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19/08/2001 - 03h19

Historiador diz que FHC ignora os negros

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ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro

O historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor-catedrático de história do Brasil na Universidade de Paris 4 (Sorbonne), na França, criticou a política de Fernando Henrique Cardoso para os negros, em entrevista à Folha.

Para Alencastro, "um dos maiores fiascos do governo FHC" é a falta de políticas efetivas para a população negra. "Não avançou nada nos últimos anos."

Ele ressalva que, como acadêmico, Fernando Henrique foi um dos intelectuais mais sensíveis ao tema e dos mais respeitados por expor a desigualdade racial na sociedade brasileira. O presidente já se referiu a si mesmo como "mulatinho" e "com um pé na cozinha", para dizer que tinha ascendência negra.

"De que adianta a bagagem universitária se as análises e o conhecimento adquirido sobre a sociedade brasileira pelo sociólogo FHC não se transformam em atos do presidente FHC?", indaga Alencastro.

O historiador afirma que o presidente perdeu boas oportunidades de, no seu governo, ajudar a mudar a imagem do negro no país: "Por que ele não escolheu Milton Santos, que era negro e um dos maiores geógrafos que o país já teve, como presidente do IBGE?", pergunta Alencastro.

"O ministro negro do presidente foi o Pelé, e logo como ministro dos Esportes, o que reforça o estereótipo de que o negro só ascende socialmente quando é jogador de futebol e de que só entende de jogo de futebol", disse.

O historiador afirma que a escolha do porta-voz da Presidência poderia ser a favor de um negro.

"Ele escolheu um porta-voz como o Sérgio Amaral, que, quando falava com a imprensa, parecia um representante do império britânico falando no Quênia."

Alencastro afirma que alguns gestos do presidente, como a visita a locais e pessoas atingidas por tragédias, teriam efeito exemplar para o país.

"O presidente da República e sua esposa nunca foram ao enterro de uma criança negra morta por causa do abuso da força policial. Isso teria efeito simbólico importante", declara.

Na opinião do historiador, FHC "fez uma aposta no capitalismo que poucos dirigentes do mundo fizeram, achando que os capitais estrangeiros iriam afluir e deslanchar o crescimento econômico que resolveria sozinho os problemas de desigualdade social".

Alencastro esteve no Rio de Janeiro para receber na última quinta-feira, na Academia Brasileira de Letras, o prêmio José Ermírio de Moraes pelo livro "O Trato dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul", publicado pela Cia. das Letras e eleito como a obra de maior contribuição para a cultura brasileira em 2000.

Estudos
Alencastro já foi professor da Unicamp e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). Suas pesquisas englobam o período colonial e nacional da história do Brasil.

Sua experiência como professor no Brasil e no exterior confirmou o que já sabia sobre a desigualdade do país. "Na Sorbonne, eu tenho mais estudantes negros nascidos na França, do que tinha alunos negros brasileiros quando dava aula na Unicamp. Tomando em conta que a proporção de negros é muito no maior no Brasil, isso é inaceitável", afirma.

Sobre as declarações do historiador Luiz Felipe de Alencastro, a assessoria do presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em Santiago, que não tinha "nada a declarar a respeito".


 

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