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15/02/2001 - 03h30

FHC quer recompor base e se reconciliar com Inocêncio

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ELIANE CANTANHÊDE, da Folha de S.Paulo, em Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso nem esperou o resultado das eleições de ontem e jogou um anzol para o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), que perdeu para o tucano Aécio Neves (MG) na Câmara. O principal alvo é o PFL, o grande derrotado do processo.

"Meu impulso é telefonar agora para o Inocêncio e dizer: "O meu governo precisa de você'", afirmou FHC numa conversa com a Folha, na terça-feira à noite, véspera da eleição, em seu gabinete.

Inocêncio, segundo ele, "é um líder experiente, leal, um amigo que ajudou muito o governo". E ratifica: "Eu reconheço isso".

Na reta final da campanha, Inocêncio deu entrevista à Folha destilando mágoa em relação a FHC. Declarou-se "candidato de oposição" e disse que estava "desembarcando do governo".

Prometeu ainda que, se vencesse, não pisaria no Planalto durante os dois anos na presidência da Câmara. "Se alguém me vir lá, pode me chamar de homem sem caráter, sem moral", disse.

FHC, porém, releva: "São coisas do calor da campanha..."
O alvo de FHC é um peixe bem maior do que Inocêncio: o "PFL do B", comandado pelo vice-presidente da República, Marco Maciel, e pelo presidente da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC).

"Desde Tancredo (ex-presidente Tancredo Neves) e da Constituinte, tenho ótimas relações com eles. O Marco tem sido um vice irrepreensível. O Bornhausen é um amigo", disse o presidente.

Os dois, Maciel e Bornhausen, atribuem a retumbante derrota do PFL -que pela primeira vez fica sem uma das duas presidências do Congresso- ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que começou a crise ao vetar o nome de Jader Barbalho (PMDB-PA) para a sucessão.

"Todo mundo sabe que a confusão nasceu lá no Congresso, entre eles. Não aqui, comigo", diz FHC.

Reforma ministerial
Apesar disso, nega que pretenda fazer uma reforma ministerial para tirar um dos dois ministros do PFL da Bahia, ambos ligados a ACM: Waldeck Ornélas (Previdência) ou Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).

Conforme a Folha apurou, uma das idéias seria a fusão dos ministérios de
Minas e Energia, Transportes e Comunicações numa única pasta, a da Infra-Estrutura.

Com isso, o Planalto tiraria de uma só tocada, respectivamente, o pefelista Tourinho, o peemedebista Eliseu Padilha, que ganharia um outro cargo, e o tucano Pimenta da Veiga, pré-candidato a presidente do PSDB.
Reação de FHC: "Eu não vou fazer reforma ministerial nenhuma. Para que inventar uma reforma ministerial agora?".

No esforço para manter a sempre questionada versão de neutralidade na disputa e tentar manter unida sua complexa base, o presidente insistiu todo o tempo que só ouvia candidatos e partidos, sem estimular nem uns nem outros. Inclusive Aécio e o PSDB.

Contou que ele e Inocêncio se encontraram numa solenidade no Itamaraty no final do ano passado e o pefelista, na época favorito, lhe declarou: "Vou ganhar". "Mas ele não pediu apoio, só queria neutralidade", disse FHC.

A mesma neutralidade, apesar de versões em contrário em todos os partidos, ele jura que manteve do início ao fim da campanha.

"Alguma vez estimulei o Aécio? Quando ele me comunicou que seria candidato, eu lhe dei um tapinha nas costas e foi isso. E, olha, ele é do meu partido e tenho muito apreço por ele", disse.

"Eu sabia que daria a maior confusão. Não estimulei o Aécio, mas não poderia estiolar (enfraquecer) o PSDB. Não poderia dizer: "Tira o Aécio". Primeiro, porque não é meu estilo. Segundo, porque é uma questão do partido, não minha".

Confusão
A "neutralidade", segundo o presidente, deu certo: "Imagine se eu tivesse me metido nessa confusão? Agora, ia aparecer até quem me culpasse por essas fitas", disse, referindo-se ao "grampo" de deputados baianos dando a entender que trocaram o PFL pelo PMDB por dinheiro.

Na mesma terça-feira em que conversava com a Folha, FHC recebeu um telefonema do senador e seu ex-ministro da Agricultura Arlindo Porto (PTB-MG), comunicando que aceitara ser a "terceira via" articulada pelo PFL contra Jader e Jefferson Péres (PDT), o candidato da oposição.

O presidente mais ouviu do que falou: "Sim", "ótimo", "boa sorte". Depois, comparou: "Todos me ligaram, e eu falei desse mesmo jeito com todos eles".

Ele também admitiu que houve articulações em diferentes direções. Diz que ouviu atentamente todas, mas não se meteu.

FHC desautorizava, assim, notícias de que teria jogado a favor do acordo PMDB-PSDB e, portanto, das candidaturas de Jader no Senado e de Aécio na Câmara.

Na véspera da eleição, ainda diziam no Congresso que ele havia telefonado para governadores aliados pedindo interferência a favor de Jader. Uns falavam em José Ignácio Ferreira, do Espírito Santo. Outros, nos governadores de Tocantins, Siqueira Campos, e de Roraima, Neudo Campos. "Eu? Isso é uma mentira!", reagiu.

A "neutralidade" vai servir de trunfo para recompor a trincada base governista.
 

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