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04/08/2006
-
19h20
da BBC Brasil, em Beirute
Os cristãos libaneses não fazem parte da base de apoio mais sólida do Hizbollah – que é xiita – mas este conflito não foi suficiente para virar a comunidade contra o grupo militante.
Cristãos ouvido pela BBC Brasil desaprovam muitas atitudes do Hizbollah e vêem a necessidade de colocar o grupo sob a autoridade do Estado, mas ressalvam que eles representam uma parcela importante da sociedade libanesa e que não faz sentido simplesmente tentar eliminá-los.
“Antes deste conflito estávamos em negociações com o Hizbollah sobre desarmamento e uma integração deles as forças libanesas. Este conflito pode ter colocado tudo a perder”, diz o vice-presidente do partido cristão Kataeb, Abu Khalil.
A resolução 1559 da ONU, aprovada em 2000, ordena o desarmamento do Hizbollah, mas a milícia sempre foi mais forte que o próprio Exército libanês e há temores que qualquer tentativa de forçar o grupo a abandonar suas armas possa provocar grande instabilidade ou, na pior das hipóteses, uma nova guerra civil no país.
“O problema é que não temos um Estado no Líbano. Precisamos de um Estado que não permita que um grupo político simplesmente declare guerra a um país vizinho de acordo com sua vontade”, diz o político cristão.
Guerra civil
Abu Khalil não vê, no entanto, o risco de a tensão aumentar entre as seitas libanesas – por conta das atitudes do grupo Hizbollah – até o ponto de explosão de violência interna ou mesmo de uma guerra civil, como a que afligiu o Líbano entre 1975 e 1991.
Ele admite que guerras muitos sangrentas podem começar de maneira inesperada ou a partir de eventos aparentemente pequenos – alguns assassinatos e vinganças escalando até um conflito generalizado, por exemplo – mas vê uma possibilidade “muito, muito pequena” de tal coisa acontecer agora.
“Os libaneses já fizeram uma guerra civil levada até as últimas conseqüências e perceberam que não valeu a pena, que ninguém ganhou com isso. Além disso, hoje há apenas uma facção armada no país (os xiitas através do Hezbollah), então não há combatentes para uma guerra civil.”
O presidente do partido Bloco Nacional Libanês, Carlos Eddé não vê riscos de uma guerra civil com o possível fortalecimento do Hizbollah neste conflito mas avalia que pode haver – depois de cessado o conflito – uma acirramento nas disputas de poder e das tensões sectárias.
União nacional
Eddé diz que isto dificultaria o esforço de grupos políticos seculares pela construção de um Estado que não precise ser tão rigidamente dividido em linhas religiosas.
O acordo que terminou a guerra civil libanesa em 1991 dividiu o poder entre os cristãos, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas.
E embora o sistema tenha conseguido manter o país razoavelmente estável e em paz, muitos críticos também dizem que ele impossibilita uma união mais profunda entre as comunidades, que pudesse fortalecer o Estado nacional com um todo.
“Eu sou cristão, mas eu e meu partido defendemos um governo que leve em consideração os interesses de toda a população de maneira igualitária, sem necessidade de uma divisão formal de poderes entre as seitas”, diz Eddé.
Ele avalia que as lideranças cristãs já estão perdendo poder por questões demográficas – as famílias muçulmanas costumam ter mais filhos do que as cristãs – e devem levar mais um golpe em sua influência, por conta do fortalecimento militar do grupo Hizbollah.
Solidariedade
Os cristãos também dizem que o sofrimento provocado pelos ataques contra os bairros xiitas acabou unindo as comunidades, não necessariamente em termos políticos, mas principalmente em termos sociais e humanos.
“Esta é uma guerra que está atingindo todo o povo libanês e como cristãos o que temos que fazer é rezar muito para que isso pare e dar todo apoio que nossos irmãos muçulmanos, que estão sofrendo mais”, diz a cristã Dana, que preferiu não revelar o sobrenome.
A professora Amal Hayek diz que percebe a responsabilidade do Hizbollah ao detonar o conflito quando capturou dois soldados de Israel e matou outros oito – quatro em território Israelenses e os quatro que atravessaram a fronteira em perseguição aos militantes que capturaram os companheiros.
Mas ela diz que a resposta de Israel foi exagerada e que os libaneses deveriam ser capazes de resolver suas questões com o Hizbollah internamente e de maneira pacífica.
O cabeleireiro Tony Shar diz que não apóia o Hizbollah mas reconhece o grupo como importante na “resistência” contra Israel, que para a mairoia dos cristãos libaneses – e para praticamente todos os muçulmanos – é o grande inimigo.
“O Hizbollah está um pouco errado em ter seqüestrado aqueles dois soldados de Isreal agora”, diz. E Israel? “Israel está muito errado em estar fazendo tudo isso”, responde.
