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05/03/2001
-
03h29
FLÁVIA DE LEON
da Folha de S.Paulo
O senador Antonio Carlos Magalhães (BA) disse que mostrará cartas com denúncias de corrupção no governo enviadas ao presidente Fernando Henrique Cardoso à cúpula de seu partido, o PFL, na reunião desta quinta-feira.
O PFL não endossou as críticas feitas por ACM desde que ele entrou em choque com o Palácio do Planalto, cujo estopim foi a vitória do peemedebista Jader Barbalho (PA) para suceder o senador baiano na presidência do Senado.
Desde seu rompimento com o governo, ACM tem afirmado que alertou o presidente sobre irregularidades no DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), vinculado ao ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB), seu desafeto.
Também citou a Sudam, órgão influenciado por Jader, a quem ontem acusou de ter "arranjado" os funcionários que disseram à Folha ter entregue cópias da lista secreta de votação da cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF) a ACM. A oposição pede investigação sobre o caso.
Em entrevista concedida à Folha e ao jornal "Correio Braziliense" em São Paulo, ACM disse que vai encontrar meios, dentro do Congresso, de ver apuradas suas denúncias de corrupção no governo, inclusive a mais recente, de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira cobrou propina para ajudar a formar o consórcio Telemar na época da privatização do sistema Telebrás. Segundo ele, há pessoas que testemunharam uma conversa que compromete o ex-diretor.
O senador chegou a São Paulo às 21h45 de sábado, vindo de Miami (EUA), onde se preparou para a próxima batalha política.
Antes de embarcar, ACM disse à Folha, por telefone, que quem iria "atirar" era ele. No início da tarde de ontem, foi ao Incor, onde está internado em estado grave o governador licenciado Mário Covas.
Depois da rápida entrevista antes de almoçar em uma churrascaria na zona sul, ACM foi abraçado pelos clientes do restaurante e posou para fotos. A seguir, a íntegra da entrevista.
Folha - O sr. deu a entender, em entrevistas, que há um outro dossiê Caribe...
Antonio Carlos Magalhães - Eu não dei a entender. Eu disse que o dossiê Caribe, que me foi apresentado, não tinha veracidade (O chamado dossiê Caribe é um conjunto de papéis de autenticidade não comprovada que apontavam a existência de uma conta da cúpula tucana em paraíso fiscal). Por isso mesmo conversei com o presidente Fernando Henrique na ocasião, dizendo que tinha visto. Talvez tenha sido a primeira pessoa a comunicar a ele a situação e dito que achava que não tinha nada que levasse a creditar envolvimento. Até porque o (Mário) Covas jamais faria sociedade com ele e com outros. E ele também, evidentemente, não faria sociedade. De modo que, aquele dossiê, para mim... O que eu disse é que a imprensa, principalmente a Folha, está atrás de outro dossiê, nessa mesma área.
Folha - E a prova testemunhal do suposto envolvimento do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio com irregularidades? O sr. tem o testemunho de alguém ou o sr. tem alguém que vai testemunhar?
ACM - É uma prova testemunhal. As minhas afirmativas, quando as fizer, porque ainda não as fiz, serão todas com base em pessoas que participaram da conversa.
Folha - Há mais de uma pessoa?
ACM - Há.
Folha - Que conversa é essa?
ACM - Essa eu só poderei dar quando houver CPI.
Folha - E se não houver CPI?
ACM - Se não houver CPI, vamos procurar o meio adequado de fazê-lo, mas dentro do Parlamento.
Folha - O PT e o PPS estão juntando reportagens sobre a possibilidade de violação do painel eletrônico (após a cassação de Estevão), no processo que pede investigação...
ACM - Violação no painel não é possível. E mais do que isso, se fosse possível, jamais seria feita na minha presidência. Agora, quando acaba qualquer eleição, evidentemente as pessoas supõem quem votou em quem. E aí pode haver coisas certas e erradas.
Nessa, por exemplo, do Jader, houve coisas erradas, como o Roberto Freire (PPS-PE) violar o segredo do voto votando aberto, atrás da Mesa, na frente de todas as pessoas, e fazendo questão de fazer isso talvez até numa provocação para eu protestar e não deixar. Mas eu deixei, propositadamente, para que ele infringisse o Regimento, que obriga o voto secreto. Ele votou aberto. Ele é que é passível de pena.
Folha - A Folha apurou com dois funcionários que lhe foi entregue uma lista do Prodasen...
ACM - Desafio qualquer funcionário a ter entregue qualquer lista.
Folha - Por que um funcionário mentiria? Para lhe prejudicar, propositalmente?
ACM - Esse funcionário só pode ter sido arranjado por algum senador. Agora ele (o funcionário) jamais aparecerá, porque não vai querer que seja provado que é mentiroso. Não há funcionário nenhum que tenha tido lista. Isso é mentira deslavada de quem quer fugir da verdade do relatório do Banpará, que se locupletou com US$ 10 milhões.
