Publicidade
Publicidade
19/04/2005
-
16h59
da BBC Brasil, em São Paulo
Depois de ser sacudida pela militância social da Teologia da Libertação entre o final da década de 60 e o começo da década de 80, a Igreja Católica no Brasil vive agora uma fase moderada, na opinião do cientista político Dermi Azevedo.
"De certo modo, não existe mais um arcebispado no Brasil como nos anos 70. O perfil geral é moderado", afirma o pesquisador da USP. "Há uma clara tendência de centro."
"Os ícones da esquerda progressista, e também do conservadorismo, estão se aposentando", acrescenta Azevedo, que cita o bispo d. Pedro Casaldáliga (considerado progressista) e o cardeal d. Eugênio Salles (apontado como conservador) como exemplos.
Em seus dias como cardeal, o papa Bento 16 era considerado um dos principais opositores de doutrinas reformadoras como a Teologia da Libertação durante o papado de seu antecessor.
Unidade
Para Azevedo, uma das conseqüências da mudança no perfil da entidade foi o fato de a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) ter se tornado menos contemporânea e menos ativa nos grandes acontecimentos nacionais.
"Hoje, quem é considerado progressista é moderado, reformista e não abre mão da unidade da CNBB", diz Azevedo.
"Antes, os progressistas eram revolucionários, mais heterodoxos em temas morais e desafiavam mais a hierarquia da CNBB."
De acordo com o pesquisador, o aumento da tendência moderada na Igreja Católica brasileira foi uma reação às divergências do passado e às mudanças no contexto histórico após o processo de redemocratização do país.
O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, também da USP, afirma que a influência do Vaticano também foi decisiva para as mudanças na CNBB.
"A Teologia da Libertação no Brasil estava baseada em pressupostos explicitamente marxistas", diz Pierucci.
"O papa considerava aquilo um dos principais inimigos teóricos do catolicismo."
Conferências episcopais
Além das ações de repreensão do Vaticano contra a Teologia da Libertação, inclusive contra o brasileiro Leonardo Boff, Pierucci acredita que a liderança máxima da igreja também procurou enfraquecer as conferências episcopais.
"O papa tinha como política explícita em seus discursos dizer que os ensinamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano [Celam] eram muito importantes, mas tinham que passar pelo crivo de cada bispo individualmente", afirma o sociólogo.
"Isso foi sistematicamente tirando o poder que havia fortalecido a Igreja Católica no Brasil, com as suas pastorais de conjunto, com as suas linhas de atuação definidas, no nível da CNBB", acrescenta.
O escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, diz que discorda da avaliação de que a influência do papa João Paulo 2° provocou as mudanças no perfil da Igreja Católica no Brasil.
"Isso foi um reflexo da conjuntura", afirma Frei Betto.
"Durante os anos 70 e 80, havia todo um processo de libertação não institucional. Tendo mudado a conjuntura, mudou também o enfoque da Teologia da Libertação."
Para o escritor, o processo iniciado pelos teólogos da libertação não só "continua vivo", com a atuação das comunidades eclesiais de base, como também influenciou todo o resto da Igreja Católica.
"A Teologia da Libertação se disseminou inclusive pelo Vaticano", diz Frei Betto.
"Há 30 anos, só os teólogos da libertação falavam de temas sociais. Se examinarmos os discursos recentes de João Paulo 2°, esses temas estão todos presente."
Novos tempos
O bispo d. Odilo Scherer, secretário-geral da CNBB, também diz acreditar que as mudanças na entidade são uma conseqüência das transformações ocorridas no país.
"Os tempos são outros, as pessoas são outras, e também as questões a tratar hoje são diferentes", afirma d. Odilo.
"Nós temos novas questões que não se impunham tão fortemente nos anos 80."
"Até a metade da década de 80, a CNBB estava confrontada com vários outros tipos de problema --por exemplo, o problema da ditadura militar, da necessidade da redemocratização, das liberdades individuais", acrescenta d. Odilo.
De acordo com o secretário-geral da CNBB, na época do regime militar, a entidade contribuiu muito para a restauração da democracia no Brasil. Agora, diz o bispo, a igreja está diante de um novo cenário.
"Hoje, nós temos outros problemas que estão mais aguçados. Temos, por exemplo, a questão da exclusão social, que continua recebendo uma atenção toda especial da CNBB", conclui d. Odilo.
Leia mais
Conclave elege o alemão Ratzinger para dirigir a Igreja Católica
Primeira viagem de Bento 16 deve ser à Alemanha
Especial
Leia mais na especial sobre o novo papa
Igreja no Brasil adota moderação para evitar divisões internas
DIEGO TOLEDOda BBC Brasil, em São Paulo
Depois de ser sacudida pela militância social da Teologia da Libertação entre o final da década de 60 e o começo da década de 80, a Igreja Católica no Brasil vive agora uma fase moderada, na opinião do cientista político Dermi Azevedo.
