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25/03/2001 - 09h36

Para 84%, Congresso deve aprovar CPI da corrupção

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JOSIAS DE SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Ao discar para deputados e senadores pedindo para que não assinassem o ofício de convocação da CPI da corrupção, Fernando Henrique Cardoso contrariou a vontade da esmagadora maioria da sociedade. Ouvidos pelo Datafolha, 84% dos brasileiros disseram ser a favor da CPI.

A pesquisa divulgada hoje traz outros números amargos para o presidente Fernando Henrique. Nada menos que 71% dos entrevistados acreditam que há corrupção no seu governo.

Pior: parte deles crê que o presidente da República tem alguma responsabilidade pelas malfeitorias. Para 31%, ele é muito responsável; para 49%, é um pouco responsável. Só 12% o isentam de culpa.

Não é só: 56% dos entrevistados avaliam que FHC não tem combatido a corrupção como deveria. Apenas o equivalente à terça parte da sociedade (35%) acha que o presidente oferece combate aos corruptos.

A pesquisa é nacional. O Datafolha foi às ruas de 127 municípios em todo o Brasil na última quarta-feira. Ouviram-se 2.841 pessoas. É o primeiro levantamento do gênero feito no país desde que o governo rompeu uma aliança com o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que já durava seis anos, desde o início do primeiro mandato de FHC.

Tiroteio

A idéia da CPI da corrupção nasceu do tiroteio que opôs ACM ao atual presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA). Chamaram-se mutuamente de "ladrão".

Vencido em sua cruzada para impedir que Jader o sucedesse na presidência do Congresso, ACM responsabilizou o presidente FHC pela derrota. E reforçou os ataques ao governo, acusando-o de corrupção.

Primeiro, o pefelista carregou nas tintas em relação a duas repartições: a Sudam, que vinha sendo chefiada por apadrinhados de Jader, e o DNER, sob os cuidados do ministro peemedebista Eliseu Padilha (Transportes).

Depois, à proporção que seus próprios pupilos foram sendo desalojados da máquina pública, o senador baiano foi mirando mais alto nos ataques.

Ele disse, por exemplo, que Ricardo Sérgio, ex-diretor do Banco do Brasil e conhecido angariador de fundos para campanhas tucanas, teria recebido propina para favorecer o consórcio Telemar, que participou do leilão de privatização da Telebrás.

De acordo com os números coletados pelo Datafolha, 55% dos brasileiros disseram ter tomado conhecimento das acusações feitas por ACM. Uma multidão que inclui os cidadãos que se consideram bem informados (9%), mais ou menos informados (33%) e mal informados (13%) sobre o assunto.
Na última quinta-feira, respirava-se uma atmosfera de pânico no Palácio do Planalto. Daí os telefonemas de FHC a deputados e senadores.

Apelo

Invocando a turbulência no cenário econômico, ele rogou por fidelidade. Pelo menos em dois casos não a obteve: os senadores José Fogaça (PMDB-RS) e José Alencar (PMDB-MG) assinaram o requerimento de convocação da CPI, a despeito do pedido feito pelo presidente.

O que levou desassossego ao Planalto foi um aviso de Jader. Em telefonema a FHC, o principal líder do PMDB e presidente do Senado disse que assinaria o pedido de CPI, preparado por um consórcio de legendas de oposição liderado pelo PT.

Envolto ele próprio num manto de acusações patrocinadas por seu rival, Jader sentia-se constrangido pelo fato de que ACM já havia rubricado o ofício que pedia a abertura da CPI.

Se não o imitasse no gesto, pareceria acovardado. "Minha assinatura é um imperativo moral", disse ele a FHC.

Seguindo ordem expressa do presidente FHC, o governo joga pesado contra a CPI. Os aliados são ameaçados, por exemplo, com o corte de verbas (cada parlamentar possui um lote de emendas orçamentárias que gostaria de ver desbloqueado) e de cargos na administração pública.

Mistério e cruzada

A oposição faz mistério quanto às assinaturas já coletadas. Avalia que, divulgando números e nomes, facilitaria a contrapressão por parte do governo.

Sabe-se que o pedido de CPI já foi endossado por pelo menos 22 senadores (a CPI só sai com 27). Na Câmara, onde a bruma é maior, os números variam de 128 a 141 (a oposição precisa de 171 assinaturas).

Nos subterrâneos, líderes oposicionistas trocam idéias acerca da conveniência de organizar uma cruzada de manifestações públicas pró-CPI.
Entre os que apóiam a idéia estão o governador Itamar Franco (MG) e o líder petista Luiz Inácio Lula da Silva. Para azar de FHC, a pesquisa Datafolha joga água nesse moinho.

 

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