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12/08/2002 - 19h44

Leia a 3ª parte da sabatina em que Lula responde à platéia

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da Folha Online

Abaixo, a parte da sabatina do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva responde às perguntas da platéia que esteve presente no Shopping Higienópolis no primeiro evento do ciclo "Candidatos na Folha". A séria continua amanhã (com Ciro Gomes), na quinta (com Anthony Garotinho) e na sexta (com José Serra).
Além das perguntas da platéia, Lula responde também questões levantadas por Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, e pelos colunistas do jornal Clóvis Rossi, Luís Nassif e Gilberto Dimenstein.

Luís Nassif: Lula, quando você fala em revolução tecnológica, uma das características da revolução tecnológica é a flexibilização do trabalho, mesmo porque tem profissões que surgem em determinados períodos da vida da empresa depois desaparecem. Qual é a sua visão sobre o flexibilização da legislação trabalhista?
Lula: Veja, eu acho que nós precisamos no Brasil é garantir o direito das pessoas terem emprego formais com carteira profissional assinada porque elas se tornam mais cidadãs ou não. Em determinadas funções, você pode ter profissionais com uma jornada de trabalho e com uma relação patrão-empregado tão flexibilizada, pode até trabalhar em casa, sem ter que prestar contas ao sindicato.

Agora, a regra é que os trabalhadores têm que ser contratados e ter carteira profissional assinada e ter direito. Porque você, o que você pode é rediscutir esses direitos. Eu fui na cooperativa e lá eu recebo uma carta dos trabalhadores, ex metalúrgicos, que agora são metalúrgicos cooperados, portanto são patrão deles mesmos, exigindo que a gente faça uma mudança nas obrigações sociais que as cooperativas têm que dar porque eles não podem ser tratados como se fosse uma empresa. Então nós vamos discutir isso. Nós vamos discutir com o maior carinho e vamos adequar a realidade.

Clóvis Rossi: Lula, eu vou pedir para você agora o máximo de brevidade. Tem todo esse monte de perguntas aqui e a gente tem pouquíssimo tempo. Algumas perguntas são absolutamente simples, como essa do Leandro Henrique Ramos. "Como você pretende reduzir a taxa de juros e evitar a volta da inflação", você vê que é bem simples.
Lula: Olha eu estou pedindo para o José Dirceu localizar o Mandraque e se o Mandraque aparecer até uma coisa aqui deve ter outros economistas, sabe o seguinte, nós estamos num círculo complicado que é o seguinte, para reduzir a taxa de juros você precisa fazer a economia voltar a crescer e ao mesmo tempo precisa aumentar as exportações. Acontece que para a economia crescer e aumentar as exportações, sabe, tem que reduzir a taxa de juros. A taxa de juros só vai ser reduzida se crescer. Qual é o impasse?

Nós precisamos acreditar na capacidade de crescimento da nossa economia. Não é incompatível você acreditar no mercado interno brasileiro, ao mesmo tempo que você tem uma política mais agressiva de exportação, utilizar melhor os recursos que a união tem, seja dinheiro do fundo de garantia, dinheiro do FAT, dinheiro do BNDES, dinheiro do Banco do Brasil, dinheiro da Caixa Econômica, dinheiro do orçamento, sabe, dinheiro que nós esperamos que venha para cá, dinheiro que nós vamos fazer parceria, e fazer com que todos esses recursos sejam canalizados para investimentos que possam garantir a volta do crescimento da economia.

Veja, eu acho que tem uma coisa que é o seguinte: o Estado brasileiro às vezes age equivocadamente, ou seja, muitas vezes um pequeno produtor que poderia gerar 5 ou 6 empregos numa comunidade às custas de R$ 6 ou 7 mil por emprego, não consegue R$ 30 mil do Banco do Brasil.

Entretanto, vem uma multinacional e consegue R$ 800 milhões, R$ 900 milhões para gerar uma merrequinha de empregos. Então eu acho que é preciso que tenha uma disposição política da gente utilizar melhor os recursos públicos existentes no país.

Clóvis Rossi: Lula, pergunta o Lucas, "Como o senhor vê a ação da Organização Mundial do Comércio com relação aos subsídios dados a Embraer. A decisão da OMC foi contra os subsídios que o governo brasileiro estava dando e obrigou o governo a mudar um pouco as políticas de subsídios, embora posteriormente tenha condenado o Canadá.
Luís Nassif: Há um ponto que gerou controvérsia foi a declaração da França a favor do subsídio aos agricultores brasileiros.
Lula: Deu muito mais controvérsias o que foi escrito do que eu falei, você Rossi, assina embaixo.
Clóvis Rossi: Esse eu assino mesmo. Estou passando cheque em branco.
Lula: A Organização Mundial de Comércio é um organismo multilateral que teoricamente garante a todos os países que tenham a mesma condição de tratamento lá. Obviamente que sempre tem uns que podem mais e outros que podem menos. Por exemplo, o Pelé podia mais no time dos Santos. O Brasil joga mal. E por que é que o Brasil joga mal?

Veja, o Brasil tem a soja que está pendurada lá há vários meses, o café, o algodão, e o Brasil, embora ele tenha direito de brigar e ele poderia até pelo acordo do GAT, a colocar tarifas internas até 35%, o Brasil mantém uma taxa média de 3,5% por covardia, por medo de retaliação, quando o Canadá não brinca com o Brasil, os Estados Unidos não brincam com o Brasil. Na medida que você tem os Estados Unidos querendo apressar a questão da Alca, sabe, aprovando US$ 196 bilhões durante 8 anos para defender os seus produtos, onde o Brasil é competitivo, quando você vê os Estados Unidos elevar para 340 os produtos considerados sensíveis, ou seja, também produtos que o Brasil é competitivo, quando você vê a União Européia proteger a sua agricultura, o que nós temos que fazer? Ou nós vamos brigar com eles de corpo e alma na OMC para que eles retirem os subsídios para que nós sejamos mais competitivos ou nós então temos que pensar a subsidiar a agricultura para ser competitiva não tem outro jeito.

Luís Nassif: Seu papel não seria representar o agricultor brasileiro e expor para eles o mal que causam ao Brasil?
Lula: Temos, você tem que concluir que é preciso convencimento em determinado momento. Num outro momento na OMC você pode entrar com um processo.

Luís Nassif: Não, eu digo naquela sua declaração lá?
Lula: Não, o que eu disse lá foi o seguinte: por que os franceses protegem a sua agricultura? Porque para os franceses a agricultura não é apenas uma fábrica de produzir alimento. Eu falei alguns valores, falei primeiro: ocupação soberana do solo, segundo, geração de emprego , terceiro, melhoria da qualidade do alimento...

Luís Nassif: Você fortaleceu os protestos dos acionistas.
Lula: Não fui fortalecer, o que eu acho que é o Brasil só copia lá de fora as coisas ruins, as coisas boas nós não copiamos. Por que, aqui no Brasil prevalece a mentalidade do governo de que: olha, nós preferimos uma agricultura totalmente mecanizada para a exportação e o Brasil vai ter um dia apenas 4% da população no campo. Ora, quando deveria ser o contrário.

O governo brasileiro deveria dar graças a Deus da gente ainda ter 20 % da população no campo porque não existe condições de viver dignamente nas grandes cidades desse país, nem educação, nem saneamento básico, nem saúde, nem nada. Então, o que eu acho que nós temos que ter uma política aprimorada, sabe, para aperfeiçoar a agricultura familiar e ela não é incompatível com a agricultura empresarial, as duas coisas podem viver, elas se completam.

