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13/07/2005 - 13h53

Análise: "Inimigo interno" testa coesão social britânica

DOMINIC CASCIANI

O fato de os principais suspeitos pelos atentados em Londres na semana passada serem, segundo a polícia, britânicos é um pesadelo que o país não queria enfrentar.

Os acontecimentos das próximas semanas e meses vão testar a coesão da sociedade britânica.

Nas horas após os ataques, líderes muçulmanos no Reino Unido, ao lado de líderes de outros credos, chefes de polícia e ministros, lançaram um plano de ação preparado para esse tipo de ataque em território britânico.

O plano tinha como objetivo manter as comunidades unidas e deixar clara a diferença entre muçulmanos britânicos e aqueles que fariam uso da fé para justificar atrocidades.

A estratégia era baseada, em boa medida, na idéia de a sociedade ver o terrorismo como uma "ameaça externa" - e, portanto, que os ataques fossem realizados por estrangeiros.

Mas a revelação de que os quatro suspeitos dos ataques a Londres eram britânicos vai acabar por confirmar o pior medo de muitos líderes muçulmanos.

Os quatro anos que se passaram após o 11 de Setembro viram um grande crescimento da identidade islâmica na Europa.

Muitos líderes muçulmanos apontam orgulhosamente para as gerações jovens que cada vez mais criam uma identidade britânico-muçulmana, assimilando o que acreditam ser as melhores características do islamismo e acrescentando muitos elementos seculares.

Raiva

Ao mesmo tempo, porém, havia a evolução de uma ódio que ficou mais e mais visível com as controversas leis antiterrorismo britânicas e a Guerra do Iraque.

Em alguns casos, a raiva é evidenciada por meios políticos. Em outros, por meios religiosos, com pessoas declarando que os muçulmanos precisam escolher entre o islamismo e a sociedade britânica.

Shahid Malik, parlamentar muçulmano, já disse que há um sentimento de injustiça entre algumas pessoas, especialmente com relação à política externa relativa aos palestinos.

Mas ele também afirmou que há uma certa relutância entre comunidades muçulmanas em admitir a existência de extremistas --da mesma maneira que muitos brancos não conseguem confrontar o racismo.

Há muitas evidências de como o processo de radicalização acontece.
Em abril de 2003, em Tel Aviv, dois jovens britânicos realizaram um ataque suicida coordenado do Hamas, em que três pessoas morreram.

Os dois se encontraram na universidade e se envolveram no estudo da política radical islâmica em que uma questão constante é a injustiça do conflito de Israel com os palestinos e a "hipocrisia de países ocidentais".

Esses grupos podem ser catalisadores de alienação, apresentando a cultura ocidental como imoral e incompatível com a leitura literal de textos sagrados.

Os jovens foram à Síria onde continuariam seus estudos. Lá eles se juntaram ao Hamas e realizaram a ação fatal.

Em muitos aspectos, o perfil desses dois britânicos é parecido com o das pessoas que seqüestraram os aviões no dia 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Eles são jovens e tiveram boa educação.

Para eles, a decisão de realizar explosões é racional, baseada em análises de como os muçulmanos são tratados.

Medo

Então o que acontece agora? Se os supostos envolvidos nos ataques de Londres tiverem o mesmo perfil --homens britânicos jovens que não agem por desespero--, então a habilidade da sociedade britânica em lidar com a situação será altamente testada.

E é disso que líderes muçulmanos têm mais medo.

Em primeiro lugar, eles têm medo que haja ataques contra a comunidade muçulmana.

Eles também temem que essa reação possa desencadear uma divisão mais profunda na sociedade e criar mais oportunidades para que os jovens procurem por radicalismo.

Níveis de ansiedade estão altos pelo país e, se essa ansiedade se transformar em raiva, então o efeito pode ser desestabilizador.

Especial
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