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08/06/2006 - 14h58

Morte de Al Zarqawi não garante redução da violência, dizem analistas

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

A morte do líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab Al Zarqawi, é um vitória e uma oportunidade para o governo iraquiano mas, por si só, não garante a redução da violência no Iraque, advertem analistas.

O pesquisador iraquiano Mustafa al Ani, do Centro de Estudos do golfo, em Dubai, observa que há informações não confirmadas de que o grupo teria nomeado --há seis meses-- um alto conselho (shura) para o comando da organização.

"Não devemos exagerar o significado da morte de Al Zarqawi porque trata-se de todo um grupo que pode ter uma liderança coletiva. Isso vai ter, sem dúvida, um impacto moral no grupo (Al Qaeda no Iraque), mas eles devem se recuperar", explica o pesquisador iraquiano Mustafa al-Ani, do Centro de Estudos do golfo, em Dubai.

Observadores acreditam que --mesmo que ainda de maneira menos coordenada, devido à perda do principal líder-- os seguidores de Al Zarqawi devem continuar a promover ataques.

"Algumas pessoas com quem conversei no Iraque temem até que haja um aumento nos ataques no curto prazo por conta da ansiedade do grupo de Al Zarqawi de marcar a presença e mostrar força mesmo com a morte dele", diz o editor de assuntos internacionais da BBC, John Simpson.

Grupos diferentes

A organização Al Qaeda no Iraque, que Zarqawi liderava, era o principal grupo atuando no país entre aqueles que os analistas classificam de "jihadistas", com grande participação de "mujahedin" (guerreiros) de outros países árabes.

São organizações que --a exemplo da rede Al Qaeda comandada por Osama bin Laden-- se consideram em uma guerra global de resistência islâmica, na qual o Iraque é apenas um dos campos de batalha.

Mas grande parte da insurgência no Iraque também é promovida pelos grupos "nacionalistas iraquianos", formados fundamentalmente por "mujahedin" locais. Eles podem ser grupos islâmicos, mas o foco da luta é a "libertação nacional" e não necessariamente a defesa ou expansão da religião.

"Muitos líderes da insurgência nacionalista sunita ficaram satisfeitos com a morte dele. Al Zarqawi era particularmente violento e, além dos xiitas (alvo da insurgência), ele também estava matando sunitas que discordavam da estratégia dele", disse a diretora de pesquisas do Insituto Real de Relações Internacionais (Chatham House), de Londres. Rosemary Hollis.

Mustafa Al Aini observa que grupos como o de al-Zarqawi são os principais responsáveis pelos ataques suicidas e pelas ações contra civís xiitas, enquanto as organizaçõs nacionalistas atuam mais contra as forças estrangeiras ou o governo iraquiano.

"Estamos falando de duas tendências muito diferentes no Iraque. O que os militares conseguiram agora foi matar um importante líder de apenas uma delas", diz.

Divisões

Há dúvidas, agora, sobre a capacidade da Al-Qaeda no Iraque de continuar um grupo unido com a morte de Zarqawi.

"Ele comandava o grupo com mão de ferro e muita violência. É difícil imaginar que, agora, algum de seus outros comandantes mais próximos vá conseguir assumir este papel rapidamente para evitar a desintegração do grupo", diz John Simpson.

Mas Mustafa al Aini observa que há suspeitas de que a Al Qaeda no Iraque era liderada por um alto conselho (shura) --escolhido cerca de seis meses atrás-- que poderia nomear um novo líder com certa rapidez.

"As indicações são de que Abdullah Bin Rashid al Baghdadi liderava o Shura. Ele pode ser um forte candidato a substituir Al Zarqawi", diz.

Governos ocidentais descreveram a morte de Al Zarqawi como uma grande vitória, mas mantiveram um tom cauteloso ao falar sobre os possíveis impactos positivos, no curto prazo, sobre a violência no Iraque.

Bush

O presidente George W. Bush falou na Casa Branca que a morte de Zarqawi é um "grande golpe para a Al Qaeda" e "uma chance de virar a maré".

"Mas a violência no Iraque ainda não vai parar. Terroristas e insurgentes vão continuar a agir a violência sectária também vai continuar", admitiu o presidente.

Analistas dizem que os governos ocidentais querem evitar o mesmo tipo de euforia que ocorreu quando o ex-presidente Saddam Hussein foi preso. No fim das contas, a detenção do ex-lider iraquiano parece não ter ajudado a reduzir a violência no Iraque.

"Todos os dias ouvimos falar das mortes provocadas pela violência no Iraque. Mas não devemos ter ilusões e sabemos que eles vão continuar a matar", disse em Londres o primeiro-ministro britânico, Tony Blair.

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