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06/07/2005 - 13h32

Crise afeta imagem internacional do PT, dizem analistas

DENISE TELLES
da BBC Brasil

Mesmo fazendo mudanças em sua cúpula e investigando as acusações de que tentou comprar votos de parlamentares com o "mensalão", o PT terá muita dificuldade de recuperar a imagem do partido no exterior, na avaliação de analistas que acompanham o partido de fora do país.

A lógica, segundo especialistas, é que as notícias negativas já teriam maculado a imagem do partido e que eventuais tentativas de vencer a crise terão menos exposição fora do Brasil do que as informações iniciais.

Para Alfredo Valadão, professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris e diretor da cátedra Mercosul, o sentimento é de decepção --por causa do histórico do partido, associado no exterior à ética.

Na opinião dele, as mudanças no partido ou mesmo uma ampla reforma ministerial não terão qualquer repercussão no exterior.

"Aqui fora ninguém está interessado nesse tipo de detalhe. Ninguém sabe quem são essas pessoas", afirma.

Pato manco

Para Valadão, o que causa preocupação --especialmente ao mercado internacional-- é a possibilidade de a crise se estender por muito tempo, até as eleições do ano que vem.

Durante esse período, diz ele, o governo não pode ficar paralisado.

"Lula está aparecendo no exterior com a imagem de pato manco antes da hora, o que só costuma acontecer, em geral, no último ano dos governos", diz.

Alfredo Saad Filho, professor de Desenvolvimento Econômico da Universidade de Londres, é outro que fala em decepção.

Ele afirma que o PT sai com um prejuízo grande dentro da esquerda internacional.

"Acho possível que a percepção aqui fora seja que a imagem dele está manchada. As pessoas têm todo o direito de ficar desapontadas", diz, ressalvando que nenhum envolvimento de Lula na compra de deputados foi comprovado.

Saad Filho acredita que a única forma de fazer com que a imagem do PT não fique comprometida é "tomar medidas inequívocas para resolver o escândalo".

"O presidente tem o dever de prestar contas de sua atuação e partir para uma reestruturação interna que resgate as práticas políticas antigas", afirma.

Se isso não acontecer, segundo Saad Filho, o PT "se tornará indistingüível de outros partidos brasileiros".

Coalizão

De acordo com o professor, apenas fazer mudanças na cúpula do partido e em ministérios não é suficiente.

Ele afirma que falta saber quais são as pessoas que vão entrar no lugar das que saem e que tipos de coalizão o presidente vai compor para montar o ministério.

O editor de América Latina do jornal britânico Financial Times, Richard Lapper, afirma que não se sabe ainda que tipo de conseqüência o escândalo pode ter sobre a imagem do governo Lula.

O jornal publica nesta terça-feira uma reportagem em que diz que o escândalo deixa o presidente "sob pressão".

"É difícil dizer que vai causar danos à imagem internacional do presidente. O que vai se passar nos próximos dias tem muita importância", diz.

Conselho de Segurança

O jornalista afirma que o governo Lula sempre deu muita importância à sua imagem internacional. Especialmente nesse momento em que o Brasil busca apoio para conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

"Isso não prejudica diretamente as pretensões brasileiras, até porque a candidatura não era forte de qualquer maneira. E há também o contexto do comércio internacional, em que o Brasil busca ter apoio para suas propostas", afirma.

Segundo ele, não há uma crise institucional, mas as acusações de corrupção não ajudam a que a comunidade internacional leve as propostas brasileiras a sério.

Lapper afirma que é difícil avaliar se as mudanças na cúpula do partido e no ministério podem ajudar Lula a melhorar sua imagem.

"Ainda não se sabe. Mas ele tem que fazer alguma coisa."

O professor Alfredo Saad Filho e o cientista político Christian Anglade, da Universidade de Essex, na Inglaterra, concordam que esse tipo de crise, envolvendo corrupção, é comum no cenário político internacional.

"A diferença é que agora o beneficiado é um partido, e não uma pessoa", diz Saad Filho.

"Casos de corrupção existem em todos os países, na Inglaterra, nos Estados Unidos. O lado bom é que está saindo na imprensa. Nada está sendo escondido", afirma Anglade.

O cientista político diz que Lula tem uma posição reconhecida nos círculos internacionais. Anglade disse duvidar que os problemas internos tenham um impacto negativo sobre a imagem do presidente.

De acordo com ele, os problemas enfrentados por Lula são "decorrentes dos grandes problemas que o Brasil enfrenta para ser governado".
 

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