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02/05/2005
-
14h43
da BBC, em Londres
Políticos experientes e publicitários espertos sabem que a percepção dos fatos é com freqüência mais importante do que os próprios fatos.
É assim com a questão de crime e violência na Grã-Bretanha, um dos temas principais da atual campanha eleitoral. Há uma percepção entre o público britânico de que crime e violência estão aumentando no país e que os políticos precisam tomar providências.
Só que os fatos e as estatísticas desmentem essa interpretação, pois as taxas de crime vêm caindo na Grã-Bretanha há alguns anos. Os índices de violência aqui, comparados aos de outros países, são relativamente baixos.
Considere-se homicídio, por exemplo. Dados da ONU mostram que, juntando-se Inglaterra e País de Gales, não chega a mil o número de pessoas assassinadas por ano.
Apenas para comparação, no Brasil são 30 mil as pessoas assassinadas por ano, segundo o IBGE. Ou seja, com uma população três vezes maior, o Brasil consegue ter um índice de homicídios 30 vezes maior.
Se tomarmos grandes centros urbanos, focos habituais de violência maior do que vilarejos ou áreas rurais, temos em Londres um índice de 2,5 assassinatos anuais para cada 100 mil habitantes.
Em São Paulo, a taxa é de 45, índice semelhante ao do Rio. Pouco mais de 200 pessoas foram mortas em Londres no ano passado, contra quase 4.000 no Rio, que tem população igual.
Leve-se em conta ainda que a polícia britânica desvenda a autoria de 70% de todos os crimes contra a pessoa, índice que chega a 90% nos casos de homicídios.
Esses dados inibem mais os criminosos do que a garantia de levar surra de policiais, método mais comum de investigação no Brasil, onde menos de 1% dos homicídios têm o autor descoberto pela polícia.
"Sensação" de insegurança
Diante desses índices, parece brincadeira para um observador brasileiro imaginar medo de crime no Reino Unido. Mas aí entra a percepção do público, ajudada pelos jornais de escândalo, que revelam fascinação em exagerar alguns casos, como se representassem uma tendência geral.
Alguns tipos de crime violento --estupro, por exemplo-- de fato tiveram aumento nas estatísticas da polícia.
Mas não faltam analistas para explicar que, em grande parte, isso se deve à disposição maior das vítimas de registrar casos que, no passado, permaneceriam anônimos, devido ao estigma em torno de crimes sexuais.
"Comportamento anti-social" é outra categoria em aumento, pois engloba desde vandalismo de adolescentes a arruaças provocadas pela mania nacional de se embriagar [isso, sim, uma praga no país].
No cômputo geral, entretanto, a maioria dos especialistas concorda que o índice de crimes no Reino Unido vem caindo.
Mas alguns partidos politicos exploram o medo, a percepção que ignora as estatísticas e prefere adotar a "sensação" de que a sociedade tornou-se mais perigosa.
A oposição conservadora de Michael Howard sai em campanha gritando que o governo perdeu o controle sobre a segurança, que é preciso mais polícia, mais repressão, novas leis, mais prisões.
Os trabalhistas de Tony Blair, que chegaram ao governo oito anos atrás com o slogan de que era preciso combater o crime e as causas do crime, insistem que a situação melhorou, graças a mais verbas e mais contratações de policiais. Mas, como é tempo de eleições, eles também prometem fazer mais.
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Oposição britânica aposta em sensação de insegurança
SILIO BOCCANERAda BBC, em Londres
Políticos experientes e publicitários espertos sabem que a percepção dos fatos é com freqüência mais importante do que os próprios fatos.
É assim com a questão de crime e violência na Grã-Bretanha, um dos temas principais da atual campanha eleitoral. Há uma percepção entre o público britânico de que crime e violência estão aumentando no país e que os políticos precisam tomar providências.
Só que os fatos e as estatísticas desmentem essa interpretação, pois as taxas de crime vêm caindo na Grã-Bretanha há alguns anos. Os índices de violência aqui, comparados aos de outros países, são relativamente baixos.
Considere-se homicídio, por exemplo. Dados da ONU mostram que, juntando-se Inglaterra e País de Gales, não chega a mil o número de pessoas assassinadas por ano.
Apenas para comparação, no Brasil são 30 mil as pessoas assassinadas por ano, segundo o IBGE. Ou seja, com uma população três vezes maior, o Brasil consegue ter um índice de homicídios 30 vezes maior.
Se tomarmos grandes centros urbanos, focos habituais de violência maior do que vilarejos ou áreas rurais, temos em Londres um índice de 2,5 assassinatos anuais para cada 100 mil habitantes.
Em São Paulo, a taxa é de 45, índice semelhante ao do Rio. Pouco mais de 200 pessoas foram mortas em Londres no ano passado, contra quase 4.000 no Rio, que tem população igual.
Leve-se em conta ainda que a polícia britânica desvenda a autoria de 70% de todos os crimes contra a pessoa, índice que chega a 90% nos casos de homicídios.
Esses dados inibem mais os criminosos do que a garantia de levar surra de policiais, método mais comum de investigação no Brasil, onde menos de 1% dos homicídios têm o autor descoberto pela polícia.
"Sensação" de insegurança
Diante desses índices, parece brincadeira para um observador brasileiro imaginar medo de crime no Reino Unido. Mas aí entra a percepção do público, ajudada pelos jornais de escândalo, que revelam fascinação em exagerar alguns casos, como se representassem uma tendência geral.
Alguns tipos de crime violento --estupro, por exemplo-- de fato tiveram aumento nas estatísticas da polícia.
Mas não faltam analistas para explicar que, em grande parte, isso se deve à disposição maior das vítimas de registrar casos que, no passado, permaneceriam anônimos, devido ao estigma em torno de crimes sexuais.
"Comportamento anti-social" é outra categoria em aumento, pois engloba desde vandalismo de adolescentes a arruaças provocadas pela mania nacional de se embriagar [isso, sim, uma praga no país].
No cômputo geral, entretanto, a maioria dos especialistas concorda que o índice de crimes no Reino Unido vem caindo.
Mas alguns partidos politicos exploram o medo, a percepção que ignora as estatísticas e prefere adotar a "sensação" de que a sociedade tornou-se mais perigosa.
A oposição conservadora de Michael Howard sai em campanha gritando que o governo perdeu o controle sobre a segurança, que é preciso mais polícia, mais repressão, novas leis, mais prisões.
Os trabalhistas de Tony Blair, que chegaram ao governo oito anos atrás com o slogan de que era preciso combater o crime e as causas do crime, insistem que a situação melhorou, graças a mais verbas e mais contratações de policiais. Mas, como é tempo de eleições, eles também prometem fazer mais.
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