Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/08/2002 - 15h54

Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita (íntegra 2)

Publicidade

da Folha Online

Leia abaixo a primeira parte da sabatina com o candidato Ciro Gomes. Nesse trecho ele responde às primeiras perguntas dos jornalistas Eleonora de Lucena, editora-executiva da Folha, Clóvis Rossi e Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, e Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor-adjunto de Redação do jornal "Valor".
Nesse trecho ele fala de sua ligação com Antonio Carlos Magalhães e sobre a suposta necessidade de apoios de vários setores para fazer reformas.

Clóvis Rossi: Obrigado Ciro. Eu vou me rogar o direito democrático de, como mediador, fazer a primeira pergunta, e como manda qualquer manual de jornalismo, nós vamos fazer um dossiê, no bom sentido, sobre Ciro Gomes antes de nos apresentarmos aqui. Tem uma coleção formidável de frases que põem em discussão exatamente o que você falou sobre a política como linguagem para voltar a ter credibilidade. Uma das frases, de setembro de 99, sua, é a seguinte: "Tudo o que não presta na história republicana tem o ACM". Essa frase continua valendo hoje em que a candidatura Ciro Gomes também tem o ACM?
Ciro Gomes: Não vale porque isso foi num momento de enfrentamento. Eu tenho, como você mesmo testemunhou na minha introdução, 20 anos de militância na vida pública brasileira, fui colega dele como governador, tenho centenas de referências positivas a ele, o que nem sempre quer dizer que nós estivemos de acordo. Mas houve um momento particular em que nós tivemos um enfrentamento pessoal azedo ao redor de uma questão que eu critiquei muito pesadamente, que foi o Proer, como o socorro ao banco Econômico. A reconciliação é um valor positivo. Eu acho que se essa reconciliação se dá ao redor de interesses superiores, do interesse nacional e a convicção que eu tenho... Nesse ínterim, o que aconteceu? Ele rompeu... era um dos eixos de sustentação do modelo que eu criticava, rompeu e foi para a oposição. Deu-se então a possibilidade de uma convergência, de uma reconciliação pela qual não me envergonho porque não está envolvido aí nada de subalterno.
Eleonora de Lucena: Candidato, antes mesmo de uma reconciliação, o senhor lembrou a sua trajetória política, o senhor começou em 82 como deputado pelo PDS, que à época era auxiliar da ditadura militar, e hoje o senhor está com o ACM, que é um ministro com longos serviços prestados ao mesmo governo militar. Isso é uma incoerência? O senhor é o candidato da direita no Brasil hoje?
Ciro Gomes: Meu projeto é de centro-esquerda, minha formação e minha prática são de centro-esquerda, mas o nosso projeto, para se aperfeiçoar, dado o que está determinado na Constituição brasileira, exige 3 em cada 5 deputados federais e senadores. Não há nenhum bloco na oposição brasileira hoje que tenha a capacidade de hegemonizar solitariamente um processo de reforma constitucional. Portanto, ao redor desses temas, a minha aliança não tem interdição nenhuma, até porque eu reconheço uma certa direita nacional, aquela que está vinculada a nossa economia rural, a nossa base produtiva nacional, o pequeno e médio empresários que têm uma tendência conservadora no espectro ideológico, mas que esse modelo neoliberal levou a um stress, a uma ruptura, que os predispõe a um caminho progressista.
Eleonora de Lucena: O senhor é candidato de uma da direita, o senhor diria?
Ciro Gomes: Não, eu sou candidato de centro-esquerda.
Clóvis Rossi: Essa explicação que você está dando eu ouvi do presidente Fernando Henrique Cardoso no final de 94, em plena campanha e pelo menos nos primeiros meses do governo dele, e até se cunhou uma expressão, que é a ditadura dos 3/5, um jargão usado na política brasileira. E deu no que deu. Os aliados eram muitos dos mesmos que estão com você. Bornhausen...
Ciro Gomes: A esse tempo todos eram muito bem referidos, muito bem respeitados. É impressionante como...
Clóvis Rossi: Não por mim.
