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25/07/2009 - 09h19

Entenda as discussões entre Brasil e Paraguai sobre a usina de Itaipu

FABRÍCIA PEIXOTO
enviada especial da BBC Brasil a Assunção

Após meses de negociação, Brasil e Paraguai deverão finalmente chegar a um acordo sobre a usina hidrelétrica de Itaipu.

Em encontro neste sábado, em Assunção, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega paraguaio, Fernando Lugo, discutem os detalhes finais da renegociação.

No último encontro, que aconteceu em Brasília, no mês de maio, os dois mandatários não conseguiram chegar a um consenso.

O governo paraguaio quer mudanças no acordo sobre a usina, que pertence aos dois países. Uma das reivindicações é de que o Brasil pague mais pela energia que compra do país vizinho.

Além disso, o Paraguai também quer o direito de vender livremente, a preço de mercado, a energia a que tem direito.

Nos últimos seis meses, o governo brasileiro vem discutindo, informalmente, algumas contrapropostas com o lado paraguaio. Uma delas prevê linhas de financiamento, via BNDES, no valor de US$ 1,5 bilhão (R$2,4 bi), que seriam usadas em obras de infraestrutura no país vizinho.

A ideia, no entanto, vem sendo recusada pelo governo paraguaio. Tudo indica que, dessa vez, o Brasil fará novas concessões.

Criada em 1973, a usina é considerada a maior do mundo em termos de energia gerada e abastece 20% do território brasileiro. No Paraguai, Itaipu gera 90% do que é consumido.

Entenda o que está em jogo nas discussões sobre a usina de Itaipu.

O que é a Usina de Itaipu?

Localizada no Rio Paraná, na fronteira entre Brasil e Paraguai, a usina hidrelétrica de Itaipu foi criada em 1973, mas apenas em 1984 começou efetivamente a gerar energia. É considerada a maior hidrelétrica do mundo, em termos de energia gerada.

Os governos do Paraguai e do Brasil são os dois sócios da empresa, com participações iguais. Quando o tratado foi assinado, ficou acertado que cada país ficaria responsável por 50% do capital inicial (US$ 50 milhões para cada).

O Paraguai, no entanto, não tinha recursos financeiros para isso. A saída foi pegar o dinheiro emprestado com o Brasil, não só para o capital inicial, mas também para outros investimentos, na medida em que o empreendimento era executado. O resultado é uma dívida de US$ 18 bilhões, a ser paga até 2023.

Isso faz do Brasil dono da empresa?

Não. A usina pertence aos dois países. Brasil e Paraguai têm direito, cada um, a 50% da energia gerada. A empresa tem também duas diretorias, uma de cada lado da fronteira.

No entanto, como o Brasil foi o país que efetivamente pagou pelo projeto, os dois governos concordaram, na época, que o Brasil teria certas preferências.

Uma delas diz respeito à energia excedente. O Paraguai tem direito a 50% da energia gerada, mas como não precisa de todo esse montante, acaba usando apenas 5%. O tratado diz que o restante (no caso, 45%) deve ser vendido obrigatoriamente à Eletrobrás, a preço de custo.

Por que o Paraguai se sente prejudicado?

O governo paraguaio questiona uma série de pontos do acordo sobre Itaipu. O país vizinho quer o direito de vender sua parte para quem quiser, da forma como quiser. O argumento é de que o Brasil "paga pouco" pela energia, e que outros compradores estariam dispostos a pagar o preço de mercado.

O Brasil paga ao Paraguai US$ 45,31 por megawatt-hora (MWh). No entanto, desse valor, o Paraguai recebe efetivamente US$ 2,81. A diferença (de US$ 42,5) é retida pelo governo brasileiro, como abatimento da dívida.

O que diz o governo brasileiro?

O governo brasileiro tem se mostrado dividido sobre a possibilidade de o Paraguai vender livremente a energia a que tem direito. Enquanto o Itamaraty é a favor --por questões políticas--, outros ministérios, como o de Minas e Energia, relutam em ceder à demanda paraguaia.

Um dos argumentos dos críticos é de que essa concessão ao Paraguai poderá resultar em aumento no preço da energia no Brasil. Além disso, o Brasil precisaria dessa energia para consumo geral.

Sobre o valor pago ao Paraguai, técnicos do governo discordam de que seja "pouco". Para isso, comparam o valor da energia de Itaipu com o de outros projetos. As usinas do Rio Madeira, quando estiverem prontas, vão oferecer energia a R$ 71 (cerca de US$ 33) - valor "ainda menor" do que o de Itaipu.

O governo brasileiro está disposto a fazer alguma concessão?

Após meses de relutância, o governo brasileiro parece estar disposto a ceder. Tudo indica que o Palácio do Planalto está inclinado a permitir que o Paraguai venda livremente no mercado brasileiro a energia a que tem direito.

Além disso, haveria um reajuste no preço da energia paga aos paraguaios. Com isso, o Paraguai pode até triplicar seu faturamento com a Usina de Itaipu.

Segundo o governo brasileiro, é preciso ainda criar condições para que o Paraguai consuma a energia excedente. Como parte desse plano, as empresas brasileiras Camargo Correa e Votorantim Cimentos anunciaram um investimento de US$ 100 milhões na construção de uma fábrica no Paraguai.

O governo brasileiro estaria também aberto a um reajuste no valor pago pela cota paraguaia, passando dos atuais US$ 45 para algo em torno de US$ 47.

Apesar das intensas negociações nos últimos meses, a palavra final sobre a proposta será dada pelo presidente Lula.

Por que as discussões sobre Itaipu ganharam força agora?

A usina hidrelétrica de Itaipu é extremamente importante nas discussões econômicas e políticas no Paraguai.

A usina responde por 90% de toda a energia usada pelo país. Quando a dívida for quitada, em 2023, Itaipu estará valendo, de acordo com estimativas, cerca de US$ 60 bilhões - quase três vezes o PIB paraguaio.

O assunto foi a principal bandeira da campanha de Lugo à Presidência do Paraguai, quando prometeu brigar por um acordo "mais justo" com o Brasil.

A avaliação do governo brasileiro é de que Lugo precisa "entregar o que prometeu". A questão ganhou ainda maior importância diante do momento delicado pelo qual passa o presidente paraguaio, envolvido em escândalos de paternidade.

Comentários dos leitores
Rolando Frati (83) 07/11/2009 14h18
Rolando Frati (83) 07/11/2009 14h18
O Novo tratado no Acordo de Itaipu deve ser Auditado, para verificar se não houve perda ao País, pois os ocasionadores de eventuais perdas deveriam pagar de seus próprios Bolsos, pois foram eleitos para defender o Direito e Patrimonio do Povo Brasileiro. sem opinião
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Maurilio Gabriotti (42) 06/11/2009 08h15
Maurilio Gabriotti (42) 06/11/2009 08h15
Parece que o presidente Lula sempre dá um jeito de arrumar dinheiro para os nossos ilustres vizinhos. Só não consegue dinheiro para os aposentados. Acontece que os nossos vizinhos não votam, sr. Lula. Então, até as próximas eleições... sem opinião
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Anonimo Anonimo (4) 06/11/2009 00h46
Anonimo Anonimo (4) 06/11/2009 00h46
Até parece que o Brasil passou a perna no Paraguai durante todo este tempo e o Lula veio corrigir a injustiça. Só esqueceram de mencionar que o preço pago ao Paraguai é o mesmissimo que é pago para geradoras dentro do país. Se a moda pega e os geradores internos decidam cobrar o mesmo aumento, a energia elétrica em nossas casas também deve triplicar. sem opinião
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