Folha - Mas a própria empresa fabricante diz que é possível.
Correio Braziliense - Os técnicos da Unicamp também.
ACM - Se é possível violar o sistema, não sei, porque entendo muito pouco desse assunto. E tenho a hombridade de jamais pedir alguma coisa que não seja legal.
Correio Braziliense - Houve uma troca de empresas que operaram esse painel ...
ACM - Eu só vim a saber dessa troca de empresas recentemente, e o motivo que a diretora do Prodasen me deu é que retomava bastante esse assunto pelo mau serviço que a empresa vinha prestando. Então, como vinha prestando um mau serviço, foi feita uma concorrência, foi tornada pública pelo "Diário do Congresso", essa empresa disse que não foi avisada, anulou-se o edital para que ela entrasse, e ainda não foi decidida. Enquanto isso, ela contratou uma empresa que já trabalhava no Senado e que estava fazendo o serviço por um custo muito baixo, Panavídeo, se não me engano.
Correio Braziliense - Quando o sr. disse que sabia do voto da senadora Heloísa Helena (PT-AL)...
ACM - Não disse, você está se baseando em conversas que não foram dessa forma e que a senadora Heloísa Helena sabe que eu, da presidência do Senado, disse e a defendi quando surgiu uma nota no Ricardo Boechat (colunista do jornal "O Globo") de que ela havia votado com Luiz Estevão. Eu mostrei que era inviolável e que ela estava sendo vítima de alguma pessoa que a estivesse perseguindo. Ela xingou muito essa pessoa, mas eu não sei a quem se referia.
Folha - O ex-senador Luiz Estevão está querendo voltar (ao Congresso) devido a essas informações.
ACM - Como não foi violado, ele não voltará. Se fosse violado, ele poderia voltar, mas as pessoas que querem que ele volte vão perder tempo. São aquelas a quem ele sempre deu recursos e ajudou... Essas vão perder tempo porque não há violação.
Folha - O sr. está falando do atual presidente, Jader Barbalho?
ACM - Eu não estou me referindo a ninguém, mas eu garanto que não é um só.
Correio Braziliense - Por que o sr. só fez essas denúncias agora?
ACM - Foram feitas antes, muitas delas eu vou apresentar na carta ou duas que fiz ao presidente sobre esse assunto na reunião do meu partido, dia 7 ou 8.
Leia mais sobre a crise no governo
ACM promete exibir cartas com denúncias feitas a FHC
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da Folha de S.Paulo
O senador Antonio Carlos Magalhães (BA) disse que mostrará cartas com denúncias de corrupção no governo enviadas ao presidente Fernando Henrique Cardoso à cúpula de seu partido, o PFL, na reunião desta quinta-feira.
O PFL não endossou as críticas feitas por ACM desde que ele entrou em choque com o Palácio do Planalto, cujo estopim foi a vitória do peemedebista Jader Barbalho (PA) para suceder o senador baiano na presidência do Senado.
Desde seu rompimento com o governo, ACM tem afirmado que alertou o presidente sobre irregularidades no DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), vinculado ao ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (PMDB), seu desafeto.
Também citou a Sudam, órgão influenciado por Jader, a quem ontem acusou de ter "arranjado" os funcionários que disseram à Folha ter entregue cópias da lista secreta de votação da cassação do mandato do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF) a ACM. A oposição pede investigação sobre o caso.
Em entrevista concedida à Folha e ao jornal "Correio Braziliense" em São Paulo, ACM disse que vai encontrar meios, dentro do Congresso, de ver apuradas suas denúncias de corrupção no governo, inclusive a mais recente, de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira cobrou propina para ajudar a formar o consórcio Telemar na época da privatização do sistema Telebrás. Segundo ele, há pessoas que testemunharam uma conversa que compromete o ex-diretor.
O senador chegou a São Paulo às 21h45 de sábado, vindo de Miami (EUA), onde se preparou para a próxima batalha política.
Antes de embarcar, ACM disse à Folha, por telefone, que quem iria "atirar" era ele. No início da tarde de ontem, foi ao Incor, onde está internado em estado grave o governador licenciado Mário Covas.
Depois da rápida entrevista antes de almoçar em uma churrascaria na zona sul, ACM foi abraçado pelos clientes do restaurante e posou para fotos. A seguir, a íntegra da entrevista.
Folha - O sr. deu a entender, em entrevistas, que há um outro dossiê Caribe...
