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24/03/2005 - 14h04

França celebra centenário da morte de Júlio Verne

DANIELA FERNANDES
da BBC Brasil, em Paris

A França celebra nesta quinta-feira o centenário de morte do escritor Júlio Verne, considerado o pai da ficção científica. Inúmeros eventos serão realizados durante o ano no país para homenagear o autor de "A Volta ao Mundo em 80 Dias" e "20 mil Léguas Submarinas", entre muitos outros sucessos.

O Museu da Marinha de Paris apresenta até o final de agosto a exposição "Júlio Verne, o Romance do Mar". O escritor era fascinado pelo mar, um elemento constante em seus livros. Até mesmo na obra "Viagem ao Centro da Terra" o mar está presente.

O criador do capitão Nemo e de seu lendário submarino Nautilus teve três barcos, transformados em escritórios/bibliotecas flutuantes, a bordo dos quais fez pesquisas e escreveu algumas de suas obras.

Veja imagens de objetos de Júlio Verne

Ele viveu de 1865 a 1870 em Crotoy, vilarejo de pescadores na Baía da Somme, próximo à cidade de Amiens, no norte da França.

O visitante pode descobrir na exposição do Museu da Marinha maquetes de submarinos, escafandros do século 19 e uma série de objetos tecnológicos que serviram de inspiração para seus livros.

Júlio Verne e o Brasil

O Brasil também faz parte da obra de Júlio Verne, no livro "Jangada", escrito em 1881. A ação se passa na Amazônia e os personagens navegam pelo rio Amazonas, enfrentando várias aventuras.

O livro inspirou outra exposição no Museu da Marinha de Paris, "Mucuripe", que apresenta as fotografias de jangadeiros feitas pelo cearense Francisco Albuquerque em 1942.

Júlio Verne conheceu a família real portuguesa e a princesa Isabel pouco antes de escrever essa obra. Michel Riaudel, professor de literatura comparada na Universidade de Nanterre e autor do prefácio da última tradução brasileira de "Jangada", afirma que esse encontro influenciou a narrativa.

"Jangada" começa com um caçador de escravos foragidos. Júlio Verne utiliza esse personagem para discutir justamente a questão da abolição. E provavelmente o tema da escravidão foi abordado nas conversas com a família d'Orléans", afirma Riaudel.

Apesar de ter levado seus leitores para todos os confins do planeta, do Polo Norte ao Sul, Júlio Verne viajou poucas vezes ao exterior. Ele lia as anotações de viajantes da época e transformava os relatos em "aventuras extraordinárias".

Esse é justamente o nome da coleção emblemática da Editora Hetzel, que reúne cerca de 50 obras, como "A Volta ao Mundo em 80 Dias", "Miguel Strogoff" e "Cinco Semanas em um Balão".

Frustração

Considerado hoje um dos maiores nomes da literatura francesa e mundial, Júlio Verne morreu frustrado, em 24 de março de 1905, por ter sido julgado um autor menor por críticos da época e até por autores consagrados do século 19.

Ele tentou entrar para a Academia Francesa de Letras, mas não conseguiu. Eric Waissenberg, um dos maiores especialistas na vida e na obra de Verne, diz que o escritor inventou o romance geográfico com aspectos científicos e tecnológicos. Mas ficou muito tempo rotulado como um autor infanto-juvenil.

"A imagem de Júlio Verne como grande escritor somente foi recuperada a partir de 1970, quando foram publicados novamente os textos originais de suas obras", afirma Weissenberg, que integra a Sociedade Júlio Verne, criada nos anos 30 para resgatar a imagem e a memória do escritor.

Após a morte de Verne, seu filho Michel, com quem o autor teve uma relação problemática, alterou textos que ainda não haviam sido publicados. Os manuscritos originais foram recuperados pela Sociedade Júlio Verne e lançados na década passada. Versões simplificadas de suas obras também haviam sido publicadas para atrair um público mais jovem.

Ciência e fantasia

Weissenberg diz que atualmente os talentos literários do escritor são amplamente reconhecidos. Já o professor Michel Riaudel acredita, no entanto, que Júlio Verne era realmente um escritor para crianças. Mas nem por isso sua importância deve ser diminuída.

"A grande contribuição de Júlio Verne para a literatura mundial é a mistura que ele realiza entre o saber científico da época, esse frenesi de ciência do final do século 19 e sua fantasmagoria como escritor", diz ele.

Além da geografia, outra grande paixão do escritor, a ciência também fazia parte de seu dia-a-dia. Júlio Verne lia todas as publicações que relatavam os últimos progressos científicos e tecnológicos. E misturava a fantasia a essas informações.

A Cidade das Ciências do Museu de La Villette, em Paris, também homenageia o escritor, com a exposição "80 Dias --Júlio Verne", que tem início no próximo sábado. Nessa mostra haverá filmes, encontros literários e outras atividades culturais.

Vários eventos também estão programados em Nantes, na Bretanha, onde Verne nasceu em 1828, e na cidade de Amiens, no norte da França, onde ele viveu os últimos 34 anos de sua vida.
 

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