Ciro Gomes: Não digo por você, mas a média da grande imprensa brasileira, sempre muito sensível ao argumento da propaganda oficial. A questão básica e você pode recolher no dossiê aí se houver equilíbrio no dossiê, muitas vezes eu fui levado a refletir sobre esse arco de alianças do governo Fernando Henrique e eu dizia exatamente o que digo hoje: essa aliança tem uma contradição que só se supera se a hegemonia moral e intelectual for afirmativa. Se é um projeto reúne alho, bugalho, gato, pato, cachorro, para fazer o rumo correto do país isso se legitima absolutamente de forma instantânea, senão nós estaríamos rompendo com uma tradição da própria linguagem democrática. Estaríamos repudiando momentos heróicos da vida internacional, por exemplo, quando franquistas, que participaram do genocídio, de uma guerra civil, reuniram-se com os progressistas espanhóis no palácio de la Moncloa para fazer o pacto que ficou de paradigma, de referência para o mundo. Agora mais perto os chilenos, reunidos ex-pinochetistas com os socialistas com o sangue do [Salvador] Allende [ex-presidente do Chile] nas mãos ao redor de um projeto de fortíssima base popular.
Clóvis Rossi: O Chile não é bem assim ...
Ciro Gomes: Não é bem assim, como?
Clóvis Rossi: No Chile a convergência foi entre os opositores da ditadura do Pinochet...
Ciro Gomes: Não é verdade, não.
Clóvis Rossi: E que excluiu necessariamente...
Ciro Gomes: Desculpa, Clóvis, mas no Chile a transição aceitou dar ao Pinochet e mais a um grupo de pessoas um mandato biônico de senador.
Clóvis Rossi: Não, não foi.
Ciro Gomes: Eu acompanho o Chile.
Clóvis Rossi: Eu acompanho há mais tempo que você.
Ciro Gomes: Tá bom, você tem 15 anos a mais do que eu.
Clóvis Rossi: Essa Constituição que deu mandato biônico ao Pinochet foi imposta pela ditadura e não pela transição.
Ciro Gomes: Não, mas eles aceitaram perfeitamente...
Clóvis Rossi: Não podiam modificar porque os senadores eram biônicos, não tinham maioria...
Ciro Gomes: Sim, mas eles aceitaram essa transição. A discussão da esquerda ortodoxa lá do partido comunista pôs essa questão bastante claramente em cheque. Nós vamos agora fazer duas coisas. Primeiro: fazer de reconciliação e de um processo de construção de um amplo diálogo nacional ser demarcado por interdições...
Gilberto Dimenstein: Não é, a questão é o peso da palavra.
Ciro Gomes: Segundo: é simplesmente inviabilizar qualquer reforma no país. Da Bahia, por exemplo, vêm 26 deputados federais e 3 senadores.
Eleonora de Lucena: Então os pefelistas, o ACM, se estou entendendo bem o que o senhor está dizendo, há um grupo que se identificou, que se identificava com o Pinochet...
Ciro Gomes: Não estou fazendo isso, por favor, isso é uma intriga bem ao modo da Folha de S.Paulo. (aplausos).
Eleonora de Lucena: Mas eu queria saber...
Ciro Gomes: Se você quer comparar faça você a sua comparação. Eu estou dizendo, para sustentar um valor...
Eleonora de Lucena: Mas foi o senhor que trouxe essa colocação...
Ciro Gomes: Não, mas eu vou interrompê-la agora porque você pôs palavras na minha boca, só nessa circunstâncias eu me permito interromper.
Eleonora de Lucena: Eu perguntei se o senhor estava nessa colocação porque o senhor trouxe o Pinochet na mesa...
Ciro Gomes: E eu estou imediatamente replicando porque isso é uma intriga que não tem fundamento. O que eu estou dizendo, para sustentar uma tese, é que reconciliação é um valor bom, não é um valor negativo. A capacidade de somar forças diferentes para construir um projeto claro, que tem o objetivo de devolver ao país instituições que permitam crescer, recuperar a soberania nacional, enfrentar a distribuição de renda perversa e o fato de o país estar de joelhos diante da agiotagem nacional, mais do que justifica, pede uma ampla capacidade de somar forças com todas as tendências.
Eleonora de Lucena: O que eu estou perguntando é se há realmente esse processo de reconciliação porque a adesão do PFL, o desembarque do PFL na sua candidatura, na sua campanha, me leva a perguntar quem vai ter hegemonia nesse grupo...
Ciro Gomes: Eu.
Eleonora de Lucena: ...porque o PFL, em todas as vezes em que se aliou a um governo, ele sempre foi governo, ele sempre foi hegemônico, ideologicamente hegemônico. Então eu pergunto, eu acho que é legítimo perguntar se o PFL, desembarcando na sua campanha, não vai dar o tom e o governo não vai ser, novamente, aliado das idéias conservadoras, legítimas, que representam uma parcela da sociedade desse partido. É isso que estou perguntando.
