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03/11/2001
-
07h26
RAQUEL ULHÔA
da Folha de S.Paulo, em Brasília
A deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS) decidiu suspender a publicação do último volume da coleção "Sociedade e História do Brasil", lançada no ano passado pelo órgão de estudos do PSDB, o Instituto Teotonio Vilela.
O fascículo 15 tratava da década de 90, do governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) à chamada "era FHC". As cerca de 30 páginas foram escritas pelo historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, responsável pelo texto de toda a coleção.
A deputada tucana, presidente do Instituto Teotonio Vilela, alegou que o governo de Fernando Henrique Cardoso não pode ser objeto de análise histórica, porque ainda não terminou. "A razão não é política. É técnica. É preciso terminar o período para falar sobre ele (...) Tenho esse perfeccionismo acadêmico", disse.
Lançada na gestão do senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), antecessor de Yeda na presidência do instituto, a coleção gerou polêmica desde o primeiro fascículo, "Independência do Brasil", no qual a Inconfidência Mineira foi retratada como uma rebelião arquitetada pela elite, com dificuldade de pagar impostos à Coroa.
O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi tratado como um herói construído, que não teria sido, de fato, líder do movimento rebelde. O conteúdo do fascículo foi criticado pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB). Recebeu uma nota de repúdio da Assembléia Legislativa do Estado e críticas do atual presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG).
Regime militar
O fascículo 13, intitulado "A Ditadura Militar", sobre o período de 1964 a 1979, foi igualmente polêmico. A deputada tucana afirmou ter submetido os originais de Marco Villa a cinco historiadores, cujos nomes ela não revelou, e disse que foi "quase unânime" a opinião de que a visão sobre os fatos é "raivosa", "antiga" e "do tempo da luta contra a ditadura".
Ainda assim, a publicação foi autorizada por Yeda, segundo ela, por se tratar de um período da história já terminado.
O senador Lúcio Alcântara, que escolheu o historiador, disse que não cabia a ele censurar os textos e que é uma "bobagem" esperar
unanimidade na história.
"O propósito da coleção era se transformar em um instrumento de reflexão crítica sobre a história do Brasil", afirmou Alcântara.
O fascículo 13 começa com uma frase do compositor Chico Buarque de Holanda -"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia"- e termina com um trecho da música "Disparada", de Vandré e Théo de Barros.
No texto, o historiador estima em cerca de 20 mil os brasileiros presos e aponta o "medo da implantação das reformas, entre elas a reforma agrária" como a principal razão do golpe militar.
Villa cita uma avaliação do sociólogo Fernando Henrique Cardoso sobre as consequências do Movimento Militar de 1964 na mobilização popular. "A aceitação pela burguesia, no primeiro momento, do aumento da interferência militar (...) custou, nos momentos seguintes, a impossibilidade de retomada do controle civil do processo político (...)", diz um trecho do pensamento de Fernando Henrique Cardoso.
O embaixador José Osvaldo de Meira Penna escreveu uma carta ao órgão de estudos do PSDB classificando o documento de "panfletário".
O fascículo também foi atacado em um artigo do Grupo Guararapes, formado por militares da reserva, que classificou seu conteúdo como "mentiroso", "leviano" e irresponsável". "Revolução não se faz com bombons. Foi feita uma limpeza para a defesa do Brasil. Os militares pagaram o maior preço", afirma o artigo.
A coleção "Sociedade e História do Brasil" foi distribuída em escolas públicas, bibliotecas e entidades de classe. Alguns fascículos publicados já estão esgotados.
O Instituto Teotonio Vilela funciona no Senado Federal (Anexo I, segundo andar).
PSDB suspende livro sobre era FHC
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da Folha de S.Paulo, em Brasília
A deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS) decidiu suspender a publicação do último volume da coleção "Sociedade e História do Brasil", lançada no ano passado pelo órgão de estudos do PSDB, o Instituto Teotonio Vilela.
O fascículo 15 tratava da década de 90, do governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) à chamada "era FHC". As cerca de 30 páginas foram escritas pelo historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, responsável pelo texto de toda a coleção.
A deputada tucana, presidente do Instituto Teotonio Vilela, alegou que o governo de Fernando Henrique Cardoso não pode ser objeto de análise histórica, porque ainda não terminou. "A razão não é política. É técnica. É preciso terminar o período para falar sobre ele (...) Tenho esse perfeccionismo acadêmico", disse.
Lançada na gestão do senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), antecessor de Yeda na presidência do instituto, a coleção gerou polêmica desde o primeiro fascículo, "Independência do Brasil", no qual a Inconfidência Mineira foi retratada como uma rebelião arquitetada pela elite, com dificuldade de pagar impostos à Coroa.
O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi tratado como um herói construído, que não teria sido, de fato, líder do movimento rebelde. O conteúdo do fascículo foi criticado pelo governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB). Recebeu uma nota de repúdio da Assembléia Legislativa do Estado e críticas do atual presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (PSDB-MG).
Regime militar
O fascículo 13, intitulado "A Ditadura Militar", sobre o período de 1964 a 1979, foi igualmente polêmico. A deputada tucana afirmou ter submetido os originais de Marco Villa a cinco historiadores, cujos nomes ela não revelou, e disse que foi "quase unânime" a opinião de que a visão sobre os fatos é "raivosa", "antiga" e "do tempo da luta contra a ditadura".
Ainda assim, a publicação foi autorizada por Yeda, segundo ela, por se tratar de um período da história já terminado.
O senador Lúcio Alcântara, que escolheu o historiador, disse que não cabia a ele censurar os textos e que é uma "bobagem" esperar
unanimidade na história.
"O propósito da coleção era se transformar em um instrumento de reflexão crítica sobre a história do Brasil", afirmou Alcântara.
O fascículo 13 começa com uma frase do compositor Chico Buarque de Holanda -"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia"- e termina com um trecho da música "Disparada", de Vandré e Théo de Barros.
No texto, o historiador estima em cerca de 20 mil os brasileiros presos e aponta o "medo da implantação das reformas, entre elas a reforma agrária" como a principal razão do golpe militar.
Villa cita uma avaliação do sociólogo Fernando Henrique Cardoso sobre as consequências do Movimento Militar de 1964 na mobilização popular. "A aceitação pela burguesia, no primeiro momento, do aumento da interferência militar (...) custou, nos momentos seguintes, a impossibilidade de retomada do controle civil do processo político (...)", diz um trecho do pensamento de Fernando Henrique Cardoso.
O embaixador José Osvaldo de Meira Penna escreveu uma carta ao órgão de estudos do PSDB classificando o documento de "panfletário".
O fascículo também foi atacado em um artigo do Grupo Guararapes, formado por militares da reserva, que classificou seu conteúdo como "mentiroso", "leviano" e irresponsável". "Revolução não se faz com bombons. Foi feita uma limpeza para a defesa do Brasil. Os militares pagaram o maior preço", afirma o artigo.
A coleção "Sociedade e História do Brasil" foi distribuída em escolas públicas, bibliotecas e entidades de classe. Alguns fascículos publicados já estão esgotados.
O Instituto Teotonio Vilela funciona no Senado Federal (Anexo I, segundo andar).
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