"De certo modo, não existe mais um arcebispado no Brasil como nos anos 70. O perfil geral é moderado", afirma o pesquisador da USP. "Há uma clara tendência de centro."
"Os ícones da esquerda progressista, e também do conservadorismo, estão se aposentando", acrescenta Azevedo, que cita o bispo d. Pedro Casaldáliga (considerado progressista) e o cardeal d. Eugênio Salles (apontado como conservador) como exemplos.
Em seus dias como cardeal, o papa Bento 16 era considerado um dos principais opositores de doutrinas reformadoras como a Teologia da Libertação durante o papado de seu antecessor.
Unidade
Para Azevedo, uma das conseqüências da mudança no perfil da entidade foi o fato de a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) ter se tornado menos contemporânea e menos ativa nos grandes acontecimentos nacionais.
"Hoje, quem é considerado progressista é moderado, reformista e não abre mão da unidade da CNBB", diz Azevedo.
"Antes, os progressistas eram revolucionários, mais heterodoxos em temas morais e desafiavam mais a hierarquia da CNBB."
De acordo com o pesquisador, o aumento da tendência moderada na Igreja Católica brasileira foi uma reação às divergências do passado e às mudanças no contexto histórico após o processo de redemocratização do país.
O sociólogo Antônio Flávio Pierucci, também da USP, afirma que a influência do Vaticano também foi decisiva para as mudanças na CNBB.
"A Teologia da Libertação no Brasil estava baseada em pressupostos explicitamente marxistas", diz Pierucci.
"O papa considerava aquilo um dos principais inimigos teóricos do catolicismo."
Conferências episcopais
Além das ações de repreensão do Vaticano contra a Teologia da Libertação, inclusive contra o brasileiro Leonardo Boff, Pierucci acredita que a liderança máxima da igreja também procurou enfraquecer as conferências episcopais.
"O papa tinha como política explícita em seus discursos dizer que os ensinamentos do Conselho Episcopal Latino-Americano [Celam] eram muito importantes, mas tinham que passar pelo crivo de cada bispo individualmente", afirma o sociólogo.
"Isso foi sistematicamente tirando o poder que havia fortalecido a Igreja Católica no Brasil, com as suas pastorais de conjunto, com as suas linhas de atuação definidas, no nível da CNBB", acrescenta.
O escritor e frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, diz que discorda da avaliação de que a influência do papa João Paulo 2° provocou as mudanças no perfil da Igreja Católica no Brasil.
"Isso foi um reflexo da conjuntura", afirma Frei Betto.
"Durante os anos 70 e 80, havia todo um processo de libertação não institucional. Tendo mudado a conjuntura, mudou também o enfoque da Teologia da Libertação."
Para o escritor, o processo iniciado pelos teólogos da libertação não só "continua vivo", com a atuação das comunidades eclesiais de base, como também influenciou todo o resto da Igreja Católica.
"A Teologia da Libertação se disseminou inclusive pelo Vaticano", diz Frei Betto.
"Há 30 anos, só os teólogos da libertação falavam de temas sociais. Se examinarmos os discursos recentes de João Paulo 2°, esses temas estão todos presente."
Novos tempos
O bispo d. Odilo Scherer, secretário-geral da CNBB, também diz acreditar que as mudanças na entidade são uma conseqüência das transformações ocorridas no país.
"Os tempos são outros, as pessoas são outras, e também as questões a tratar hoje são diferentes", afirma d. Odilo.
"Nós temos novas questões que não se impunham tão fortemente nos anos 80."
"Até a metade da década de 80, a CNBB estava confrontada com vários outros tipos de problema --por exemplo, o problema da ditadura militar, da necessidade da redemocratização, das liberdades individuais", acrescenta d. Odilo.
De acordo com o secretário-geral da CNBB, na época do regime militar, a entidade contribuiu muito para a restauração da democracia no Brasil. Agora, diz o bispo, a igreja está diante de um novo cenário.
"Hoje, nós temos outros problemas que estão mais aguçados. Temos, por exemplo, a questão da exclusão social, que continua recebendo uma atenção toda especial da CNBB", conclui d. Odilo.
Leia mais
Especial
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alvo de piadas, Barron Trump se adapta à vida de filho do presidente
- Facções terroristas recrutam jovens em campos de refugiados
- Trabalhadores impulsionam oposição do setor de tecnologia a Donald Trump
- Atentado contra Suprema Corte do Afeganistão mata 19 e fere 41
- Regime sírio enforcou até 13 mil oponentes em prisão, diz ONG
+ Comentadas
- Parlamento de Israel regulariza assentamentos ilegais na Cisjordânia
- Após difamação por foto com Merkel, refugiado sírio processa Facebook
+ EnviadasÍndice