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09/04/2001
-
08h49
CRISTINA GRILLO
da Folha de S.Paulo
A partir de hoje, dia em que completa 110 anos, o "Jornal do Brasil" inicia um processo de reformulação com um objetivo claro: recuperar o prestígio das décadas passadas. O projeto prevê mudanças editoriais e modernização tecnológica.
"Vou integrar o "JB" ao mundo virtual, investindo em equipamentos e em gente qualificada", diz o empresário Nelson Tanure, 49, atual controlador do jornal.
Na linha editorial, a proposta do jornalista Mario Sergio Conti, 46, que assume o cargo de diretor de redação, é fazer "um jornal menor, mas mais substancioso". Haverá uma redução no total de cadernos, reportagens mais profundas e textos mais elaborados.
A aposta de Nelson Tanure é alta. Reformulando o "JB", ele pretende tornar o veículo atrativo para novos investidores, principalmente grupos estrangeiros. Sua expectativa é de que, até o final do ano, seja aprovada emenda constitucional que permitirá a participação do capital estrangeiro em empresas de comunicação.
Tanure, que se tornou conhecido no meio empresarial por comprar empresas em estado pré-falimentar, saneá-las e depois vendê-las, não afasta a possibilidade de fazer o mesmo com o "JB".
"Meu projeto é reconstruir o "Jornal do Brasil", construir uma companhia de multimídia e, depois, atrair capitais, mas não só estrangeiros.
Embora eu tenha uma tradição de comprar e vender empresas e de não me apegar a elas, não estou só pensando no estrangeiro. A nova legislação vai beneficiar, e muito, os capitais nacionais", diz.
Pela Constituição, estrangeiros não podem investir em empresas jornalísticas, e a participação de pessoas jurídicas nacionais não pode exceder 30% do capital, sem direito a voto. O projeto que tramita na Câmara dos Deputados autoriza pessoas jurídicas constituídas no Brasil a ter empresas jornalísticas, e estrangeiras a comprar até 30% das ações com poder de voto nessas empresas.
Há dois meses, Tanure fechou um contrato com a família Nascimento Brito, proprietária do "Jornal do Brasil", pelo qual arrenda o título do jornal por um período de 60 anos, renováveis por mais 30, e as rádios Cidade e JB por um período de dez anos. Compra ainda a Agência JB e o JB Online.
Pagou R$ 70 milhões e criou uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Multimídia, da qual tem 77% do capital - os outros 23% pertencem a José Antônio do Nascimento Brito, 48, presidente do Conselho Editorial e um dos herdeiros do jornal.
"O que vamos fazer agora é cuidar bem da tradição e da história do jornal, que tem muito orgulho de seu passado", diz Brito.
A antiga empresa, a Jornal do Brasil S.A., ficou com o prédio sede, situado na zona portuária da cidade, e com uma dívida estimada em cerca de R$ 750 milhões -grande parte com o setor bancário e uma parcela de dívidas trabalhistas e previdenciárias.
O "velho 'JB'", que continua com a família Nascimento Brito, está em processo de adesão ao Refis (programa de financiamento de dívidas da Receita Federal) para pagamento da dívida que, avalia Tanure, é efetivamente de 10% a 15% do valor total.
"O restante são juros, multas, reflexos de nove planos econômicos, autos de infração sem consistência", diz Tanure.
Outra parte da dívida se liga a questões trabalhistas. Nos últimos anos, a empresa Jornal do Brasil S.A. não vinha fazendo depósitos do FGTS nem do INSS. O empresário ressalta que a dívida não é de sua empresa e que o passado "é grande e complexo", mas afirma que os compromissos trabalhistas serão honrados.
"Já demiti milhares de pessoas nas empresas em que trabalhei, e todos os direitos trabalhistas sempre foram honrados", diz.
Jornal chique
O empresário afirma que seu interesse em investir no mercado jornalístico está ligado ao surgimento de novas tecnologias e à possibilidade de abertura ao capital estrangeiro.
"Não basta ter uma empresa bem aceita para ser bem sucedido. É preciso contar com uma grande marca", diz Tanure, que diz esperar recuperar o prestígio da marca "JB" em cinco anos.
Hoje, o jornal vende em média 70 mil exemplares durante a semana e 105 mil aos domingos. A intenção é chegar aos 100 mil durante a semana e aos 140 mil aos domingos.
"Quero trazer de volta a criatividade, a audácia, o texto bem escrito e a limpeza gráfica do jornal, o que veio se perdendo nos últimos dez anos", diz Conti, ex-diretor de redação da revista "Veja", ex-repórter especial da Folha e autor de "Notícias do Planalto".
Na visão de Conti, menos é mais. Os vários cadernos diários deverão, ao longo dos próximos seis meses, ser condensados em apenas dois. No primeiro, o noticiário "quente": política, internacional, economia, cidades e esportes. No segundo, um Caderno B com espaço para moda, estilo, comportamento, saúde.
Um modelo, para Conti, é o "Herald Tribune". "É um jornal sintético, para a elite, muito bem escrito e bonito. Dá para tentar fazer parecido. Quero fazer um jornal chique, bacana", afirma.
As mudanças serão feitas gradualmente. "Tenho preocupação de não fazer nada brusco, porque o leitor vem sentindo várias perdas: perdeu o Veríssimo, o Xexéo (ambos agora estão em "O Globo"), o Tutty Vasques (na revista "Época"). Não quero que ache que está perdendo mais coisas."
"Jornal do Brasil" faz 110 anos e começa nova fase
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da Folha de S.Paulo
A partir de hoje, dia em que completa 110 anos, o "Jornal do Brasil" inicia um processo de reformulação com um objetivo claro: recuperar o prestígio das décadas passadas. O projeto prevê mudanças editoriais e modernização tecnológica.
"Vou integrar o "JB" ao mundo virtual, investindo em equipamentos e em gente qualificada", diz o empresário Nelson Tanure, 49, atual controlador do jornal.
Na linha editorial, a proposta do jornalista Mario Sergio Conti, 46, que assume o cargo de diretor de redação, é fazer "um jornal menor, mas mais substancioso". Haverá uma redução no total de cadernos, reportagens mais profundas e textos mais elaborados.
A aposta de Nelson Tanure é alta. Reformulando o "JB", ele pretende tornar o veículo atrativo para novos investidores, principalmente grupos estrangeiros. Sua expectativa é de que, até o final do ano, seja aprovada emenda constitucional que permitirá a participação do capital estrangeiro em empresas de comunicação.
Tanure, que se tornou conhecido no meio empresarial por comprar empresas em estado pré-falimentar, saneá-las e depois vendê-las, não afasta a possibilidade de fazer o mesmo com o "JB".
"Meu projeto é reconstruir o "Jornal do Brasil", construir uma companhia de multimídia e, depois, atrair capitais, mas não só estrangeiros.
Embora eu tenha uma tradição de comprar e vender empresas e de não me apegar a elas, não estou só pensando no estrangeiro. A nova legislação vai beneficiar, e muito, os capitais nacionais", diz.
Pela Constituição, estrangeiros não podem investir em empresas jornalísticas, e a participação de pessoas jurídicas nacionais não pode exceder 30% do capital, sem direito a voto. O projeto que tramita na Câmara dos Deputados autoriza pessoas jurídicas constituídas no Brasil a ter empresas jornalísticas, e estrangeiras a comprar até 30% das ações com poder de voto nessas empresas.
Há dois meses, Tanure fechou um contrato com a família Nascimento Brito, proprietária do "Jornal do Brasil", pelo qual arrenda o título do jornal por um período de 60 anos, renováveis por mais 30, e as rádios Cidade e JB por um período de dez anos. Compra ainda a Agência JB e o JB Online.
Pagou R$ 70 milhões e criou uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Multimídia, da qual tem 77% do capital - os outros 23% pertencem a José Antônio do Nascimento Brito, 48, presidente do Conselho Editorial e um dos herdeiros do jornal.
"O que vamos fazer agora é cuidar bem da tradição e da história do jornal, que tem muito orgulho de seu passado", diz Brito.
A antiga empresa, a Jornal do Brasil S.A., ficou com o prédio sede, situado na zona portuária da cidade, e com uma dívida estimada em cerca de R$ 750 milhões -grande parte com o setor bancário e uma parcela de dívidas trabalhistas e previdenciárias.
O "velho 'JB'", que continua com a família Nascimento Brito, está em processo de adesão ao Refis (programa de financiamento de dívidas da Receita Federal) para pagamento da dívida que, avalia Tanure, é efetivamente de 10% a 15% do valor total.
"O restante são juros, multas, reflexos de nove planos econômicos, autos de infração sem consistência", diz Tanure.
Outra parte da dívida se liga a questões trabalhistas. Nos últimos anos, a empresa Jornal do Brasil S.A. não vinha fazendo depósitos do FGTS nem do INSS. O empresário ressalta que a dívida não é de sua empresa e que o passado "é grande e complexo", mas afirma que os compromissos trabalhistas serão honrados.
"Já demiti milhares de pessoas nas empresas em que trabalhei, e todos os direitos trabalhistas sempre foram honrados", diz.
Jornal chique
O empresário afirma que seu interesse em investir no mercado jornalístico está ligado ao surgimento de novas tecnologias e à possibilidade de abertura ao capital estrangeiro.
"Não basta ter uma empresa bem aceita para ser bem sucedido. É preciso contar com uma grande marca", diz Tanure, que diz esperar recuperar o prestígio da marca "JB" em cinco anos.
Hoje, o jornal vende em média 70 mil exemplares durante a semana e 105 mil aos domingos. A intenção é chegar aos 100 mil durante a semana e aos 140 mil aos domingos.
"Quero trazer de volta a criatividade, a audácia, o texto bem escrito e a limpeza gráfica do jornal, o que veio se perdendo nos últimos dez anos", diz Conti, ex-diretor de redação da revista "Veja", ex-repórter especial da Folha e autor de "Notícias do Planalto".
Na visão de Conti, menos é mais. Os vários cadernos diários deverão, ao longo dos próximos seis meses, ser condensados em apenas dois. No primeiro, o noticiário "quente": política, internacional, economia, cidades e esportes. No segundo, um Caderno B com espaço para moda, estilo, comportamento, saúde.
Um modelo, para Conti, é o "Herald Tribune". "É um jornal sintético, para a elite, muito bem escrito e bonito. Dá para tentar fazer parecido. Quero fazer um jornal chique, bacana", afirma.
As mudanças serão feitas gradualmente. "Tenho preocupação de não fazer nada brusco, porque o leitor vem sentindo várias perdas: perdeu o Veríssimo, o Xexéo (ambos agora estão em "O Globo"), o Tutty Vasques (na revista "Época"). Não quero que ache que está perdendo mais coisas."
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