Antonio Carlos Magalhães - Eu não dei a entender. Eu disse que o dossiê Caribe, que me foi apresentado, não tinha veracidade (O chamado dossiê Caribe é um conjunto de papéis de autenticidade não comprovada que apontavam a existência de uma conta da cúpula tucana em paraíso fiscal). Por isso mesmo conversei com o presidente Fernando Henrique na ocasião, dizendo que tinha visto. Talvez tenha sido a primeira pessoa a comunicar a ele a situação e dito que achava que não tinha nada que levasse a creditar envolvimento. Até porque o (Mário) Covas jamais faria sociedade com ele e com outros. E ele também, evidentemente, não faria sociedade. De modo que, aquele dossiê, para mim... O que eu disse é que a imprensa, principalmente a Folha, está atrás de outro dossiê, nessa mesma área.
Folha - E a prova testemunhal do suposto envolvimento do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio com irregularidades? O sr. tem o testemunho de alguém ou o sr. tem alguém que vai testemunhar?
ACM - É uma prova testemunhal. As minhas afirmativas, quando as fizer, porque ainda não as fiz, serão todas com base em pessoas que participaram da conversa.
Folha - Há mais de uma pessoa?
ACM - Há.
Folha - Que conversa é essa?
ACM - Essa eu só poderei dar quando houver CPI.
Folha - E se não houver CPI?
ACM - Se não houver CPI, vamos procurar o meio adequado de fazê-lo, mas dentro do Parlamento.
Folha - O PT e o PPS estão juntando reportagens sobre a possibilidade de violação do painel eletrônico (após a cassação de Estevão), no processo que pede investigação...
ACM - Violação no painel não é possível. E mais do que isso, se fosse possível, jamais seria feita na minha presidência. Agora, quando acaba qualquer eleição, evidentemente as pessoas supõem quem votou em quem. E aí pode haver coisas certas e erradas.
Nessa, por exemplo, do Jader, houve coisas erradas, como o Roberto Freire (PPS-PE) violar o segredo do voto votando aberto, atrás da Mesa, na frente de todas as pessoas, e fazendo questão de fazer isso talvez até numa provocação para eu protestar e não deixar. Mas eu deixei, propositadamente, para que ele infringisse o Regimento, que obriga o voto secreto. Ele votou aberto. Ele é que é passível de pena.
Folha - A Folha apurou com dois funcionários que lhe foi entregue uma lista do Prodasen...
ACM - Desafio qualquer funcionário a ter entregue qualquer lista.
Folha - Por que um funcionário mentiria? Para lhe prejudicar, propositalmente?
ACM - Esse funcionário só pode ter sido arranjado por algum senador. Agora ele (o funcionário) jamais aparecerá, porque não vai querer que seja provado que é mentiroso. Não há funcionário nenhum que tenha tido lista. Isso é mentira deslavada de quem quer fugir da verdade do relatório do Banpará, que se locupletou com US$ 10 milhões.
Folha - Mas a própria empresa fabricante diz que é possível.
Correio Braziliense - Os técnicos da Unicamp também.
ACM - Se é possível violar o sistema, não sei, porque entendo muito pouco desse assunto. E tenho a hombridade de jamais pedir alguma coisa que não seja legal.
Correio Braziliense - Houve uma troca de empresas que operaram esse painel ...
ACM - Eu só vim a saber dessa troca de empresas recentemente, e o motivo que a diretora do Prodasen me deu é que retomava bastante esse assunto pelo mau serviço que a empresa vinha prestando. Então, como vinha prestando um mau serviço, foi feita uma concorrência, foi tornada pública pelo "Diário do Congresso", essa empresa disse que não foi avisada, anulou-se o edital para que ela entrasse, e ainda não foi decidida. Enquanto isso, ela contratou uma empresa que já trabalhava no Senado e que estava fazendo o serviço por um custo muito baixo, Panavídeo, se não me engano.
Correio Braziliense - Quando o sr. disse que sabia do voto da senadora Heloísa Helena (PT-AL)...
ACM - Não disse, você está se baseando em conversas que não foram dessa forma e que a senadora Heloísa Helena sabe que eu, da presidência do Senado, disse e a defendi quando surgiu uma nota no Ricardo Boechat (colunista do jornal "O Globo") de que ela havia votado com Luiz Estevão. Eu mostrei que era inviolável e que ela estava sendo vítima de alguma pessoa que a estivesse perseguindo. Ela xingou muito essa pessoa, mas eu não sei a quem se referia.
Folha - O ex-senador Luiz Estevão está querendo voltar (ao Congresso) devido a essas informações.
ACM - Como não foi violado, ele não voltará. Se fosse violado, ele poderia voltar, mas as pessoas que querem que ele volte vão perder tempo. São aquelas a quem ele sempre deu recursos e ajudou... Essas vão perder tempo porque não há violação.
Folha - O sr. está falando do atual presidente, Jader Barbalho?
ACM - Eu não estou me referindo a ninguém, mas eu garanto que não é um só.
Correio Braziliense - Por que o sr. só fez essas denúncias agora?
ACM - Foram feitas antes, muitas delas eu vou apresentar na carta ou duas que fiz ao presidente sobre esse assunto na reunião do meu partido, dia 7 ou 8.
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