Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
20/05/2001 - 00h57

Era FHC ruma para final "melancólico", diz cientista político

Publicidade

PATRICIA ZORZAN
da Folha de S.Paulo

Professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, o cientista político Fábio Wanderley Reis afirma que a atual crise energética "é o que poderia acontecer de pior" com o governo Fernando Henrique Cardoso.

Prevendo um final "melancólico" para o segundo mandato de FHC, aposta ainda que eventuais apagões inviabilizarão uma candidatura tucana ao Planalto. "Se Serra é o mais viável, o PSDB está em dificuldades sérias. Porque claramente não há como dissociá-lo de maneira convincente do governo", declarou.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - Quem se beneficia das atuais dificuldades do governo?
Fábio Wanderley Reis
- Acho que o Itamar [Franco, governador de Minas Gerais] se beneficia de uma maneira especial porque ele tem se exposto muito explicitamente [contra] uma certa linha do governo FHC. Foi contra a privatização do setor elétrico e isso pode refluir em benefício dele.

Folha - E a impressão recorrente de que a oposição torce pelo "quanto pior melhor"?
Reis
- Acho que agora, quando os efeitos da crise e dos eventuais apagões ainda não se fizeram sentir, provavelmente isso é correto. Mas daqui a seis meses, se houver períodos longos com apagões, transtorno para a vida de todos, tarifas mais altas, vai haver um desgaste grande do governo e pode haver capitalização por parte desse pessoal que está denunciando com mais veemência.

Folha - Fala-se no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como uma alternativa tucana à Presidência nesse caso. Distante de FHC, ele ainda teria a aura ética herdada do governador Mário Covas.
Reis
- Isso é pertinente, mas há o problema importante de que a figura do Alckmin não é nacional. É preciso vender o peixe Geraldo Alckmin. E isso é possível. Hoje acho que o ministro José Serra [Saúde] é o nome mais viável dentro do PSDB, mas ele sai muito respingado dessa crise toda. Por isso, se ele é o mais viável, o PSDB está em dificuldades sérias. Porque claramente não há como dissociá-lo de maneira convincente do governo. Afinal, ele é parte do governo. O que vier pela frente vai atingir o Serra.

Folha - O presidente não costuma responder às críticas de adversários. Apesar disso, fez questão de dizer, na semana passada, que Lula era leviano e que não se credenciava à Presidência. Isso demonstra perda de controle?
Reis
- Simplesmente o presidente está sendo atingido em um ponto sensível. A reação ao Lula teve claramente a ver com a atuação do governo com relação à CPI [da corrupção], em que havia a acusação forte, baseada em indícios que são convincentes aos olhos da população, de que o governo se empenhou em impedir a apuração da corrupção. Tocaram em um ponto fraco dele e ele reagiu, manifestado-se para neutralizar a leitura negativa passada pelos órgãos de imprensa.

Folha - É possível neutralizar a imagem negativa?
Reis
- Tenho dúvidas. Independentemente dos aspectos estritamente legais, de até que ponto a liberação de verbas pode ser questionada, precisamos saber se isso é visto pelo eleitorado como convincente. Tenho a impressão de que a imagem que passa é negativa. É importante ter em conta também que as pesquisas mostravam que a maioria da população queria a apuração. De repente o governo inviabiliza a CPI.

Folha - E a crise energética surge para piorar o atual quadro.
Reis
- É o que poderia acontecer de pior. Isso se vier a assumir a cara que aparentemente vai ter de assumir, que é a cara dos cortes [de energia], dos apagões frequentes. Aí o desgaste para o governo vai ser fatal. Seguramente, se isso acontece dessa forma, o governo estaria caminhando para um final melancólico. E, com toda a probabilidade, isso inviabilizará seu sucessor.

Folha - FHC pode reverter isso?
Reis
- O próprio presidente costuma dizer que Deus ajuda mais a uns do que a outros. Diz isso referindo-se a si mesmo. Sem dúvida ele tem sido muito ajudado por Deus, inclusive no fato de ele virar presidente em um momento em que tudo indicava que ele não teria muita viabilidade nem sequer para voltar ao Senado. Isso pode ser lido com ajuda divina. Mas me parece muito difícil [agora]. Não há como nem sequer Deus ajudar... Nem as chuvas de são Pedro... O que quero dizer é que é meio tarde. Não vejo como o governo poderia cancelar o efeito negativo da crise energética, sobretudo culminando com o desgaste que já tem havido. E a eleição já está aí.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página