Ciro Gomes: Essa é uma questão legítima, agora nós precisamos repor a história para além da mistificação grosseira que dominou parte da elite brasileira. Primeiro: o PFL não está coligado comigo. Eu tenho um pedaço do PFL que rompeu com o governo. O PFL de São Paulo apóia o candidato do governo. O PFL do Rio de Janeiro apóia o candidato do governo. O PFL do Paraná apóia o candidato do governo. O PFL do Piauí apóia o candidato do governo e eu tenho a banda que rompeu com o governo, o que não lhes faz neutros, é um processo em que eles rompem com o governo, isso é histórico, está marcado para toda a sociedade brasileira saber, e vem incondicionalmente apoiar a mim. Segundo: aquilo que eu dizia em relação ao Fernando Henrique reafirmo para mim. O problema nunca foi a hegemonia do PFL no governo. Isso é uma concessão completamente descabida. Toda a política econômica passou longe de qualquer influência do PFL. Todas as agências de financiamento, o centro do poder no Brasil, passaram longe do PFL. Isso foi uma coisa preservada pessoalmente para o grupo do atual presidente da República.
Gilberto Dimenstein: O PFL era dissidente?
Ciro Gomes: O resto é álibi. Não, não era dissidente.
Gilberto Dimenstein: E o Antônio Carlos Magalhães rompeu por alguma ideologia em relação ao governo?
Ciro Gomes: Rompeu porque tem uma fissura na base social brasileira. Tem amplos setores da sociedade brasileira...
Gilberto Dimenstein: Mas o Antônio Carlos Magalhães estava preocupado com isso ou com a briguinha que ele teve com o Jader Barbalho que acabou levando...
Ciro Gomes: Briguinha chama você, o atual governo elegeu por unanimidade do PSDB, com o apoio do candidato a presidente do governo, o senhor Jader Barbalho presidente do Congresso Nacional. Isso foi o que aconteceu. E eles romperam. Isso não é briguinha. (aplausos). Essa é uma hora de tantas atitudes polêmicas do senhor Antônio Carlos Magalhães.
(Platéia se manifesta)
Clóvis Rossi: Por favor, você terá a chance de fazer suas perguntas, por favor.
Ciro Gomes: Tudo bem, você pode fazer a pergunta que quiser. Eu estou apenas particularizando, para mim não tem problema nenhum a platéia fazer. O que eu estou dizendo é que o Gilberto chamou de briguinha foi um enfrentamento de forte conteúdo republicano. Agora se o Antônio Carlos é uma personalidade polêmica, que a Bahia resolva.
Eleonora de Lucena: Não foi só porque o Antônio Carlos não conseguiu fazer o candidato à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso? Quer dizer, o candidato oficial era de uma outra...
Ciro Gomes: Não sei.
Eleonora de Lucena: ...de uma outra inclinação?
Ciro Gomes: Vamos passar esse tempo inteiro discutindo essa mesquinharia? (aplausos).
Gilberto Dimenstein: Como, é mesquinharia?
Ciro Gomes: Porque daqui não sai mais nada. Eu sou candidato a Presidente da República e quem vai me julgar é a sociedade brasileira. Eu sou candidato a presidente da República e posso afirmar, a hegemonia moral e intelectual do processo está firmada no programa, eu tenho uma biografia e vou ganhar ou perder conforme a sociedade me julgar. O que não pode é um facciosismo em que, enquanto o Antônio Carlos é da linha oficial, todo mundo vê os seus aspectos positivos.
Gilberto Dimenstein: Todo mundo, não.
Clóvis Rossi: Todo mundo, não.
Ciro Gomes: A esmagadora maioria.
Gilberto Dimenstein: Aqui, não.
Clóvis Rossi: Quem elevou reconciliação ao patamar de uma das grandes coisas da sua futura gestão foi você, não fui eu.
Ciro Gomes: Sou a favor da reconciliação.
Clóvis Rossi: Não é uma bobagem, ao contrário do que você falou.
Ciro Gomes: Eu sou completamente, defendo, assim, com entusiasmo, como atitude de vida. Briga para mim não é uma coisa que eu gosto, só faço as que não posso evitar.
Gilberto Dimenstein: Agora, seu eleitor não tem o direito de saber tudo, na medida em que o Antônio Carlos faz parte da campanha, se ele vai ter uma fatia do governo no momento em que você for presidente? Não vai ter ministério, secretaria, ele está totalmente alijado?
Ciro Gomes: Não está alijado nem vai ter.
Gilberto Dimenstein: Então ele pode ter um dedo... (risos).

Leia as íntegras:

  • 1. Leia íntegra do início da sabatina e a apresentação de Ciro

  • 2. Ciro fala do apoio de ACM e de setores da direita

  • 3. Collor está se vingando de mim, diz Ciro

  • 4. Ciro fala sobre o acordo com o FMI

  • 5. Ciro fala sobre permanência de Fraga no BC em seu governo

  • 6. Ciro diz que dólar vai cair a partir do dia 15

  • 7. Ciro fala sobre inflação e distribuição de renda

  • 8. Ciro fala de Alca, Mercosul e política externa

  • 9. Ciro responde a leitores sobre segurança e elo com Collor

  • 10. Ciro responde pergunta sobre sua formação e drogas

  • 11. Ciro responde leitores sobre educação e cultura

  • 12. Ciro fala sobre reforma agrária e confisco de poupança


  • Leia mais
  • Leitores esperam que Ciro esclareça pontos econômicos de coligação


  • Lula 'foge' de pontos centrais e ataca só Ciro na 1ª sabatina da Folha


  • Especial Eleições 2002
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade