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13/08/2002 - 15h36

Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

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da Folha Online

Leia abaixo a íntegra da apresentação do candidato Ciro Gomes (PPS), que está sendo sabatinado hoje por jornalistas e leitores da Folha. O evento faz parte do ciclo chamado "Candidatos na Folha", que ouvirá esta semana os quatro candidatos à Presidência mais bem colocados nas pesquisas.

Luiz Inácio Lula da Silva foi sabatinado ontem. Anthony Garotinho será ouvido na quinta-feira. Na sexta será a vez de José Serra.

Participam da sabatina, que acontece no Teatro Folha, em São Paulo, Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, e o diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor Econômico", Carlos Eduardo Lins da Silva.

Clóvis Rossi: Bom, boa tarde a todos. Eu sou o Clóvis Rossi, repórter, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo e estou fazendo um bico não remunerado como moderador da segunda sabatina da Folha com os candidatos à Presidência da República. Eu combinei com ele lá em cima que vou chamá-lo de você, que soaria falso, depois de tratá-lo como você durante os 20 anos, além do que eu sou bem mais velho do que ele. Queria agradecer acima de tudo a presença dos leitores. E apresentar os entrevistados, apesar de achar que seja desnecessário. Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha de S.Paulo, Carlos Eduardo Lins da Silva, Gilberto Dimenstein, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo.
Os eventos da sabatina dos candidatos prosseguem na quinta-feira, ou seja, depois de amanhã, com o candidato Anthony Garotinho, também às 15h, e na sexta-feira com o candidato José Serra, igualmente às 15h. Na semana seguinte serão os candidatos ao governo de São Paulo: na segunda-feira, Fernando Morais; na terça-feira, Antônio Cabreira; na quarta, Geraldo Alckmin; na quinta-feira, Paulo Maluf; e na sexta-feira, José Genoino. Todos às 15h. Para participar dos próximos eventos é só ligar para o 3224-7624, de segunda à sexta-feira, das 10 às 18 horas. O candidato terá 10 minutos para a sua apresentação inicial, nós quatro faremos perguntas pelos 50 minutos seguintes e não há prazo para perguntar ou prazo para responder. O candidato será, com a devida vênia, interrompido por contraperguntas ou reperguntas. Peço que seja breve o possível para dar mais tempo de pergunta para os leitores que são o eixo dessa programação. Eu peço aos interessados em fazer perguntas que encaminhem por escrito, no bloco de anotações, com o nome completo, telefone, e-mail e profissão. Não se trata de vigilância sobre o leitor, mas como em geral não é possível fazer todas as perguntas, as perguntas não feitas serão encaminhadas ao candidato para que ele, eventualmente, responda diretamente aos leitores. Na hora em que eu for fazer a pergunta eu vou ler o nome do leitor e pedir a ele que se identifique. De novo não se trata de grampo fotográfico, mas apenas de eventual uso na edição de amanhã na Folha, como foi feita na edição de hoje. Acho que é tudo, agora podemos começar diretamente com os 10 minutos para apresentação inicial do candidato Ciro Gomes.


Ciro Gomes: Boa tarde a todos do auditório, boa tarde aos jornalistas da Folha de S.Paulo, do jornal Valor, eu quero agradecer o privilégio que a Folha me dá de apresentar aqui o que nós estamos pensando, propondo, discutindo e refletindo sobre o Brasil. Quero saudar no auditório os companheiros da Frente Trabalhista. Não podendo mencionar o nome de todos, saúdo o nobre candidato a governador, Antônio Cabrera, e Paulinho, o nosso vice, que está conosco aqui. Enfim, ofícios da minha caminhada que vem de muita experiência. Eu fui deputado duas vezes, fui prefeito de uma capital, fui governador de um Estado muito pobre, fui ministro da Fazenda em uma fase muito fecunda, muito crítica, sob a administração de Itamar Franco, de consolidação do Plano Real, fui candidato a Presidente da República em 98 e tenho esses anos todos caminhado pelo Brasil e olhado a contradição pelo país afora, 33 milhões de pessoas passando fome, 50 milhões de pobres, ao lado de 90 milhões de terras férteis desocupadas, um quinto da água potável do planeta, auto-suficiência em petróleo, enfim, uma contradição que só se explica, na minha opinião, pelo fato de que o nosso modelo de desenvolvimento está errado, nossas instituições de economia política estão erradas, a forma de inserir o Brasil no mundo está errada. E a evidência disso vem de alguns dados concretos: o Brasil está com a menor taxa de crescimento dos últimos 50 anos, estamos com o maior volume de desempregados (passa de 11 milhões a quantidade de desempregados no país), a massa salarial encolheu nos últimos anos mais de 20%. Quando a economia ganha produtividade dando margem para que os salários se expandam sem o efeito inflacionário. Os salários no Brasil estão encolhendo. Isso explode no drama social, cujo reflexo mais assustador literalmente é a morte de uma criança, Tainá, aqui em São Paulo, como símbolo do absoluto colapso do aparelho de segurança do estado, do absoluto estresse em que está a sociedade brasileira conduzida a conviver com a violência, com as epidemias, com uma educação pública. Enfim, há um punhado de coisas que põem, a meu juízo, a sociedade brasileira na oposição. Porém a sociedade brasileira, me parece, não confia que a oposição possa se bastar apenas em falar mal das coisas, não faltam argumentos, não faltam razões, não faltam evidências para que a gente aponte as injustiças, os malfeitos, até porque por cima de todos esses números há uma inconseqüência dramática marcada pela promessa, pela demagogia, pela simplificação de problemas que são complexos, quando não pela corrupção premiada pela impunidade. Por isso, nós resolvemos, na Frente Trabalhista, tentar fundar um caminho de oposição que fosse diferente da oposição tradicional para a qual ia a crítica da sociedade brasileira. E essa oposição, para além da crítica, apresenta um projeto nacional de desenvolvimento, com começo, meio e fim. Dá o rosto para bater porque é muito constrangedor, em certo momento do debate, você apresentar propostas que só se evidenciarão se tiverem a oportunidade de ser postas em prática, maçantes todo mundo pode criticar, todo mundo pode dizer que é difícil, que não tem precedentes, que é inviável, mas nós fizemos essa opção. Nós temos um projeto que tem basicamente quatro grandes blocos de tarefas. O primeiro bloco de tarefas é um assunto de baixa tradição no debate popular, mas tenta introduzir na discussão uma resposta para uma pergunta que deveria ser feita a todos candidatos: de onde vem o dinheiro para sustentar o desenvolvimento, melhorar a educação, saúde, segurança, infra-estrutura colapsada do país. Aqui estão caminhos de reforma tributária, reforma previdenciária, superação do déficit externo, manejo mais austero das dívidas do país. Para o segundo bloco de tarefas nós propomos um conjunto de novas instituições que ataquem o modelo central e não lateral como política social compensatória. Virou moda e, lamentavelmente, no discurso de um certo setor da esquerda brasileira, a questão do enfrentamento da distribuição de renda mais perversa do mundo entre as economias organizadas, pelo menos, que é a questão brasileira. Trata-se de uma política articulada de emprego, de ampliar a participação dos salários na renda nacional, trata-se de uma reforma agrária moderna, casada com uma política agrícola, e trata-se aqui, também nesse capítulo, de entender que o Brasil precisa, definitivamente, transformar em gestos práticos o incremento do gasto por aluno/ano, o investimento em educação numa escola pública profundamente diferente da média que temos. O terceiro bloco de tarefas é reafirmar a autodeterminação e a soberania brasileiras não para excluir o Brasil da sua integração internacional, que nós achamos que tem de participar nos fluxos comerciais, de poupança, tecnológicos, dos grandes valores de sustentação do meio ambiente, de defesa dos direitos humanos, da cláusula democrática, mas ferramentas que a perfeita erosão neoliberal, prefiro eu, praticamente marginalizou na própria discussão. Coisas práticas: política comercial de comércio exterior, política agrícola, política de propriedade intelectual, compras governamentais, que são coisas práticas que eu quero, ao longo da discussão, especializar. E o quarto e último bloco de tarefas deriva de novo da minha experiência da compreensão de que salvadores da pátria não existem. Lança-se muitas vezes contra mim a suspeição de antidemocrático. A Folha, então, é campeã em fazer isso sem sustentação prática, mas isso não se guarda, itens como a minha biografia. Eu fui deputado duas vezes, como prefeito manejei uma maioria na Câmara, como governador manejei uma maioria esmagadora na Assembléia Legislativa, como ministro da Fazenda não tive nenhum problema também na relação com o Congresso. Mas eu acredito que é fundamental que o Brasil perfeito suas instituições políticas para que a política, ela mesmo como linguagem volte a ter a confinça perdida pela sociedade. Por quê? Porque tudo o que tem de ser feito é possível, vai ferir interesses, em favor de muitos que nem sempre estão organizados, informados, militantes. Isso a política, ação coletiva é que tem que fazer. É um conjunto de providências práticas que começa com financiamento público de campanhas e avança até a direção de que nós possamos por em prática o que já está escrito na Constituição Federal Brasileira como um de seus princípios fundamentais, está dito lá na Constituição brasileira que a democracia brasileira se afirma pela forma representativa e/ou pela forma direta através de plebiscitos quando assim entender prudente, conveniente o Congresso Nacional, que tem o monopólio da função de mobilizar esses plebiscitos. Em interesse eu acho o problema brasileiro muito grave, mas acho que temos solução para fazer e por isso estou animado com a população de oferecer ao povo brasileiro essa alternativa de um modelo, de um novo modelo de desenvolvimento com justiça social. (aplausos).


Leia as íntegras:

  • 1. Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

  • 2. Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita

  • 3. Collor está se vingando de mim, diz Ciro

  • 4. Ciro fala sobre o acordo com o FMI

  • 5. Ciro fala sobre permanência de Fraga no BC em seu governo

  • 6. Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15

  • 7. Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda

  • 8. Ciro fala de Alca, Mercosul e política externa

  • 9. Ciro responde a leitores sobre segurança e elo com Collor

  • 10. Ciro responde pergunta sobre sua formação e drogas

  • 11. Ciro responde leitores sobre educação e cultura

  • 12. Ciro fala sobre reforma agrária e confisco de poupança


  • Especial Eleições 2002
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