Luís Nassif: Se o Brasil é superavitário em US$ 200 bilhões na agricultura brasileira, é um problema que não temos.
Lula: É superavitário em um determinado momento, mas nós somos vítimas da nossa própria capacidade produtiva e as decisões não são aqui dentro. O Brasil este ano produziu a maior safra de café de toda a sua história, 45 milhões de sacas de café. Entretanto, o preço da saca caiu para US$ 35, ou seja, quase que não cobre o custo do produtor de café.
O que acontece na verdade? Eles agora conseguiram até um recurso do governo para que o governo mantenha o estoque do café aqui até consumirem um pouco de café no mundo e então o Brasil voltar a ter um preço melhor. O que é grave nisso? O que é grave é o seguinte, embora o Brasil seja o maior produtor de café do mundo, a Alemanha que não produz um único grão de café é o maior exportador de café solúvel do mundo. Então um país inteligente, com um governo inteligente, formado não sei aonde, ele poderia acreditar que nós precisamos colocar valor agregado no nosso produto. (aplausos).
O Brasil é que poderia estar produzindo café solúvel disputando no mercado internacional, aí a gente ganharia dinheiro, não ficar um exportador de produtos 'in natura', acho que precisamos fazer o país dar um salto de qualidade e eu acho que é isso que vamos fazer.
Clóvis Rossi: Lula, pergunta da Marina Silveira Garcia. Onde está a Marina? "O senhor criticou o candidato que venceu nas eleições de 89 alegando que ele não possuía experiência. O senhor também não ocupou nenhum grande cargo no Executivo de que modo o senhor se preparou, nestes anos, então para ser um bom presidente?
Lula: Eu não, nem utilizei a palavra experiência, o que eu disse é que eles diziam que tinha experiência porque tinha sido prefeito. O que eu disse é que o Collor foi 2 anos presidente do time de Alagoas, depois ele foi 1 ano e 4 meses prefeito de Maceió, depois 1 ano e pouco governador do Estado. Não exerceu nenhum mandato na verdade. Eu apenas disse que ele falava que tinha experiência, mas que não tinha experiência.
E eu me contrapus com a experiência do Mandela, ou seja, o Mandela ficou 28 anos preso, saiu sem ter nenhuma experiência de administrar nem o gueto em Johanesburgo e se transforma no maior estadista da África do Sul, por quê? Porque a competência do Mandela era porque ele era um ser eminentemente político. É por isso que ele se transformou no estadista que ele se transformou porque ele sabia tomar as decisões na hora certa, porque ele sabia montar a equipe.
Eu fiz uma coisa na minha vida que foi o seguinte, eu duvido que na história do Brasil, só para mostrar aqui, eu duvido que na história do Brasil algum partido político, em algum momento, eu estou falando no meio de muita gente importante, eu duvido que um partido político, um candidato a alguma coisa nesse país, em algum momento da história republicana do Brasil tenha produzido a quantidade de coisas que nós produzimos para esse país.
E nós produzimos através do que? De chamar intelectuais dos mais extraordinários do Brasil, de especialistas, de sindicalistas, sabe, para fazer projetos alternativos para o Brasil, pessoas trabalhando como voluntariado, e eu coordenava isso com o maior prazer e com o maior orgulho. É por isso que nós, sabe, hoje estamos disputando uma eleição.
Cada lugar que eu vou puxo um programa de governo, que é para ler para nunca mais duvidar do PT. Eu acho que deve ter gente muito mais preparada para ser presidente da República, quem sabe aqui nesse público, quem sabe na sociedade brasileira, o que eu digo é o seguinte, se as pessoas capazes não se colocarem para ser candidato nós vamos nos colocando. (aplausos).
Então um político perfeito está dentro de cada um de nós.
Basta que a gente exercite esse dom político. Ficar quieto se omitindo não dá certo, gente.
É hora de participação, o Brasil espera que todos nós participemos com muita força nessa campanha política para que a gente possa arrumar a situação do nosso querido país.

Leia as íntegras:
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