafios nas negociações".

Ainda segundo o documento, "é importante que os negociadores de ambos os blocos evitem insistir nas estratégias que já levaram a erros no passado".

Acordo neste ano?

Os representantes do Fórum Empresarial esperam que o acordo possa ser concluído até o final de 2005. "Já percorremos 90% dessa maratona. Mas os 10% que faltam são os mais difíceis. Se houver vontade política, teremos a chance de fechá-lo em 2005. É uma possibilidade estratégica para concluir o maior acordo bi-regional do mundo", afirmou Ingo Plöger à BBC Brasil.

O vice-presidente da Comissão Européia e comissário europeu para a Indústria, Günter Verheugen, afirmou durante o encontro em Luxemburgo que está "convencido de que um acordo mais abrangente deve ser concluído". Isso contribuiria, disse o comissário europeu, "para melhorar a competitividade e reforçar a integração econômica das duas regiões".

Apesar das declarações otimistas de autoridades governamentais e empresariais, as negociações para a criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos, que serão retomadas em nível ministerial em março ou abril, ainda poderão ter um longo caminho pela frente.

Negociadores europeus e sul-americanos esperavam assinar um acordo em outubro de 2004, antes das mudanças de representantes da Comissão Européia, mas as ofertas da Europa em termos de acesso aos mercados agrícolas do continente foram consideradas insuficientes pelo Mercosul. Os europeus, por sua vez, exigem do bloco sul-americano maior abertura para o setor de produtos industriais.

O alemão Karl Falkenberg, negociador-chefe da União Européia para o acordo com o Mercosul, diz que "as dificuldades (que impediram um acordo no ano passadp "permanecem, mas a vontade política pode resolvê-las". Ele vê como "encorajadores" alguns anúncios recentes do governo brasileiro, como o de privatizar o setor de resseguros no Brasil.

"Se a privatização significar realmente o fim do monopólio e se tivermos efetivamente acesso a esse mercado será um fator positivo", disse ele à BBC Brasil.

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou em Davos, na Suíça, com o presidente da Comissao Européia, o português José Manuel Durão Barroso. Falkenberg estava presente nesse almoço, do qual também participaram o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, o comissário europeu para o comércio, Peter Mandelson, entre outras autoridades européias e brasileiras.

"O encontro em Davos mostrou um engajamento político de ambas as partes. Eu gostaria de ver a tradução desse compromisso em termos concretos na negociação", afirmou Falkenberg.

Agricultura

Mas o negociador brasileiro Régis Arslanian cobrou atenção à questão da agricultura.

Arslanian, diretor do departamento de negociações internacionais do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e coordenador da equipe de negociadores com a União Européia, mostrou-se surpreso que o assunto não tenha sido sequer mencionado nos debates, com exceção da palestra de Falkenberg, a palavra "agricultura".

"A prioridade desse acordo é obviamente a agricultura. Isso demonstra a resistência em abordar o problema", disse.

Arslanian insistiu que as ofertas feitas pela Europa até o momento são "insuficientes". "Em relaçao às cotas agrícolas, no caso da carne, por exemplo, as cotas representam apenas a metade do que exportamos. Não tem sentido. Isso não é uma área de livre comércio", afirmou o negociador, contrastando com os discursos otimistas feitos durante todo o dia.

Segundo ele, há um desequilíbrio nas ofertas. "Precisamos melhorar esses números para que o acordo represente um real acesso aos mercados. As ofertas têm de ser mais importantes para agricultura", ressaltou o negociador brasileiro, que no entanto, disse "ainda sonhar com a possibilidade de um acordo ser obtido neste ano".
 

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