Cristãos mantêm apoio moderado ao Hizbollah
PAULO CABRALda BBC Brasil, em Beirute
Os cristãos libaneses não fazem parte da base de apoio mais sólida do Hizbollah – que é xiita – mas este conflito não foi suficiente para virar a comunidade contra o grupo militante.
Cristãos ouvido pela BBC Brasil desaprovam muitas atitudes do Hizbollah e vêem a necessidade de colocar o grupo sob a autoridade do Estado, mas ressalvam que eles representam uma parcela importante da sociedade libanesa e que não faz sentido simplesmente tentar eliminá-los.
“Antes deste conflito estávamos em negociações com o Hizbollah sobre desarmamento e uma integração deles as forças libanesas. Este conflito pode ter colocado tudo a perder”, diz o vice-presidente do partido cristão Kataeb, Abu Khalil.
A resolução 1559 da ONU, aprovada em 2000, ordena o desarmamento do Hizbollah, mas a milícia sempre foi mais forte que o próprio Exército libanês e há temores que qualquer tentativa de forçar o grupo a abandonar suas armas possa provocar grande instabilidade ou, na pior das hipóteses, uma nova guerra civil no país.
“O problema é que não temos um Estado no Líbano. Precisamos de um Estado que não permita que um grupo político simplesmente declare guerra a um país vizinho de acordo com sua vontade”, diz o político cristão.
Guerra civil
Abu Khalil não vê, no entanto, o risco de a tensão aumentar entre as seitas libanesas – por conta das atitudes do grupo Hizbollah – até o ponto de explosão de violência interna ou mesmo de uma guerra civil, como a que afligiu o Líbano entre 1975 e 1991.
Ele admite que guerras muitos sangrentas podem começar de maneira inesperada ou a partir de eventos aparentemente pequenos – alguns assassinatos e vinganças escalando até um conflito generalizado, por exemplo – mas vê uma possibilidade “muito, muito pequena” de tal coisa acontecer agora.
“Os libaneses já fizeram uma guerra civil levada até as últimas conseqüências e perceberam que não valeu a pena, que ninguém ganhou com isso. Além disso, hoje há apenas uma facção armada no país (os xiitas através do Hezbollah), então não há combatentes para uma guerra civil.”
O presidente do partido Bloco Nacional Libanês, Carlos Eddé não vê riscos de uma guerra civil com o possível fortalecimento do Hizbollah neste conflito mas avalia que pode haver – depois de cessado o conflito – uma acirramento nas disputas de poder e das tensões sectárias.
União nacional
Eddé diz que isto dificultaria o esforço de grupos políticos seculares pela construção de um Estado que não precise ser tão rigidamente dividido em linhas religiosas.
O acordo que terminou a guerra civil libanesa em 1991 dividiu o poder entre os cristãos, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas.
E embora o sistema tenha conseguido manter o país razoavelmente estável e em paz, muitos críticos também dizem que ele impossibilita uma união mais profunda entre as comunidades, que pudesse fortalecer o Estado nacional com um todo.
“Eu sou cristão, mas eu e meu partido defendemos um governo que leve em consideração os interesses de toda a população de maneira igualitária, sem necessidade de uma divisão formal de poderes entre as seitas”, diz Eddé.
Ele avalia que as lideranças cristãs já estão perdendo poder por questões demográficas – as famílias muçulmanas costumam ter mais filhos do que as cristãs – e devem levar mais um golpe em sua influência, por conta do fortalecimento militar do grupo Hizbollah.
Solidariedade
Os cristãos também dizem que o sofrimento provocado pelos ataques contra os bairros xiitas acabou unindo as comunidades, não necessariamente em termos políticos, mas principalmente em termos sociais e humanos.
“Esta é uma guerra que está atingindo todo o povo libanês e como cristãos o que temos que fazer é rezar muito para que isso pare e dar todo apoio que nossos irmãos muçulmanos, que estão sofrendo mais”, diz a cristã Dana, que preferiu não revelar o sobrenome.
A professora Amal Hayek diz que percebe a responsabilidade do Hizbollah ao detonar o conflito quando capturou dois soldados de Israel e matou outros oito – quatro em território Israelenses e os quatro que atravessaram a fronteira em perseguição aos militantes que capturaram os companheiros.
Mas ela diz que a resposta de Israel foi exagerada e que os libaneses deveriam ser capazes de resolver suas questões com o Hizbollah internamente e de maneira pacífica.
O cabeleireiro Tony Shar diz que não apóia o Hizbollah mas reconhece o grupo como importante na “resistência” contra Israel, que para a mairoia dos cristãos libaneses – e para praticamente todos os muçulmanos – é o grande inimigo.
“O Hizbollah está um pouco errado em ter seqüestrado aqueles dois soldados de Isreal agora”, diz. E Israel? “Israel está muito errado em estar fazendo tudo isso”, responde.
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